26 outubro 2006

Devaneios...

Para Gardenal,

O que será preciso fazer para ser compreendido?
E se soubermos fazer o que for preciso - seja lá o que for - o que será compreendido?
O quanto mais de paixão será preciso para voarmos? O quanto de precisão teremos ao voarmos?
Onde?

"Eles não sabem o que querem e querem o que não sabem"

O que será preciso para compreender?
E se soubermos fazer o que for preciso - seja lá o que for - será bom saber?
O quanto mais de paixão eles precisam para querer voar? E se voarem...
Onde?

Com o tempo muda... as pessoas mudam... são só sonhos....

Sei que amo muito e acredito em fadas.
O que fazer quando as pessoas não acreditam?

19 outubro 2006


"A mulher mais linda do mundo não parece em nada com a Nicole Kidman (o branco dos olhos, talvez), que é a segunda ou a terceira mulher mais linda do mundo.
A mulher mais linda do mundo fala mansinho feito uma menininha brincando de boneca, e desafina ao cantar "Eu Sei Que Vou Te Amar". Quando doente fica meio verde, e torce a boca para o lado esquerdo quando está insatisfeita.
A mulher mais linda do mundo come feito gente grande, mas é magra de ruim; de uns tempos pra cá vem engordando um pouquinho - o que, confesso, a torna ainda mais linda.
A mulher mais linda do mundo usa um perfume com cheirinho de criança, e não sei se isso é sintoma de uma possível pedofilia minha, mas ainda assim é um perfume meio sexy.
A mulher mais linda do mundo acorda uma hora e meia mais cedo só para esticar o cabelo, que nem precisava ser esticado, e fica lá... secador, chapinha, pente...
A mulher mais linda do mundo tem duas covinhas no queixo que aparecem quando ela ri. Tem duas nas costas também, mas deixa pra lá, hehehe...
A mulher mais linda do mundo sabe dar golpes de Jiu Jitsu quando convem, e às vezes se prende a mim feito uma preguiça na árvore.
A mulher mais linda do mundo tem um vestidinho rosa, muitas bolsas e uma melissa dourada para pôr no pezinho mais lindo do mundo.
A mulher mais linda do mundo ronca quando está cansada, e mexe a cara toda quando dorme.
A mulher mais linda do mudo faz coisas que ninguém que olhe para aquele rostinho inocente acreditaria...
A mulher mais linda do mundo às vezes conversa comigo como se fosse minha mãe, ou então uma amiga muito antiga, ouvindo minhas besteiras, falando outras tantas.
A mulher mais linda do mundo tem a menor boca do mundo, acho, mas o maior beijo, tenho certeza.
A mulher mais linda do mundo talvez não seja a mais bonita do mundo, mas às vezes deixa meus olhos cheios de lágrimas ao dizer coisas lindas, ao me tornar o homem mais feliz do mundo, ao ser a minha namorada, a minha mulher.

Eu e Vinicius de Moraes

"Se a felicidade existe, eu só sou feliz enquanto me queimo e quando a pessoa se queima não é feliz. A própria felicidade é dolorosa."
Vinicius de Moraes


Eu tenho certeza de que o que eu sinto pelo Vinicius de Moraes é uma forma de amor inexplicável. Uma admiração profunda, respeito, uma certa inveja até, com uma pitada de dó - não deve ser fácil ser poeta assim.
Não lembro quando eu 'conheci' Vinicius. Não lembro quais foram os primeiros versos que li, as primeiras músicas que ouvi... sei que quando estava no primeiro ano do Ensino Médio, uma amiga emprestou uma biografia enorme dele, da qual li alguns trechos pulando muita coisa, mas fui me envolvendo por aquela paixão toda... sei lá. Já havia lido diversos poemas dele, e era bem capaz de já nessa época eu ter decorado o Soneto de Fidelidade. Mas foi com o tempo que eu realmente passei a amá-lo.
Há pouco tempo comprei um DVD com uma espécie única de documentário com requintes de tudo que envolve a sétima arte. Músicas cantadas por diversos intérpretes, depoimentos, imagens dele já bem velho, bêbado... tanta coisa linda!
É preciso confessar, também, que muito de todo fascínio e amor envolve uma certa incompreensão - eu não consigo imaginar como um poeta assim se casa nove vezes. Escrever coisas tão lindas para pessoas diferentes, sentir sempre esse amor, esse 'precipício da paixão', como dizem no DVD.
Toda vez que eu bebia whisky, pensava em Vinicius. Fui num "Tributo a Vinicius de Moraes" no meu bar preferido dentre todos de Sampa (o Bar do Tinóia), e bebi tanto que mal lembro como cheguei em casa. Quando voltei lá alguns dias depois, a garçonete, já amiga de outros porres, me chamava de chorão, porque eu bebia, cantava e chorava, apaixonado, deslumbrado, com saudades dele. Não teve um gole de whisky em minha vida toda em que eu não lembrasse de Vinicius ou citava: "o whisky é o melhor amigo do homem". Eu não bebia com meus amigos ou mesmo sozinho. No fundo, eu bebia com o Vinicius.
São vários os poetas que são importantíssimos na minha vida. Eu li muito mais o Fernando Pessoa do que o Vinicius, sem sombra de dúvidas. Mas talvez pela proximidade cronológica, talvez pelas músicas, pela voz, pelas imagens...
Eu e a Sheila nem marcamos casamento, mal sabemos o que vamos fazer nesse fim de semana - sabemos somente que nos amamos e vamos ser felizes juntos. Mas se tivermos um filho, ele se chamará Vinicius. Isso já está definido (já com o consentimento dela, óbvio, hehehe).

17 outubro 2006

>: 4 - 8 - 15 - 16 - 23 - 42

Estou lendo "Os Porcos Espinhos de Schopenhauer", livro de uma psicóloga americana chamada Deborah Anna Luepnitz. O livro até que é legal, e destaca o papel do diálogo nas relações humanas.
Tenho vários comentários a fazer sobre o livro, mas eu estava pensando era no papel dos monólogos em nossas vidas; sobretudo esses que faço aqui.
Escrevendo ou somente pensando passo a entender muitas coisas sobre mim. Chego às vezes a arriscar diagnósticos sobre alguns comportamentos, algumas atitudes. Depois penso se sou eu a pessoa mais adequada para 'me entender'. Confesso que sou muito íntimo de mim mesmo (hehehe), mas o que seria 'se entender' ou 'se conhecer'. Criar-se?
Não são muitas as dúvidas sobre meus quereres, meus deslumbres, meus fascínios, meus desejos. Meus sentimentos foram sempre muito bem desenhados, os problemas que tive se davam na questão dos ritmos e dos diálogos. Aquela música do Caetano: "onde voas bem alta eu sou o chão / E onde pisas no chão minha alma salta, e ganha liberdade na amplidão". Precisava olhar pro lado (estivesse eu no céu ou no chão), e ver a pessoa que amava ali; se eu não visse, saía de cena sem nenhum peso na consciência. Com minha atual namorada – mulher da minha vida, futura esposa - consigo sincronizar essas coisas através de muito diálogo, com requintes de filosofia alemã. Tudo é muito discutido e esmiuçado, daí o sincronismo.
No entanto, nada me tira esse impulso de escrever, de criar monólogos em busca de conhecer-me ou criar-me. Às vezes está tudo certo e eu fico pensando sobre o certo, o que é certo e errado. Algumas coisas que faço naturalmente, posteriormente são analisadas com frieza, como que por outra pessoa – um outro eu que pensa mais.
Não há uma razão específica para escrever, para pensar sobre coisas que passam batidas na vida de outras pessoas. Mas é uma espécie de necessidade... sei lá...
Na segunda temporada de Lost eles descobrem uma espécie de Bunker que chamam de escotilha. Dentre dezenas de outras coisas, lá dentro tem um computador onde precisam ser digitados uns números (cheios de histórias esses números¹) a cada 108 minutos, caso contrário algo muito sério aconteceria. Depois dois dos personagens descobrem que isso não tinha função alguma, e essa escotilha era observada duma outra escotilha cuja função era relatar o comportamento das pessoas incumbidas de digitar o número. Eles escreviam relatórios e os colocavam num tubo que enviava para a 'matriz' onde seria analisado. Episódios depois, vemos uma pilha desses relatórios atirados pelo tubo no meio do mato, sem passar por análise alguma. Nem uma escotilha nem outra tinha função de verdade. Mas e o medo de parar de digitar o número? Escrever os relatórios? Como saber? Mesmo sabendo que os números digitados poderiam não ter função, um dos personagens não quer parar.
Penso que escrever e uma dezena de outras coisas na vida de outras pessoas é exatamente assim.

(Não queria dizer agora, ia deixar pra um texto específico que vou escrever depois: Lost é foda. Quando comecei a escrever nem lembrava desses episódios, então eles surgiram pra me ajudar a andar com o texto.)

¹ Os números que precisam ser digitados são: 4, 8, 15, 16, 23, 42 - que servem de título a esse texto.

Observação: há um livro de George Orwell (Autor de 1984 e A Revolta dos Bichos) chamado "Keep The Aspidistra Flying", que traduziram ora como "Moinhos de Vento", ora como"Mantenha o Sistema". Aspidistra é uma planta que na terra de Orwell é equivalente às Samambaias aqui: sempre ficam bem num escritório (Ed Mort quando ganhou dinheiro comprou uma pro escri, depois ficou pobre novamente e a comeu). Manter a aspidistra voando tem a ver com o que eu disse aqui. Algo assim.

12 outubro 2006

Caetaneando...


Não tive coragem de pagar mais de R$ 34,00 no CD novo do Caetano Veloso. Peguei no emule e estou ouvindo no meu MP3 Player nesse exato instante.
Ainda que com tiradas ótimas, as entrevistas de Caetano me desagradaram pelo discurso de linchamento ao presidente Lula. Soa muito conveniente vindo de um cara que ainda esse ano fez um pocket show de inauguração dum grande empreendimento pros lados da Marginal Pinheiros, que envolve um prédio cuja cobertura custará mais de R$ 18 milhões – a mais cara cobertura do país. E o show no Hotel Fasano, à época do CD A Foreign Sound, com ingressos por mais de R$ 500,00??? Pra quem falou tanto da “BurGUÉsia paulista” quando João Gilberto foi vaiado ao lado dele...
Enfim... às músicas:
Gostei do CD. Aliás, gosto muito de Caetano Veloso – o poeta e cantor. Causa estranheza a levada Rock (ou seria melhor dizer a ‘simplicidade’) das músicas e a ausência da produção e do violoncelo de Jaques Morelembaum. Mas é bom ver um compositor de clássicos cantando:
“ce foi mesmo rata demais
meu grito inimigo é:
você foi mor rata comigo
você foi concreta e simplesmente
rata comigo demais”
Caetano é um poeta no sentido visceral da palavra poeta (se é que ser visceral dá mais sentido a algo, mas deu vontade de dizer assim). Já ouvi Caetano cantando e compondo sambas e rocks, criando novas versões para clássicos (como em Come as You Are ou Help), escrevendo, dirigiu um filme décadas atrás... Ele tem a inquietude típica de todo grande criador, não faz parte desse mundo de conveniências.
Em suma, é um louco como outro qualquer.
E eu gosto muito de gente louca.

Obs.: A música que tá tocando nas rádios, "Não me Arrependo", é uma das melhores do CD. Mas "O Herói" é fantástica:

(...)
não quero jogar bola pra esses ratos
já fui mulato, eu sou uma legião de ex mulatos
quero ser negro 100%, americano,
sul-africano, tudo menos o santo
que a brisa do brasil briga e balança
e no entanto, durante a dança
depois do fim do medo e da esperança
depois de arrebanhar o marginal, a puta
o evangélico e o policial
vi que o meu desenho de mim
é tal e qual
o personagem pra quem eu cria que sempre
olharia
com desdém total
mas não é assim comigo.
é como em plena glória espiritual
que digo:
eu sou o homem cordial
que vim para instaurar a democracia racial
eu sou o homem cordial
que vim para afirmar a democracia racial

eu sou o herói
só deus e eu sabemos como dói

11 outubro 2006

"Ainda hoje a minha queixa está em amargura; o peso da mão dele é maior do que o meu gemido. Ah, se eu soubesse onde encontrá-lo, e pudesse chegar ao seu tribunal! Exporia ante ele a minha causa, e encheria a minha boca de argumentos. Saberia as palavras com que ele me respondesse, e entenderia o que me dissesse. Acaso contenderia ele comigo segundo a grandeza do seu poder? Não; antes ele me daria ouvidos. (...)Eis que vou adiante, mas não está ali; volto para trás, e não o percebo; procuro-o à esquerda, onde ele opera, mas não o vejo; viro-me para a direita, e não o diviso. Mas ele sabe o caminho por que eu ando; (...)Mas ele está resolvido; quem então pode desviá-lo? E o que ele quiser, isso fará."

Eu também vejo semelhança com "O Processo" ou "O Castelo", de Kafka. Mas é do livro de Jó, o da paciência.
Dia desses vi um livro com o título de "História Universal da Angústia", algo assim... não lembro bem. Seriam os homens das cavernas menos angustiados que os modernos? Na bíblia há vestígios claros de angústia tipicamente moderna, como Salomão a dizer "nada novo sob o sol" no livro Eclesiastes.
Enfim... na verdade a grande novidade é eu estar lendo vez ou outra alguma coisa da Bíblia.
Ainda que eu tivesse contato desde a infância, há pouco tempo ganhei uma bíblia de presente de um Testemunha de Jeová que trabalha comigo. Alterno a leitura dela com habitués de minha biblioteca e o recém adquirido vício no seriado Lost, que estou no 4ºDVD da segunda temporada.
Inegável que a Bíblia tem uma sabedoria inexplicável. Coisas belíssimas e sábias, e outras tantas muito confusas. Me flagro deslumbrado com algumas passagens (como essa de Jó citada anteriormente), e não entendo como um livro pode gerar tanto preconceito de maus leitores.

10 outubro 2006

Camisa da empresa para fora da calça jeans manchada, All Star bege no pé. A um velho conhecido que olha meio esquisito, diz:
- Como diz um amigo meu que inventei - portanto não existe - mas que serve pra dizer as coisas que não teriam graça se fosse eu quem dissesse, hoje estou vestido de foda-se.
- Anh?
- Esquece.

09 outubro 2006

A Poesia e Eu

Inegável o papel da Poesia na minha vida. Vivo a poesia (no cinema, nos romances, nas músicas) de forma muito intensa, e não raro levo tão a sério um livro, que é como se ele fosse parte da minha vida. E quando criticado, me pergunto: por que não seria?
De acordo com Locke, o ser humano ao nascer é uma "tabula rasa" (algo como 'quadro em branco'); vai adquirindo conhecimento pelos sentidos, pela experiência. Fazer da Literatura ou do Cinema um pouco da própria vida, preencher, rabiscar essa “tabula rasa” com traços de poesia é tão válido quanto uma experiência dita "vivida". Eu consigo realmente VIVER um pouco pela poesia dum Fernando Pessoa, um romance do Kundera, Fausto Wolff ou Saramago.
Estabelecer hierarquia entre a vida ‘real’ e a da Arte pra mim é difícil sim. Uma conversa de boteco com um amigo que conheço há anos é tão válida quanto algo que li num livro, que vi num filme.
Não sei explicar a origem disso. Não sei a partir de quando passou a fazer sentido, a ser importante. O valor que a religião tem na vida de algumas pessoas é idêntico ao da poesia para mim (Diga-se de passagem que poesia não é somente versos, rimem ou não. Poesia é o que vemos num filme como Os Sonhadores, que lemos num romance como “A Insustentável Leveza do Ser”, que sentimos num devaneio filosófico dum Nietzsche, que ouvimos na músicas do Chico Buarque).

03 outubro 2006

Supostas Virgens

O problema da política brasileira não é a putaria que acontece em Brasília, seus vilões etc... Não é somente o caráter das putas ou dos vilões. O problema, já disse o senhor Mino Carta, é a qualidades das virgens. O que também me faz lembrar os versos que inspiraram o filme de Charles Kaufman:
“Feliz é o destino da inocente vestal
Esquecida pelo mundo que ela esqueceu
Brilho eterno da mente sem lembrança!”

Numa contestável tradução (contestável por quem sabe, diga-se de passagem; e eu não sei) de: “How happy is the blameless vestal's lot! / The world forgetting, by the world forgot. / Eternal sunshine of the spotless mind!”.
Sim, pois em qualquer canto nos deparamos com discursos exasperados contra Lula, falando de Moral e Ética num país que elege Maluf, Clodovil, Frank Aguiar, Collor, dentre outras figuras quase circenses - um circo de horrores. Isso sem falar nos alvoroçados tucanos a pregar com uma propriedade quase convincente, caso esquecêssemos os anos FHC com suas privatizações, votações compradas, dólar disparado, país economicamente quebrado... ah, me ofusca o brilho eterno dessa moral imaculada, totalmente sem lembranças.
Todos se acham no direito de julgar e condenar tendo como bandeira a moral e a ética, quando no fundo sentem é ódio de classe - abaixavam a cabeça para as barbáries do príncipe dos sociólogos da USP, e querem condenar Lula por ele ter sido operário e supostamente inferior intelectualmente. E não é.
No entanto, por mais que eu tenha me empolgado - eu e muitos outros - quando Lula assumiu o poder, por mais que eu simpatize com ideais da esquerda, não fecho os olhos e me renego a fazer um elogio ao governo Lula com sua política de esmolas, sua política econômica ridícula. Não. Mas se juntar aos atuais algozes do presidente, olhar ao redor e sem querer repetir o discurso do PSDB, do PFL do sr. Antonio Carlos Magalhães... não dá.
Acreditar na virgindade moral e ética dum PSDB há 12 anos em São Paulo, que governou o país durante 8 anos... Fala sério!
Comparados os resultados, Lula foi melhor que FHC, mas não foi o melhor governante que poderíamos ter. Nessa eleição, passei um bom tempo da campanha certo de votar na Heloisa Helena; mas a histeria dela nos debates e discursos me fez crer que o Cristovam Buarque era melhor. Votei no Cristovam, e meio resignado votarei no Lula agora. Roubos? Falcatruas? Com certeza houve algumas, mas já tão enraizadas no folclore político brasileiro que só apareceram por vontade da mídia, depois de muito Red Bull com Whisky.

Rio sozinho só de imaginar o alvoroço dessas supostas virgens diante de tanta sacanagem - imaginem só os gritinhos diante da foto dos milhões apreendidos pela Polícia Federal! Esse povinho dos e-mails exasperados, das contundentes apresentações em Power Point, das discussões dignas das salas de aula da Sorbone onde FHC lecionou, das passeatas na Paulista então! Será que foi num dia de semana? Com o que trabalham?

Ah... é tanta pureza, tanta moral, tanta ética!!!

26 setembro 2006

Eu e Deus - algumas considerações

É bem capaz que ainda criança eu tivesse problema com religiões. Nunca consegui estipular os limites do que hoje concebo como laico e o religioso. Dentro e fora da igreja as pessoas são sempre... pessoas.
Minha família é protestante, daí eu ter freqüentado diversas igrejas que se denominam 'evangélicas'. Cheguei a ir nalgumas missas com minha primeira namorada, que era católica; tempos depois freqüentei a Universal com essa mesma namorada (tudo isso num intervalo de 6 meses). Em ambas alguns excessos me causavam espanto: gritaria, lágrimas quase que desesperadas... muita confusão. O pouco de fé consciente que eu tinha se dava em silêncio, em paz, como quando criança eu pedia pra Deus proteger minha mãe quase todos os dias, e chorava sozinho ao imaginar que ela podia morrer; pouco depois ia brincar. Se ela se atrasava, a agonia começava novamente - o que prova que lembramos de Deus quando temos medo do mundo.
Meus primeiros 'problemas' com Deus se deram ao conhecer a Injustiça. Uma tia minha trabalhava na casa dum pastor cuja esposa poderia ser chamada de pilantra, e ainda seria um eufemismo. Aos 10 anos fiz um poema que falava sobre homens maltratando animais, e eu perguntava o porquê disso existir, como Deus deixava isso acontecer. Tempos depois conheci na escola a Inquisição e o Holocausto, e por um bom tempo cri que Deus e a Inquisição não podiam existir num mesmo mundo. Da Inquisição e do Holocausto eu tive certeza; de Deus eu já não tinha mais.Durante muito tempo vivi assim. Mas ainda havia aquilo: quando sentia medo do mundo, lembrava de Deus. Com o tempo fui conhecendo pessoas que freqüentam as mais diversas igrejas e são absolutamente sem caráter, por isso nunca mais me interessei por nenhuma. Sempre respeitei, obviamente, mas me é indiferente.
Não tive e não tenho certeza alguma sobre coisa nenhuma. A própria bíblia diz: "em parte conhecemos e em parte profetizamos. Porém, quando vier o que é perfeito, o que está em parte será aniquilado".
Foi há pouco tempo que descobri a liberdade de escolha de todas as pessoas, por isso aprendi: há liberdades individuais que ferem a liberdade dos outros. O contrário disso – a consciência e o amor ao próximo, à liberdade do próximo – na minha opinião se chama Cristianismo. Aprender isso foi uma espécie de ‘reconciliação’ com Deus.
As coisas ruins que aconteceram na minha vida foram erros meus. Escolhas erradas. As coisas ruins não acontecem para sermos punidos ou testados. O teste se dá na escolha. Tudo são escolhas, mesmo a felicidade. No entanto, algumas coisas exigem bastante paciência.
(Parágrafo pra reflexão: não sei como coisas ruins podem acontecer com uma criança, por exemplo. É inconcebível uma criança ser maltratada, passar fome, sede... ela não pode ter escolhido isso. Então quem escolheu? Isso sem falar nos milhões de miseráveis pelo mundo afora...)
Confesso que entre a felicidade simples e a angústia de querer saber mais que o necessário, escolhi a segunda para muitas coisas.
Não tenho medo da morte. Mas a hipótese de ficar sem as pessoas que amo me é absolutamente apavorante. Não há fé que entenda a perda de uma pessoa amada. Haverá sempre uma revolta, mesmo que momentânea, contra Deus.
Sem dúvidas, Jesus foi uma das pessoas mais maravilhosas que existiu. Tanto foi um ser humano, que disse na cruz: meu pai, meu pai, por que me abandonaste? (citado em Mateus e Marcos como Eloí, Eloí, lemá sabactáni?)*. O maior dos homens teve dúvidas, quem sou eu para ser diferente?
Talvez querendo ser a ovelha desgarrada pra chamar atenção, durante muito tempo fiz questão de seguir o ‘caminho errado’ – e essa coisa de ‘caminho’ varia de pessoa pra pessoa. Fiz coisas que não sei como consegui voltar.
Continuo rebelde, revoltado com muita coisa. Também é uma escolha: nunca vou me conformar. Isso me torna um pouco infeliz, é fato. Mas ultimamente sinto uma paz que não sentia há tempos. Desisti da busca pretensiosa de um ‘conhecimento de Deus’, e passei a ver nalgumas coisas presentes e passadas um certo amor de Deus.
Sempre me pergunto se estou errado, se preciso provar para alguém o que sinto com relação ao mundo, com relação a Deus. Acho a fé fundamentada religiosamente uma das coisas mais perigosas do mundo - tanto quanto o ódio, vide os conflitos no Oriente Médio. Diz a bíblia que a Fé é capaz de mover montanhas. Hoje o que mais vejo é a Fé utilizada para julgar e excluir.
Não acredito no Deus do qual essa Fé se apropriou.
Não tenho dúvidas de que preciso de uma proteção e uma força que eu não conseguirei sozinho, e não tirarei da Filosofia ou da Literatura. Não busco respostas para perguntas complicadas (ainda que elas se façam quase que inconscientemente), mas sim fazer da minha vida algo que justifique, ao menos, eu ter saúde e sabedoria o suficiente pra ter escrito as coisas que escrevi – por menos ‘sábias’ que essas coisas sejam.
Se eu me considero um "homem de Deus"?
Sim.
Mas ainda assim, diante das Injustiças que ocorrem no mundo, faço ecoar as “Vozes d’Africa” escritas por Castro Alves:

“Deus! Ó Deus, onde estás que não respondes?!
Em que mundo, em qu'estrela tu t'escondes,
Embuçado nos céus?
Há dois mil anos te mandei meu grito
Que embalde, desde então corre o infinito...
Onde estás, Senhor Deus?!...”

Nada me tira o direito de pensar, de cobrar, de perguntar, de querer mudar o mundo - mesmo quando essa mudança se faz somente dentro de mim.

Fé não é silêncio, Fé não é preconceito, Fé não é julgamento, não está nas roupas que visto, nas músicas que ouço, nos livros que leio, nas Igrejas que não freqüento, nas orações que não sei fazer.

Só eu e Deus sabemos a dor e a delícia de dizer, sentir e escrever essas coisas. Ninguém mais.

*Na época do meu querer-ser-ateu li muita coisa da Bíblia e um livro de apócrifos. Na época esse trecho me marcou muito, e lembro de tê-lo utilizado no debate duma aula de filosofia sobre religião.

11 setembro 2006

O Show do Chico Buarque

No fundo eu já sabia. Já saí de casa com a palavra na cabeça: deslumbrante. É esse o resumo do show do Chico Buarque.
Sentei na quarta fileira de mesas, bem perto do palco. Minutos antes a ansiedade era tanta que eu dava beliscões na minha namorada. Não me continha. Seguindo a velha máxima "o que é um peido pra quem tá cagado?", pedi uma garrafa de vinho italiano.
E o show não começava e as pessoas chegavam e outras pessoas andavam pra lá e pra cá no palco, sobem os músicos, apagam-se as luzes e eu ficando louco.
"Voltei a cantar..." é o primeiro verso da primeira música. Chico está no palco.
Essa eu não sabia cantar, mas as seguintes, quase todas. As músicas se conversavam, havia uma lógica ali... Creio ser impossível versos como "Ela faz cinema / Ela é a tal / Sei que ela pode ser mil / Mas não existe outra igual" não serem para a Marieta Severo. E tendo em vista a recente separação, os versos de Eu te Amo, "Ah, se já perdemos a noção da hora / Se juntos já jogamos tudo fora / Me conta agora como hei de partir" também o são. "Vou Voltar", ele canta em Palavra de Mulher e fecha com "Meu coração parece que perde um pedaço, mas não / Me leve a sério / Passou este verão / Outros passarão / Eu passo".
Fantástico. Tantas músicas! Tantas palavras! Tantas emoções! (Quase duas horas de show)
Já no bis, cantei "Quem te Viu, Quem te vê" de pé, caminhando de mãos dadas com minha namorada ainda mais pra frente do palco. A última, João e Maria, arrancou mais algumas lágrimas minhas e, por incrível que pareça, do próprio Chico, que passou dando a mão para os que estavam na beira do palco, com os olhos marejados. Todos estávamos.
Demais... demais....
As mulheres gritavam: “Lindooooooo...” ou “Chico, eu te amoooooooo” e eu me segurando pra não pegar mal; mas aqui, protegido pelo blog, confesso: eu amo Chico Buarque.
Desafinado? Ah... "mesmo mentindo devo argumentar: isso é bossa-nova, isso é muito natural". Um poeta fantástico, um sorriso cativante, um músico maravilhoso, e suponho uma pessoa igualmente maravilhosa.
Uma noite particularmente especial pelo Chico Buarque, pelas músicas, por tudo. E pela companhia, que não podia ser mais perfeita - ainda que de tanto eu falar: "fim de semana do Chico... viva o Chico..." não bastou o Buarque. O dela veio junto. E eu lembrava de outros versos do Buarque: "vamos viver agonizando uma paixão vadia, maravilhosa e transbordante feito uma hemorragia".
Mas há um limite entre vida e poesia.
Né?

01 setembro 2006

Declaração de Amor

Para Sheila,

Hoje eu queria fazer a mais linda declaração de amor. Mas são tão pequenas as palavras, e tão grande meu amor!
De um jeito diferente queria escrever, por exemplo, que você é linda, e que eu sonho sempre com o nosso futuro juntos. Ah, mas quais palavras usar?
Queria que você soubesse, sem sombra de dúvidas, que é a mulher da minha vida, que me completa, me faz feliz, me realiza.
Lembrar que eu escrevi, muito antes de namorarmos, o texto sobre a "pessoa feitinha" pensando em você; quem sabe então você começasse a enxergar a Sheila que eu amo tanto, que é feitinha pra mim em tudo.
Descrever com precisão cada pequeno detalhe que te faz perfeita, cada acorde de sua voz que me agrada tanto, cada gosto, cada cheiro, cada toque. Queria desenhar, com um quê surrealista, a mulher que você mal se sabe, a menina que me cativa.
Dizer que nunca vou te machucar, nos trair. Que "de tudo ao meu amor serei atento antes", que sou seu para sempre. Só seu. Que dedico minhas maiores forças pra te fazer feliz - e no entanto às vezes você parece tão triste, tão sem chão... Imagine se eu não quisesse sua felicidade ou te magoasse?
Jurar que desde já estou com você em tudo, na alegria, na tristeza, na saúde, na doença, na riqueza, na pobreza, na TPM, na semana de provas, nas segundas-feiras, nos feriados...
Prometer que se eu tivesse que escolher entre você e o show do Chico, eu escolheria você (mas pensaria muuuuuito antes de fazer isso).
Dizer, enfim, que te amo, e sei que vou te amar.
Mas quais palavras usar? Preciso te ver...

29 agosto 2006

Ao ler o texto anterior

Confesso que escrevo por prazer, e sinto um prazer quase narcisista ao ler algumas coisas minhas. Com o tempo os textos ficam quase totalmente destituídos de sentido, mas mantém um certo requinte que às vezes me faz acreditar que sei escrever.
Porém não sei se escrevo exatamente como penso, ou se penso como quem vai escrever depois. Mas não tenho dificuldade em passar algumas idéias pro 'papel'(entenda 'monitor'). No entanto, algumas idéias se desgastam com o tempo.
Se hoje eu fosse escrever sobre Freud, conseguiria dizer várias coisas, mas não lembraria desses conceitos todos expostos no texto abaixo. O Sartre ocupa um espaço maior, e é até capaz de eu conseguir ir mais longe.
E confesso: quase não tive saco pra ler tanta besteira... Mas parece escrito por alguém que sabe o que está falando. Mas na verdade nem li “A Interpretação dos Sonhos”... alguns trechos só...
:D

Besteiras Aleatórias: Linguagem e Consciente

De algum tópico de discussão no orkut, também perdido na minha HD...


"Seria interessante que agora analisássemos o papel da linguagem no inconsciente (para não fugir da idéia de tese / antítese / síntese).
Em A Interpretação dos Sonhos, Freud esmiúça bastante o papel da linguagem, e da ‘condensação’ da mesma no inconsciente. Afirma que o sonho em si é um conteúdo manifesto de algum desejo, ou a continuação de algo que não foi terminado em vigília. Esse desejo, ou tentativa de continuação, seria o que ele define de ‘conteúdo latente’ do sonho.
Partindo desse ‘conteúdo latente’, o inconsciente usa de algumas artimanhas para chegar onde quer (ex.: condensação e deslocamento onírico). Eis o sonho, ou parte manifesta dele. Os sonhos então são divididos em inteligíveis, desnorteadores e o sonho ‘destituído de sentido’. Poderíamos concluir dizendo que o sonho é a linguagem do inconsciente. Seria estúpido, mas poderíamos parar por aqui.
Mas, como bons pensadores que somos, e por estarmos acordados, surgem mais dúvidas, e então poderia dizer que A Interpretação dos Sonhos de Freud é um conteúdo latente, que faz meu consciente usar de determinadas artimanhas (as artimanhas do consciente poderiam ser a ironia, as metáforas, eruditismos, etc), ou que A Interpretação dos Sonhos é uma artimanha que uso para manifestar o conteúdo latente nascido da questão consciente e linguagem, ‘postado’ no Orkut.
Ainda usando Freud, também poderíamos dividir a relação consciente / linguagem entre inteligível, desnorteadora e destituída de sentido.
A primeira – inteligível - , seria a linguagem utilizada na ciência. Uma coisa é ciência quando tem um objeto de estudo, um método, e uma linguagem universal que todos poderiam entender, e que pode ser testada.
Uma linguagem desnorteadora seria a Arte. Toda a Arte é feita de conteúdo latente, ou até mesmo latejante, pra soar mais poético. Aqui o consciente usa de muitas artimanhas (escultura, pintura, literatura, música, etc). Seria óbvio citarmos Salvador Dali, o mais desnorteador dos artistas. Qual o conteúdo latente da Arte? Para isso existe uma outra comunidade no Orkut chamada Psicologia da Arte, ou coisa parecida. Podemos nos encontrar lá.
A linguagem destituída de sentido seria os sentimentos (que usa também de desnorteamentos, mas isso é outro caso). Amor, paixão, ódio... Daí a dificuldade de expressarmos sentimentos, e o uso de desnorteamentos. Consciente e sentimentos não se misturam, originalmente. Só que os sentimentos precisam do consciente para usar a linguagem, e a parte mais confusa da linguagem é essa. Justamente a mais inconsciente, ou mais irracional das manifestações do cérebro humano, que se algum dia for explicado, não será por outro cérebro.

Agora deveria surgir a síntese, né? Apesar que o que usei foi uma ilustração, não uma antítese (embora consciente e inconsciente sejam antíteses).
A linguagem é a manifestação de um conteúdo latente, que usa do consciente para se tornar manifesta. Esse conteúdo latente do ser humano é a busca da felicidade: aumento do prazer, diminuição da dor. (descoberta científica / linguagem inteligível = aumento do prazer. Música Sertaneja / manifestação artística / desnorteamento = diminuição da dor (dor de corno, mas dor. Poderia ter sido mais feliz falando do Fado, mas o consciente optou pela ironia). Sentimento / destituição de sentidos = busca pelo prazer).
Se usássemos um pouco de existencialismo pra explicar melhor esse negócio, poderíamos dizer que o conteúdo latente que gera a linguagem é uma manifestação do ser-em-si, e a essência do conteúdo latente seria o ser-em-si. A linguagem, um para-outro. O consciente um para-si, ou alguma baboseira desse tipo.
Sartre disse que a linguagem faz parte da primeira reação para com o outro, precedida pelo amor, e seguida pelo masoquismo. A segunda parte seria indiferença / ódio / desejo / sadismo.
Mas já estou ficando desnorteado e destituído de sentido, não aumentei prazer algum, nem diminui dor alguma. Então pra que serviu esse blábláblá todo?"

Besteiras Aleatórias...

A grande maioria das coisas que escrevo são criadas no Outlook, sejam textos pro blog, scraps do orkut, e-mails etc...

Muitas coisas ficam salvas numa pasta chamada "Rascunhos", mesmo depois de enviadas. Hoje tava dando uma limpada e achei, dentre outras coisas, esse texto, que era um scrap pra uma amiga... resolvi publicar só pra não se perder por aí. Em suma, besteiras aleatórias...

"Penso que às vezes é preciso não acreditar nas coisas pra que elas aconteçam, pois o mundo (deus?) e os outros têm muito de pirraça com a gente.
E não sei se assim o tempo passa rápido, ou se a consciência da (pseudo?) derrota funciona como anestesia. Então você, que era pedra sobre um chão lamacento, vira uma figura estranha e pesada voando num céu entre o azul e o amarelo; aí o mesmo mundo (deus?) e os outros que antes pirraçavam resolvem te dar atenção e trazer de volta pra terra, pois até então você não tinha percebido que havia uma linha controlando o que parecia ser um vôo livre.
E num outro dia você percebe que as pessoas só são realmente boas quando estão muito perto. Quando perto, têm lá seus defeitos, mas a gente até gosta deles. Respeita. Quando longe, é melhor não ficar olhando muito pois são capazes de coisas verdadeiramente horrendas e repudiáveis.
E é difícil entender e esquecer o que elas fazem quando estão longe. Magoa. Por isso, na impossibilidade de mantê-las perto, é melhor nem olhar. E quando estiverem mais perto (closer?) é bom também que não estejam perto demais.
É. O inferno são os outros."

22 agosto 2006

Leve Desespero


“São demais os perigos dessa vida para quem tem amor”
Vinicius de Moraes

... e de repente me vejo dependente de uma pessoa que não é minha mãe.
Uma pessoa que, mesmo diferente, se parece comigo, me faz rir, me faz chorar, aflige, alivia, completa, desespera, acalma.
Um pedaço de mim que tem outra vida, outras histórias, que esteve longe de mim por mais de 20 anos! Que viveu sem mim, tem outro passado.
Um outro corpo que não pode estar sempre junto ao meu, um par de mãos que ora se une às minhas, ora tem que se soltar. Pés que caminham longe de mim, lágrimas de uma dor que compartilho, mas que saem de um par de olhos que não são meus.
Anseios que não conheço, dores estranhas, angústias que não são minhas, mas que me pertencem.
(Querer viver junto, morrer junto, nunca se separar, chorar junto, sorrir junto, ter prazer, dor, desespero...
Desespero, ah, desespero!
)
Ter medo, muito medo de ficar só, de perder o que nunca ganhei, o que na verdade não é meu, não sou eu...
Mas... mas... é um pouco de mim! É eu também!
Não imaginar outro mundo, outra companhia, outra pessoa...

16 agosto 2006

... para espairecer...

... por exemplo, é difícil saber ao certo o que queremos. Muito mais fácil saber o que não queremos.
No fundo, o grande problema se chama liberdade. É uma condenação, como afirmou Sartre. Diariamente temos que fazer escolhas, tomar decisões, pensar no futuro, no presente, comparar com o passado, planejar, supor, divagar...
(Divagar, mas rapidamente e num rumo certo, o que é totalmente contraditório. Não se pode perder muito tempo pensando).

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A ambição, por exemplo. "Anseio veemente de alcançar determinado objetivo, de obter sucesso; aspiração, pretensão". Não é uma virtude, convenhamos. É um 'sentimento'(?) bom pra se ter nos dias de hoje.

Nos dias de hoje.

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Os sonhos, por exemplo. "Conjunto de imagens, de pensamentos ou de fantasias que se apresentam à mente durante o sono". Em vigília, sonhar é sinônimo de algo bom; "meu sonho é ter isso ou aquilo". Mas na verdade, sonhamos com coisas ruins também; sonhar com algo ruim é ter um pesadelo - sonho aflitivo que produz sensação opressiva; mau sonho.
Sei lá...

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O desejo, por exemplo. Até onde desejar é uma forma de querer? Quando o desejo se torna necessidade ou vontade, como cantam os Titãs (a banda de rock, não as figuras mitológicas)? Qual o limite entre uma necessidade e uma vontade?

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O amor, por exemplo. É ambição, sonho, querer, necessidade, vontade...

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etc. etc. etc...

09 agosto 2006

O que será


O que será que me dá
Que me bole por dentro, será que me dá
Que brota à flor da pele, será que me dá
E que me sobe às faces e me faz corar
E que me salta aos olhos a me atraiçoar
E que me aperta o peito e me faz confessar
O que não tem mais jeito de dissimular
E que nem é direito ninguém recusar
E que me faz mendigo, me faz suplicar
O que não tem medida, nem nunca terá
O que não tem remédio, nem nunca terá
O que não tem receita

O que será que será
Que dá dentro da gente e que não devia
Que desacata a gente, que é revelia
Que é feito uma aguardente que não sacia
Que é feito estar doente de uma folia
Que nem dez mandamentos vão conciliar
Nem todos os ungüentos vão aliviar
Nem todos os quebrantos, toda alquimia
Que nem todos os santos, será que será
O que não tem descanso, nem nunca terá
O que não tem cansaço, nem nunca terá
O que não tem limite

O que será que me dá
Que me queima por dentro, será que me dá
Que me perturba o sono, será que me dá
Que todos os tremores me vêm agitar
Que todos os ardores me vêm atiçar
Que todos os suores me vêm encharcar
Que todos os meus nervos estão a rogar
Que todos os meus órgãos estão a clamar
E uma aflição medonha me faz implorar
O que não tem vergonha, nem nunca terá
O que não tem governo, nem nunca terá
O que não tem juízo
Nota no site do Chico:
Feita para o filme "Dona Flor e Seus Dois Maridos", a canção "O Que Será" tem três versões, que marcam passagens diferentes da trama: "Abertura", "À Flor da Pele" e "À Flor da Terra". Cantada no filme por Simone, a versão "À Flor da Terra" (três estrofes de doze versos) alcançaria grande sucesso na gravação de Chico Buarque e Milton Nascimento, que abre o elepê Meus caros amigos, um dueto, aliás, que aconteceu por mero acaso. Chico estava na gravadora ensaiando a canção com Francis Hime, quando Milton, de passagem pelo estúdio, ouviu e gostou. Daí surgiu o convite para a gravação, depois retribuído com a participação de Chico num disco de Milton, cantando com ele "À Flor da Pele". Mas "O Que Será", em qualquer das versões, é uma obra-prima, no nível das melhores criações de Chico Buarque, com sua melodia forte e sua letra libertária, um tanto ambígua em certos aspectos: "O que será que será / que todos os avisos não vão evitar / porque todos os risos vão desafiar / porque todos os sinos irão repicar / porque todos os hinos irão consagrar..." Em 15.9.92, ao tomar conhecimento do conteúdo de sua ficha no Dops-DPPS, em que há uma análise de "O Que Será", Chico Buarque declarou ao Jornal do Brasil: "acho que eu mesmo não sei o que existe por trás dessa letra e, se soubesse, não teria cabimento explicar..."

Pen(s)o


Penso, logo não tenho sossego.

"Porque a um pelo Espírito é dada a palavra da sabedoria; e a outro, pelo mesmo Espírito, a palavra da ciência; E a outro, pelo mesmo Espírito, a fé; e a outro, pelo mesmo Espírito, os dons de curar; E a outro a operação de maravilhas; e a outro a profecia; e a outro o dom de discernir os espíritos; e a outro a variedade de línguas; e a outro a interpretação das línguas."

A mim é dado pensar. Mas não pensar de forma coerente ou prática. Um pensar sem rumo, vazio como o vôo da ave a quem é dado voar, e por isso voa sem saber, sem querer, sem pousar, e depois que sobe, nem bate as asas...
Penso por não poder fazer outra coisa.
Escrevo para retardar os pensamentos, pois aqui eles precisam de certa organização, certo requinte. Enquanto pensamento puro - palavras dentro da minha cabeça - flui sem razão, sem sentido. Aqui se deixa levar por quereres gramaticais.
bláblábláblábláblá...
Quando se organizam demais, teorizam, se tornam práticos, não são meus. Não mais.
Só parece ser pensamento meu o que perturba, o que não tem resposta, o que aflige...

ALGO DENTRO DE MIM QUE NÃO É AMOR – O QUE É? – PRECISA SE ORGANIZAR.

Estresse

"substantivo masculino
Rubrica: medicina.
estado gerado pela percepção de estímulos que provocam excitação emocional e, ao perturbarem a homeostasia, levam o organismo a disparar um processo de adaptação caracterizado pelo aumento da secreção de adrenalina, com várias conseqüências sistêmicas; stress
Obs.: cf. homeostasia e síndrome geral de adaptação"


Subitamente uma infinidade de pulgas começam a morder minha pele pelo lado de dentro, numa aflição kafkiana. Meu peito arde, meu coração dispara, fico inquieto e agressivo.
Nada acalma. Nada satisfaz.
Já com várias tarefas acumuladas, inicio outras tantas. Não há vontade de conclui-las. Desisto e resolvo escrever.
Não há algo consistente para escrever. Nada objetivo.
Minha cabeça ameaça doer, sinto sede. Levanto, bebo água.

Há momentos em que o ar que entra pelo meu nariz faz mal. Respirar incomoda.
Lembro de Buk:
"-Eu odeio pessoas. Você não?
- Não. Só quando elas estão por perto"

Não sei ao certo se a origem de meu nojo é endógena ou exógena. Não me sinto limpo; no entanto, tenho nojo das coisas ao redor.

Me sinto longe de casa. Longe do ninho. Longe do meu ambiente. Mas qual é meu ambiente?

Lembro de Augusto dos Anjos verso por verso:
“este ambiente me causa repugnância...”

Não só o peito, mas a garganta também arde.
Tenho ímpetos agressivos. Arqueio as sobrancelhas. Dentro dos sapatos, aperto os dedos do pé...
Bebo mais água.

01 agosto 2006

Ser, estar, blábláblá...

Às vezes eu me perco.
Mas não no sentido geográfico do verbo 'estar' - fulano está perdido por não saber onde está. Me perco no que há de ligação de mim com o existencial verbo SER.
Entendam: as possibilidades de SER são muito maiores que a de ESTAR.
Perdidas todas as referências pra saber onde estou, a gravidade me prende ao chão. No que se refere ao SER, não há céu, não há chão.
Difícil, não?
(risos)
Dói um pouco esses devaneios todos. Mas têm lá seu quê de diversão. A gente sabe que não vai aceitar resposta alguma (embora as haja de diversas maneiras), mas não pára de perguntar.

Isso pra mim é viver. Dói, mas é viver.

29 julho 2006

Pobrezas

para Felipe,


"- Você acha que ele fez tudo isso para ser convidado a cozinhar para nós? Para nos envenenar?
- E deu certo.
- Porque ele está nos envenenando?
- Você não esta fazendo a pergunta certa.
- E qual é a pergunta certa?
- Porque nós estamos nos deixando envenenar?"
L.F. Veríssimo


Muita coisa é perdoável nesse mundo. Há pessoas verdadeiramente mesquinhas, que escondem no bolso balas que só serão descobertas depois de passarem pela lavanderia. Mas aí não há tempo nem de chupa-las, nem de dá-las para alguém. Estragaram. É algo ruim, mas não nos prejudica tanto. Se você pedir, é até capaz de ela dar, mesmo que contra a vontade.
Há pessoas insensíveis. Pessoas que só percebem quando estamos mal se gritarmos. Mas a sensibilidade é para poucos, e a presença de alguém, ainda que insensível, nos alivia. Porque as pessoas insensíveis não são de todo más.
Há pessoas cegas. Que não enxergam a beleza que há em nós, que nossa intenção às vezes é ajudar. Estendemos tapetes de rosas na frente dela, que não enxerga. Chega a tropeçar, mas não enxerga.
Mas a pobreza de espírito, a pequenez de alma, a quase ignorância com os sentimentos alheios... não dá pra aceitar. Porque às vezes é difícil amar uma pessoa só porque ela nos ama.
Mesmo um esboço de alma sabe respeitar o amor alheio. Não adianta dar a mão na calçada, e depois dizer: "atravesse a rua sozinho". Pode até falar, mas não deve dar as mãos. Ao menos deixe claro: eu não vou atravessar a rua com você.
Pois ainda que ficasse muito tempo de sua vida do lado de lá da rua, um dia você ia entender que é preciso atravessar. Mas de que valem mãos dadas na calçada? E se a pessoa gritasse: “atravessa sozinho, porra!”, seria melhor.
Perdesse a ternura, endurecesse, fizesse o diabo...
E à simples pergunta “por quê?”, a pessoa responderia: compaixão, piedade, comiseração. Ao que você choraria, posto que é parte da história. Daqui eu daria gargalhadas, confesso. Piedade?
Huahuahuahuhauhauahuahuahuahauhauahuahauhauhauahuahuuahauhua
Não, não, não...
Desculpe, caro amigo. Há pobrezas irremediáveis, que fazem sentimentos belíssimos não valerem a pena.
E aos gatos que te arranham por dentro, recomendo o que Vinicius de Moraes chamava de cachorro engarrafado; o melhor amigo do homem: whisky. Não que se embebedar, se mutilar, valha a pena. Mas é infinitamente melhor beber pela inevitabilidade da vida que por... bom, como chamamos isso?

De Mãos Dadas

para Sheila,

É como se andássemos de mãos dadas ao som de uma música que só nós ouvimos. Abraçados num bar, tocam Vinicius pra gente.
E não fomos tão longe para ter felicidade. Não há nada verdadeiramente novo ao alcance de nossas mãos, exceto o fato de vez ou outra estarem elas entrelaçadas, ao andarmos, ao pararmos, ao nos beijarmos.
Estamos onde sempre estivemos, temos o que sempre tivemos, somos o que fomos.
Mas as nossas mãos se dão como se ao se tocarem - ao nos tocarem - obedecessem ao coração; da mesma forma como a fome faz levar alimento à boca, nossa sede de si pega com as mãos algo de nós que é a própria felicidade, ou é o alimento que ela precisava pra viver em nós.
E o espanto é muito por sermos pouco e sermos tanto!
E não precisamos de dias ensolarados ou noites enluaradas pra sentirmos isso. Chove lá fora, possivelmente a mesma chuva que chovia quando eu era sozinho, mas hoje eu andaria com você na chuva e acharia lindo! E olha só: a mesma chuva que antes me deixava triste!!!
O que antes já era bom – como tomar chopp e ouvir MPB no Bar do Tinóia – se torna ainda melhor com você. Coisas que antes não faziam sentido, hoje são necessárias. Você ilumina, espalha um cheiro, uma leveza, uma beleza de coisa simples que faz de ti a coisa mais necessária e importante da minha vida.
EU TE AMO

18 julho 2006

Minha Vida

Minha vida é busca da felicidade, admitindo, desde já, que a busca de algo é sinal da ausência do mesmo.
(Ainda que sejam mesquinhos os milionários. Será isso?)
É busca, mas também é espera.
Espera de felicidade, ou pausa para ser feliz???
Minha vida é deslumbre enlouquecido pelas coisas que amo.
Minha vida é quem eu amo, e eu amo sempre, muito e mais, mesmo em momentos difíceis.
Tanto quanto a minha é a vida dela. Porque eu já nem posso imaginar como seria sem ela, a parte de mim que atende pelo nome Sheila. Porque esses desvãos do ser, os desassossegos todos, as angústias, as grandes questões existenciais, as vontades de potência, os complexos, as dores do mundo, as injustiças, as filosofias, as poesias, as falácias... nada faz sentido.
Porque antes eu não tinha vida, eu existia. E viver também é sentir dor, é ter dúvida, é ter medo, e AMAR.
E muito disso sempre aconteceu com intensidade em mim, inclusive/sobretudo as dores. Mas o amor sempre me foi desconhecido. E por só agora conhecer o Amor, eu não posso perder essa minha vida. Porque eu não conseguiria enfrentar o mundo sem amor, sem essa minha vida de nome Sheila.
E essa espécie de dependência dói.
"Todos nós necessitamos sofrer certo número de preocupações, de penas e misérias, da mesma maneira que um barco tem necessidade de lastro para conservar seu equilíbrio. " Schopenhauer.

Tenho muito amor e essa dor típica dos que se pensam ou se querem filósofos.
Me dê a mão, Sheila.

A vida e sua tristeza

O triste da vida é que só os cínicos parecem entendê-la.
E tudo que é belo parece ser mentira, e são poetas todos que acreditam em algo bom, mesmo os poetas sujos.
O triste da vida é o medo que ela impõe pra ser vivida intensamente. Pois de repente podemos ser podados, sem mais, sem menos, sem...
E tudo que é bom pode acabar, sumir, perder a graça, ser roubado.

Tempo da Delicadeza II

O mundo não é delicado. A delicadeza se dá num tempo, num intervalo. Tempo da delicadeza.
E esse tempo nunca é ganho. Não é uma prorrogação. Não é um acréscimo.
É compensação. É reposição de faltas cometidas. Não é hora extra.
O pôr do sol é delicado, o crepúsculo ocorre num tempo delicado. Mas o calor do sol durante o resto do dia é indelicado.
Eterno tempo da delicadeza é querer um crepúsculo para sempre.

Quem sou eu?

Há uma dificuldade muito grande em se definir. Dá a impressão de que a questão se divide entre 'se encontrar' ou 'se escolher'. Criar? "Eu sou um outro", disse Rimbaud.
Conheço muito bem minhas paixões, meus amores, mas desconheço suas origens. Eu realmente escolhi? Era pré-determinado e eu só encontrei?
"O que pensar da vida e daqueles que sabemos que amamos?", perguntou-se Renato Russo.
É difícil definir-se à luz dessas informações. Numa escala percentual, diria que conheço 50% de mim mesmo. Outros 10% são de domínio alheio, não dependem de mim; são meus gestos, reflexos dos quais quase sempre não tenho consciência.
Outra parte é fruto do meio e dos gostos. Sou muito de Fernando Pessoa, Chico Buarque, Wilde, Vinicius de Moraes etc. Quem lê muito acaba se misturando com os autores, da mesma forma como as pessoas 'normais' absorvem informações dos amigos e parentes. Embora frio, é justo dizer que quando gostamos muito de um escritor ele se torna nosso amigo.
Outra grande parte é descoberta quando amamos alguém. Quem não ama muito e exageradamente não descobre um pedaço de si mesmo. E essa parte acaba definindo tudo o mais; você quer mudar, ver as coisas de outra forma, crescer e ser feliz. E cada dia que passa isso vai aumentando, adquirindo mais valor.
Mas essa parte descoberta pelo amor embaralha as outras partes. Além de fundir o pouco de si que conhecemos com a pessoa que amamos. E de acrescentar ao curriculum de dores que sentíamos, as dores dela.
Porque ela é tanto quanto a minha vida. Tanto quanto eu.

Suspiro

do lat. suspíro,as,ávi,átum,áre 'respirar com força, estar ofegante; suspirar, gemer; ter saudades de; exalar'; ver -spir(o)-; f.hist. sXIII sospirando, sXIV suspirar, sXIV ssospirar

substantivo masculino

1 inspiração mais ou menos profunda e prolongada, seguida de expiração audível, motivada por um incômodo físico ou psíquico, como fadiga, desgosto, tristeza etc., ou tb. em razão de alívio, satisfação, desejo etc.

2 aspiração; movimento aspiratório

3 Derivação: sentido figurado.
som que expressa tristeza; gemido, lamento, queixume

4 (1630) Derivação: sentido figurado.
intenso anseio por um bem (espiritual ou material); desejo, ânsia
Ex.: quem atenderá aos seus s.?

5 saudade de alguém ou alguma coisa
Ex.: vive cheia de suspiros pelo filho amado

6 Derivação: sentido figurado.
expressão de paixão amorosa e dos tormentos e aflições que ela provoca
Ex.: até quando ficará surda aos meus s. e ais?

7 (1881) Derivação: sentido figurado.
som doce, melancólico, suave; murmúrio, sussurro
Ex.: o s. do vento na folhagem


Nem o Houaiss consegue explicar porque nalguns momentos suspiramos.
Se algo dói, a gente grita ou chora. Se incomoda, resmungamos. Suspiramos em função dum incômodo que tanto pode ser bom quanto mau.

Posse

"Tudo no futebol é complicado pela presença de um time adversário"
Sartre


Grande parte dos sentimentos consegue ser unipolar. Muitos amam sem ser amados, odeiam sem ser odiados, admiram sem ser admirados. A posse não. Quando há o sentimento de posse sobre algo / alguém, é recíproca. Pelo menos uma pequena consciência dela o é.

Porque se há a idéia de posse, ainda que distante, confusa, é porque ela já foi próxima no passado. Ela foi concreta. Daí que quando manifestada a vontade de reaver a posse de algo abandonado, tudo vem à tona. Porque os escravos precisam ser chicoteados tanto quanto os algozes precisam chicotear.

E a consciência da posse, ou a vontade dela, se dá ao vislumbrar a perda. Como a criança que deixa de lado a bola, e só quer voltar a jogar quando outra criança a pega. E começa a briga.

Porque posse de bola é diferente do placar do jogo.

45 min. do segundo tempo. Pênalti.

12 julho 2006

Os Alckmistas Estão Chegando?

Desculpem-me os simpatizantes, mas quem é Geraldo Alckmin?
Ainda que à sombra de Mario Covas (era mediano quando vivo, mas ficou melhor depois que morreu), nunca teve expressão política. Usar do crescimento do estado de São Paulo para fazer campanha, até Maluf faz. São Paulo cresce e aparece por si só, é inevitável.
Mas a minha mágoa talvez seja fruto do péssimo desempenho da educação no período Covas/Alckmin. Creio que em 1996, quando cursava a 6º série, passei por um longo período de greve. Na época achei maravilhoso, afinal tudo que eu queria era jogar bola, empinar pipa etc. Ou seja: praticamente não tive 6º série, pois a reposição foi uma farsa.
E a "escolinha de verão", alguém lembra? Confesso que fui um dos privilegiados; não fosse isso, seria reprovado na 8º série. Mas é certo? Tudo bem que eu ainda consegui engatar quando entrei no Ensino Médio, aprendi a ler, escrever, e fiz até curso técnico numa escola federal, mas a grande maioria chegava no EM quase analfabeta, e não conseguia recuperar.
Deixando os traumas de lado, a prova cabal da péssima índole do Alckmin foi deixar Cláudio Lembo, seu substituto no governo de São Paulo, na mão quando o bicho pegou por causa do PCC. Simplesmente fingiu que não era com ele...
Não bastasse, essa semana, enquanto os outros candidatos fazem campanha pelo Brasil, ele viaja para a Europa. Argh!
Das ligações com o Opus Dei nem comento. Não sei bem do que se trata, mas me causa arrepios.

Os eleitores de Alckmin são classe média pra cima, ou classe baixa querendo ascender. Um deles, grande amigo meu, afirmou: "as pessoas esclarecidas votarão no Alckmin".
Esclarecidas pela Globo e pela Veja, sem dúvida.

É... uma eleição difícil essa. Lula foi decepcionante da primeira vez, possivelmente será na segunda. Talvez não. Por revolta e por crer no socialismo, como utopia ou não, gosto da Heloisa Helena. Tenho consciência de que ela não fará milagres, não acabará com a desigualdade, não implantará um 'socialismo democrático' no Brasil. Mas na minha opinião é a melhor candidata. Penso cá com meus botões (os do teclado): afinal, o que nos faz escolher um candidato? Política é um troço complicado. Talvez por isso eu vá fazer Ciências Sociais, ainda na dúvida se com especialização em Sociologia ou Ciência Política.

Mas digo logo: segundo turno com Alckmin e Lula, voto no Lula.

Da Série "O Amor é Inventivo"

O amor é inventivo e anula os postulados da lógica.
Ele tem sua lógica própria, tão válida quanto a outra.
E os amantes se entendem sob o signo do absurdo...
Drummond


- É que eu amo tanto, mas TANTO, que acabo acreditando que nem Vinicius de Moraes amou assim.
Ela ri, me olha com olhar apaixonado e me beija de forma mais apaixonada ainda. Recupero o fôlego, e continuo:
- Embora ele escreva um pouco melhor que eu. Mas só um pouquinho...
- Ah! Como meu namorado é modesto, rsrsrsrrs
E ganho outro beijo apaixonado.

06 julho 2006

Confesso que vivi

A grande vantagem dos exagerados é que eles vivem sempre um pouco mais que a grande maioria. E esse "mais" não é medido por unidade de tempo, espaço percorrido, nada. É a unidade desconhecida com a qual se mede o prazer.
Minha infância foi deslumbrante, com direito a pescarias, cabanas, tombos fenomenais, fogueiras enormes, braço quebrado, pedradas, campeonatos, invasão de quintais para resgatar bolas ou roubar frutas, piqueniques, atropelamentos, espionagem em banheiros femininos, pontos na cabeça, microempresas de lavagem de carro, banho em cachorro...
Na escola, tive grandes amigos (mais amigas, na verdade), bolei aulas, colei provas, fiz escolinha de verão, recuperação, toquei Legião Urbana em rodas de pessoas desafinadas, fui expulso da sala, colei cartazes revoltados na parede do pátio, colei fotos de mulheres peladas no banheiro da 5º série, organizei festinhas, passeios, discuti com professores, cheirei giz, participei de guerras de giz e papel...
Passei dias lendo deitado e descobrindo o mundo maravilhoso da Arte. Com pouquíssimo conhecimento de causa, queria discutir Nietzsche aos 15 anos (nem tinha lido ainda!), lia poesia de forma desesperada, descobri Fernando Pessoa e fiz dele meu amigo.
Adolescente, mergulhei de cabeça no desvario roubado de baladas inabaláveis, fiquei horas inconsciente, acordei sem saber como cheguei em casa, vomitei sangue, beijei mulheres maravilhosas e estranhas, trabalhei bêbado, gastei fortunas com whisky, corri de cueca em Moema, me equilibrei, bêbado, na mureta da Av. Washington Luiz, voltei pra casa andando em madrugadas frias, fumei maconha e ri horas sem parar, tive alucinações, experimentei drogas mais ilícitas que maconha, perdi a chave de casa e dormi na rua...
Confesso que já chorei sozinho. Achei o mundo algo horrível e quis morrer. Levantei sem vontade de acordar, achei que nunca seria feliz, trabalhei sem vontade de trabalhar, queria fugir... As lágrimas são lembradas sem saudades, mas como algo necessário.
Hoje, pela primeira vez estou amando alguém de verdade. E aqui cabem as duas interpretações: tanto o amor quanto ela são de verdade.
Neruda escreveu "Confesso que Vivi" já um pouco velho, com muito mais experiência que eu, que também confesso que vivi e estou vivendo. Mas só enxergo essas coisas porque estou amando.
Se um dia posso chorar novamente, achar tudo horrível, pensar em não ser feliz? Sim, é possível. Mas hoje não... Confesso que vivi, e confesso que quero viver ao seu lado, Sheila.

O Amor é uma coisa que se aprende

Comentários sobre o Amor duma perspectiva psicológica sempre me atraíram. Ainda que quando amamos toda explicação seja pragmática, algumas coisas são bem bacanas e verdadeiras. A palestra O Amor é uma coisa que se aprende proferida por Contardo Calligaris no programa Café Filosófico da TV Cultura, ainda que vaga, foi boa.

O Problema Clássico
Logo de começo esbarra num problema clássico: a dificuldade em encontrar traços comuns entre as mulheres que amou. Não há um modelo estético padrão, um tipo específico de gosto ou postura nelas. Só há semelhança na narrativa desses amores: foram amores difíceis ou impossíveis. "O ponto forte do amor é a dificuldade do encontro, a aflição da saudade", ele afirma. Só que as dificuldades que ele expõe são sumariamente classe-média-alta-de-direita: "nos encontramos em Londres e ela ia voltar pro Canadá dali alguns meses", blábláblá. Não concordo tanto, mas sigamos adiante.

O Amor Dentro de um Repertório Cultural e Determinismos Bioquímicos
Aprendemos a amar com o Cinema e a Literatura, o que torna o amor fruto do "repertório cultural" em que vivemos. Ele não citou, mas me pergunto: índio anda de mãos dadas? Beija? Não bastasse isso, há o fator bioquímico em torno do amor: uma substância chamada feniletilamina. Aqui ele afirma que por esses fatores bioquímicos o amor pode durar de 3 meses a 6 anos. Pesquisando na internet, achei uma matéria que cita outras duas substâncias: dopamina e ocitocina; nessa matéria, a psicóloga Cindy Hazan, afirma: "seres humanos são biologicamente programados para se sentirem apaixonados durante 18 a 30 meses".

As (r)evoluções do Amor
Fugindo dessas divagações científicas, o amor como fator de (r)evolução é algo que não poderia faltar. Por volta do século XII existia o que se chama de "amor cortês", atrapalhado por fatores sociais, vide o clássico Romeu e Julieta. Num certo momento da história, há o triunfo do indivíduo sobre a sociedade, e é aqui que começa a revolução. Narrado pela Literatura em geral e cantado pela poesia, o amor sofre uma revolução de costumes, onde não há mais a barreiras cínicas de interesses escusos. Mas continua sendo difícil, mesmo na modernidade. Por quê?
Como já citado antes, o amor é fruto do repertório cultural; esse repertório celebra o indivíduo, não o casal. As histórias de amor mais atraentes são sempre de amores difíceis. Poderíamos comprimir a história de Romeu e Julieta ao primeiro ato, e narrar a vida deles como casal, mas seria um saco! Depois do "foram felizes para sempre", as narrativas, quando feitas, são do tipo comédia.

Amor e Psicologia
Para a psicologia, amar é "idealizar o outro", daí, o objetivo do amor é ser amado por uma coisa idealizada. Esse amor ideal precisa de uma distância para acontecer, pois é mais fácil preservar essa idealização quando o outro está distante. Então ele diz algo que eu já havia dito antes pra minha namorada: "amar é não poder estar sem o outro, o que é bem diferente de estar com o outro". Eu concordo, mas não acho que a presença do outro pode apagar essa idealização. Lembrando um pouco de Schopenhauer, é muito fácil a gente querer coisas diferentes, pessoas diferentes, mas esquecemos de pensar o que seria de nossas vidas se não tivéssemos o que temos. Se imaginar ao lado de outra pessoa é fácil, mas a questão é: o que seria de minha vida sem a pessoa que está comigo agora, a quem eu amo tanto? Eu, Fabricio, ficaria perdido, como era algum tempo atrás.

A Renúncia Amorosa
Calligaris cita dois filmes: "Os brutos também amam" e "Casablanca". Em ambos há uma questão interessante: a renúncia amorosa; abrir mão do amor para o bem da pessoa amada. No Casablanca, único dos dois que vi, o cara reencontra uma mulher que amou há muito tempo, e ela está casada com outro. Ele tem a chance de salva-la (algo com nazistas e a II GM), e a deixa ir embora com o outro, ainda que os dois emboçassem um pouco amor.
Qual a grande personagem da história que chega a arrancar os próprios olhos por causa de uma mulher? Édipo!
Os psicólogos e o velho Édipo...

O programa é encerrado com a seguinte frase, dita pela apresentadora: aprender a amar não é uma possibilidade, é uma conquista.


Considerações
Muito por ineficiência minha e um pouco pelo próprio palestrante e editores do programa, as idéias não estão bem intercaladas.
É interessante ouvir essas palestras e tentar entender um pouco de algo tão confuso. Mas é quase impossível realmente definir o que é amor ou uma relação amorosa. Durante muito tempo achei que a frase do Lacan “amar é dar o que não se tem a quem não o quer” era a melhor definição de amor. Hoje não acho. Vivo um amor intenso, dado a divagações em torno do próprio umbigo, mas não me sinto encaixado dentro de algumas definições dessa palestra.
Se tenho medo de que a feniletilamina acabe daqui alguns anos? Não. O amor é muito mais.
Talvez ele possa perder o ritmo um dia. Talvez possa até acabar. Vai saber?
Mas tudo isso são possibilidades, assim como também é o fato de podermos ser atropelados, assassinados, roubados. O pessimismo que gira em torno do amor moderno é, também, coisa do nosso ‘repertório cultural’ cuja pauta é o consumo. Tudo em nossa sociedade gira em torno de idéias de consumo, e acabamos crendo, quase que inconscientemente, que o amor pode ser consumido, pode ser desgastado como uma roupa que cobiçamos durante meses numa vitrine, compramos e usamos.
Felizmente, o amor é um pouco mais que feniletilamina, dopamina e ocitocina. Um pouco mais que Freud e Lacan.

05 julho 2006

Pequena consideração sobre a TV

A gente sempre fala que a TV aberta é uma merda, que só tem sacanagem, desgraça e mentiras. Mas confesso: vez ou outra me flagro assistindo essas porcarias. Veríssimo justificou dizendo que existe a preguiça e a inércia; a primeira faz com que sentemos na frente da TV com o controle na mão mudando de canal sem assistir coisa alguma do começo ao fim; já a segunda nos deixa plantados assistindo uma besteira qualquer, que julgamos horrível.
Sou mais preguiçoso que inerte, mas quando se trata de sacanagem e mulheres seminuas, sou inerte. Mas onde eu estava mesmo? Ah, sim! Era domingo a noite...
Sempre preferi o programa Entrelinhas e o Café Filosófico ao Fantástico. O Entrelinhas sumiu da programação da Cultura, o que fez com que eu ficasse plantado diante do Bial divagando sobre a derrota na copa. Num intervalo mudei de canal e vi que o Café Filosófico se manteve, e o tema era bem atraente: "O Amor é uma Coisa que Se Aprende", proferida por Contardo Calligaris. Lógico que ia assistir.
Mas creio que devo começar noutro texto, já que esse aqui ficou relativamente grande e sem graça.

04 julho 2006

Futebol

Assim que Baggio perdeu o pênalti em 94, eu saí pela rua correndo, tocando corneta e gritando "é tetraaaaaaaa" de tal forma que quando parei, mal conseguia respirar, tão pouco falar. Minha mãe chegou a ficar preocupada.
A empolgação se manteve por anos, posto que meu Palmeiras era time de estrelas e vitórias sem fim. Lia o Lance quase todos os dias, colecionava figurinhas e cheguei até a esboçar o sonho de ser goleiro. Como toda empolgação infanto-adolescente, diminuiu com o tempo até quase acabar. Chegamos, então, em 1998.
Antes de a copa começar eu já tinha álbuns, revistas, recortava jornais, comprei bandeiras, adesivos... tudo que tinha direito. Quando anunciaram que Romário não ia participar, quase chorei. Mas assisti todos os jogos com empolgação. Inclusive a final.
A gente não gosta de perder, mas aos 14 anos eu já havia sentido esse gosto amargo antes. Perder a copa na final não me frustrou tanto, já que se tratava de esporte, blábláblá, aquela conversa que ouvimos desde os 4 anos. O grande desconforto veio com a idéia de que o jogo foi "comprado". Creio que foi meu primeiro encontro com a desonestidade e afins. Definitivamente eu havia desencantado.
A Copa de 2002 me foi indiferente. Mal lembro da final, muito menos dos jogos. Em resumo, "que se foda", pensava.
Na de agora, por ter estudado um pouco de Relações Internacionais, acompanhei de longe o fato de o Irã estar participando e a possibilidade de seu 'presidente' ir a Alemanha; vi com deslumbre a presença de países africanos numa copa na Alemanha, dentre outras coisas interessantes.
Torci, de coração mesmo, pra Gana em todos os jogos, inclusive contra o time que chamam de "Brasil". Achava um futebol criativo, com algumas limitações técnicas, mas que dava gosto de ver e tinha uma denotação política pra mim.
Mas voltando a tal “seleção brasileira”, impossível não manifestar a revolta de perder daquele jeito. Um futebol de merda, claramente posto em campo por interesses financeiros. Manter aquele gordo em campo? Roberto Carlos, Cafu... todos estrelas de diversas propagandas, não mais do Futebol. Ronaldinho Gaúcho jogando amarrado...

Um absurdo. Onde vamos parar? Se eles têm coragem de fazer algo assim com a dita “paixão nacional”, o que mais poderão fazer? Do que são capazes?
Continuo me surpreendendo com o Big Brother que coordena as grandes corporações, os interesses escusos de pessoas mesquinhas.
Acaba sendo somente mais uma forma de injustiça. A vantagem é que meche com paixão, o que deveria causar revolta. Alguns urubus disfarçados de tucanos vêem a hipótese disso atrapalhar a campanha do Lula, já atrapalhada por si só.
(suspiros)
Aos poucos foram tirando o pão, agora desmontam o circo.

28 junho 2006

Clarice Lispector e Kafka

Há uma certa semelhança entre "A Paixão Segundo G. H.", de Clarice Lispector, e "A Construção", de Franz Kafka. Um desconforto.
Se o personagem de Kafka constrói sua toca com medo do inimigo, Clarice a desbrava sem medo, ainda que vez ou outra de "mãos dadas" com o interlocutor. No começo você se sente mal em ambos, descobre-se claustrofóbico. Ao final, Clarice consegue obter - e nos passar - a “alegria difícil” de que fala na apresentação. Kafka não.
Mas há um laço, um elo entre eles que é difícil de descrever. O livro de Clarice ainda está quente na minha memória, o de Kafka tá meio distante. Preciso relê-lo.
Mas não, não sei... é como se ambos me causassem uma náusea e eu não conseguisse vomitar.
Mas são livros ótimos. Um dia consigo escrever direito sobre eles.

27 junho 2006

Amar é...

Sempre pensei que amar era escrever cartas bonitinhas, trocar beijos, carícias, presentes, brigar de vez em quando e voltar pedindo desculpas. Mas é bem mais.
Amar é basicamente se sentir bem, ainda que a saudade seja horrível e o ciúme pungente.
Pode ser, também, um pouco de tristeza, nem que seja pra fazer um samba, pois Vinicius disse que "pra fazer um samba com beleza é preciso um bocado de tristeza". A tristeza, em si, não é má. Ela é... triste. Lógico que a felicidade é melhor, mas não tem como ser feliz sempre. O mundo, com suas injustiças e desigualdades, vez ou outra nos entristece. Ficar perdido dentro de si mesmo também é triste, e nem sempre a gente se encontra.
Amar de verdade, mas de verdade mesmo, é confessar uma espécie sutil de fraqueza; pois para dizer que alguém nos completa é preciso assumir que éramos incompletos. Antes de amar eu era menos.
Amar é saber curtir o presente pensando no futuro; é repetir os versos de "Eu sei que vou te amar" como se fossem seus, pois o amor não tem prazo de validade; é pra sempre e deve ser como o vinho: melhor com o passar do tempo. Pra isso, precisa estar bem armazenado (é, também, esquecer algumas coisas do passado).
Amar é gostar de crianças. Na verdade, isso vale mais para os homens, já que mulheres estão acostumadas desde pequenas com suas bonecas. Homens não. Sem perceber, estamos dialogando com crianças de cinco anos no ônibus, dando tchauzinho para bebês que nem sabem falar.
Amar é gostar mais da própria família, dos amigos de verdade, e até do cachorro. Porque antes alguma coisa nos impedia de enxergar o óbvio. Ou seja: amar é enxergar o óbvio.
Amar é manter uma certa admiração por coisas confusas, complicadas; mas beleza e prazer a gente tem nas coisas simples. Augusto dos Anjos continua admirável, mas Vinicius é maravilhoso. A noite é instigante, a boemia é poética; mas passear de mãos dadas num fim de tarde e almoçar com a família dela é delicioso.

Amar é achar que estamos sempre atrasados, e fazer o amor esperar é inadmissível. Então é melhor parar por aqui, pois estou indo ver minha namorada!!!

26 junho 2006

Confissão

Há horas com aquela náusea terrível que é prelúdio de alguma coisa por escrever, sentei na frente do computador e digitei a primeira frase dos versos abaixo. Os outros versos também saíram rápidos, mas a estrofe seguinte empacou. Havia dezenas de idéias, mas a coisa não virava poesia. Já queria começar outros textos, deixar esse de lado... foi então que resolvi escrever justamente sobre isso: há muitas características que atrapalham em muito a minha vida. Uma delas é a euforia.
Milhares de idéias me assolam e eu não consigo organizá-las, muito menos transformá-las em poesia. Escrever em prosa é muito mais fácil, embora eu perca muito tempo corrigindo e acrescentando vírgulas e outros cosméticos literários. Mas a poesia exige uma forma de concentração e esforço intelectual que me é desconhecida. Essa mesma característica se repete de várias formas, em várias coisas.
Em empreendimentos individuais, o grande problema é, em si, a euforia. Quero fazer tudo ao mesmo tempo, o que é facilmente demonstrado pela quantidade de livros ao lado da minha cama. Eu quero ler filosofia, poesia, romance, história, notícias... tudo ao mesmo tempo! Minha cabeça vira um turbilhão, e eu acabo não fazendo coisa alguma. O mesmo se dá no trabalho: telefonemas, planilhas, projetos, documentos... tudo dividido entre minha mesa e o computador, se alternando com coisas de ordem pessoal, como esse texto, por exemplo, e conversas do MSN pipocando.
Coletivamente, o que era euforia se manifesta pelo excesso de empolgação. Preciso de deslumbre, de fascínio para seguir adiante. Se percebo que estou indiferente, jogo tudo pro alto e invento outro circo. Meus relacionamentos anteriores terminaram basicamente assim; não aceitava a idéia wildiana de que o amor seja a 'letargia do hábito'. Grandes projetos e sonhos - como o foi a revista Cisma, por exemplo - se dissolvem diante da indiferença alheia.
Por ter uma necessidade muito grande de agir coletivamente, para dar andamento a um projeto preciso que todos sonhem comigo, ou, como disse uma grande amiga minha, todos estejam "olhando a roda gigante do mesmo ponto que eu". Parei um curso que adorava por não enxergar essa empolgação nos outros.
Aos poucos venho enxergando o quão errada são essas e outras coisas habituais em minha vida. Não que eu queira ser/parecer indiferente como a grande maioria. Tudo que é grande e bom e duradouro é feito com empolgação, com paixão. Mas administrar oscilações é o X da questão.
Até pouco tempo atrás eu sequer tinha consciência disso; hoje quero corrigir, confesso.

talvez eu precisasse de um amor assim,
sereno e já com saudades do futuro
cuja semente foi regada por lagrimas
e as flores cercadas por um muro

22 junho 2006

Solidão e Angústia

Possivelmente por insistência de minha mãe quando eu era criança, aprendi que é mais seguro andar de mãos dadas com alguém que sozinho. A gente às vezes se distrai e BUM! um carro pode nos atropelar.
Cresci um pouco e teoricamente teria que ter aprendido a andar sozinho por aí; mas não aprendi. Desvairado em madrugadas etílicas, busquei mãos alheias quase que sem perceber. Havia um resquício do que pode ser chamado de 'sacanagem' nesse gesto, já que as mãos eram sempre de mulheres bonitas (diria "comíveis", em outros tempos. Mas mudei); o que não deixa de ser, também, fruto dessa minha insegurança. Medo de ser atropelado.
Em resumo, medo da solidão.

Durante muito tempo tem-se como solidão a eterna ausência da pessoa amada. Em sonhos, projetamo-nos ao lado dessa pessoa numa espécie de Vilarejo como na música da Marisa Monte: "Lá o tempo espera / Lá é primavera / Portas e janelas ficam sempre abertas / Pra sorte entrar / Em todas as mesas, pão / Flores enfeitando / Os caminhos, os vestidos, os destinos / E essa canção...". Eis que um dia o futuro chega - é inevitável - e as coisas não são bem assim.
O mais perfeito e belo amor não passa da união de duas solidões que se entendem. E com a mesma angústia com que éramos "abandonados" na escola, nos separamos por instantes das pessoas que amamos.
Tentando me convencer, repito mentalmente: não há como alguém nos acompanhar em tudo, sempre. As mãos se separam, mas os corações continuam unidos. Não é à toa que justamente na mão fica o símbolo do compromisso.
Talvez se encontre numa religião a 'solução' dessa solidão/angústia. Raul Seixas se incomodava, numa música, com a hipótese de deus vê-lo no banheiro. Acredito que a religião alivie muita coisa; acredito, do meu jeito, na existência de deus. Mas infelizmente (pra mim), diante de algumas injustiças faço a mesma pergunta de Castro Alves: "Deus! ó Deus! onde estás que não respondes? / Em que mundo, em que estrela tu te escondes / Embuçado nos céus?".

Em resumo, não há amor, não há sossego, não há dinheiro, não há prazer, não há empolgação, não há pensamento... nada; absolutamente nada elimina por inteiro a sensação de solidão e a angústia.
E eu canto com Fagner:
"Tenho o mesmo segredo
Dos malditos solitários
Só a noite é minha amiga
A quem friamente confesso
A natureza noturna
Dos meus infernos diários
Nem a mulher que me ama
Sequer a moça de gênio
(...)
Nem o poeta ordinário
Nem literato de prêmio
Eu tenho o mesmo segredo
Dos malditos solitários..."

14 junho 2006

Exagerado?

Acho que só consigo andar por estar apaixonado pela rua, por meus sapatos, pelo lugar onde quero chegar etc. Já que a vida exige paixão para ser vivida.
E quando tudo parece chato e as coisas ao redor são indiferentes, me apaixono por minha melancolia e meus dramas. Faço festinhas em mim mesmo.
Nesse meio, há paixões e amores indeléveis; minha mãe, por exemplo. Nunca deixei de gostar da minha mãe. Sou eterna e perdidamente fã de minha mãe. E pensei há pouco: "um dia eu vou dizer pra muita gente: por minha mãe, que me deu a vida e ensinou a viver; por minha esposa, com quem eu vivo e que me faz feliz".
Hoje eu não tenho uma esposa, mas há uma pessoa com quem eu vivo momentos dispersos e que me faz muito feliz: a Sheila, que antes de namorarmos já era meu amor indelével. E se é preciso certo comedimento ao falar de amores e paixões, que se dane: eu amo muito e sei que vou amar.
Pense bem: quando uma coisa dói, a gente não pensa "daqui a pouco passa"; muito pelo contrário, achamos que vai doer o resto da vida. Quem já teve dor de ouvido ou de dente sabe. A vida pára para aquilo doer eternamente, não há nada além da dor, não queremos comer, trabalhar, assistir TV... nada.
Aí quando a gente se apaixona por alguém, pensa logo: "vai passar" ou "nada é pra sempre".
NÃO!!!
Tem que ser pra sempre, caso contrário não tem graça. Eu quero tudo em doses cavalares. Overdoses. Taquicardias.
Porque se um dia acabar, não vai ser por falta de amor nem paixão.

Em visita a Cuba, Sartre perguntou pra Fidel Castro o que ele faria se o povo lhe pedisse a lua.
- Eu daria a lua para eles – respondeu Fidel.
Tendo em vista as coisas que Fidel fez com parte do povo cubano, não sei dizer se ele era apaixonado. Talvez fosse. Mas se alguém que eu amo me pedisse a lua, eu daria um jeito.

Em resumo, sou exagerado.

11 maio 2006

Esboço de um Manifesto Contra o Ódio de Classe

Estou farto da histeria de direita que assombra a mídia e a classe média e alta brasileiras.
É inegável que as acusações contra Lula não passam de ódio de classe. Nunca um presidente foi tão atacado como o Lula. Não quero, dizendo isso, fazer um "elogio geral da administração petista", mas faço, sim, uma apologia.
A estrutura "denunciada" por Roberto Jefferson como sendo mensalão é uma falácia. Há, sim, um projeto de poder petista baseado em dinheiro ilegal, fruto de roubo. Mas pensemos: Roberto Jefferson acusou o governo de pagar "mesada" para deputados aliados para que eles votassem a favor do governo. Essa mesada era distribuída mensalmente, daí o nome de "mensalão". Agora pergunto: por que diabos o governo teria que pagar para deputados do PT votarem a favor do governo. Sim, alguns dos cassados são do governo, e houve um rebuliço geral quando Roberto Brandt (PFL), foi absolvido; quando que o PFL votou junto com governo? Faria sentido a estrutura do mensalão caso os deputados envolvidos fossem PMDB, PPS e outros.
Há corrupção. Sempre houve. Mas dizer que esse é o maior escândalo de corrupção do país, que por muito menos derrubaram o Collor... Fala sério!

Ouvi um dia desses de um professor: "As faculdades estão mandando doutores embora por culpa do Lula... o Lula, aquele imbecil que nunca estudou, tá nem aí para os doutores...". Não é bem assim.
A regra com relação ao número de doutores em faculdades é de 1996. Nela consta que 30% dos professores de uma faculdade têm que ser mestres OU doutores. O problema reside nesse ou. Quando a coisa aperta (o que aconteceu na PUC-SP, por exemplo), eles mandam os doutores embora, pois estes recebem mais que os mestres.
No entanto, desde que Tarso Genro era ministro da educação, rola por aí um projeto de lei que define o número de doutores numa faculdade, dentre outras medidas extremamente benéficas para o ensino brasileiro. Quem está barrando? PSDB e PFL.

Enfim... isso é o esboço de um manifesto. Cansei de ouvir chamarem o Lula de imbecil, idiota, e inventarem coisas absurdas o acusando. Fosse Fernando Henrique vítima desses absurdos, haveria comoção mundial, pois o príncipe dos sociólogos segue incólume depois do escândalo das privatizações, sobretudo a da Telebrás, onde há envolvimento direto do presidente na negociação, comprovado por fitas entregues à Folha de São Paulo.

Digo logo que meu voto possivelmente não será do Lula, e que não aprovo o projeto de poder petista. Votei no Lula, me empolguei bastante, mas hoje me vejo frustrado. Mas recuso a possibilidade de me juntar aos histéricos de plantão. De acordo com os histéricos, tudo o que se diz de ruim sobre o Lula e sobre o governo é fato, inclusive (meu deus, como isso é hilário!) a colaboração cubana na época das eleições. Tudo o mais é boato. Millôr Fernandes, muito antes de escrever na Veja, disse: “Opinião pública é a que se publica”.
As pesquisas mostram o contrário. Não que a hipótese de um novo governo Lula seja a melhor solução. Tenho medo das entranhas do PT. Mas mostra, ao menos, uma certa coerência do povo em não odiar o presidente por suas origens. O povo.

10 maio 2006

Minha Rosa

"Minha rosa, sem dúvida um transeunte qualquer pensaria que se parece
convosco. Ela sozinha é, porém, mais importante que vós todas, pois foi a
ela que eu reguei. Foi a ela que pus sob a redoma. Foi a ela que abriguei
com o pára-vento. Foi dela que eu matei as larvas (exceto duas ou três por
causa das borboletas). Foi a ela que eu escutei queixar-se ou gabar-se, ou
mesmo calar-se algumas vezes. É a minha rosa."
Trecho de O Pequeno Príncipe, escrito por Antoine de Saint-Exupéry


Tempestades torrenciais; em seguida, o sol escaldante. O vento forte. Te reguei com lágrimas. A única redoma em que consegui te pôr foi meu coração. Queixou-se, gabou-se e calou-se um tempo. Me furei nos seus espinhos. Já quis te esquecer.
Pensei que nunca, nem por um instante, ias ser minha rosa. Berrei, corri, desfaleci, enlouqueci... Exageros e dramas.
Hoje ainda nos rondam incertezas. Vez ou outra uma angústia nos aflige, e não sabemos nem o que dizer, nem o que vamos ouvir amanhã.
Mas agora que "nosso coração é o seu lugar", me sinto mais feliz. O futuro pra mim é muito importante, saiba; mas ainda mais importante é deixar as coisas acontecerem, como estão acontecendo. Tudo ao meu redor vem adquirindo uma luz e uma beleza incomum antes de você surgir e estar ao meu lado.
A sua presença me faz bem. Chamam isso de amor.

Somos fadados a cometer os mesmos erros, o que denota relativa burrice; somos vítimas, quase sempre, de repetidos erros alheios. Meu erros são excessos, independente do que se trate. Sou vítima, sempre, de renúncias.
Há um equilíbrio; amenizemos.

05 maio 2006

"Àquela pessoa feitinha pra mim" ou "Aquela pessoa feitinha pra você"

Esse texto foi escrito por mim há mais de um ano. Dois, talvez. Tempos atrás eu lia e relia e discordava do que escrevi! Algumas pessoas o adoraram. Hoje ele faz sentido novamente!!!

"Aquela pessoa feitinha pra você não é passível de interpretações, tão pouco a argumentos lógicos. Você bate o olho, troca algumas palavras, e se metade das palavras dela entraram no seu ouvido suaves como um solo de violoncelo, você cai em si (e dói, viu, por que é duro cair em si...), e diz pra si mesmo: essa é a pessoa feitinha pra mim.
Na maioria dos casos, essa pessoa não se acha feitinha pra você; então se prepare, você, que já tinha caído em si, agora cai num precipício muito mais angustiante, por que não chega ao fim. Mas isso são detalhes que tornam a pessoa feitinha pra você muito mais feitinha pra você.
Aquela pessoa feitinha pra você tem tantos defeitos, que se esses defeitos não fossem, também, feitinhos pra você, ela seria aquela pessoa feitinha pra você dar umas boas porradas. Aquele tipo de pessoa que você nem precisa saber porque está batendo, mas ela sabe por que está apanhando. Mas ela é tão feitinha pra você, que por uma questão de milímetros ela se encaixa perfeitamente nos defeitos também (aliás, diga-se de passagem, os defeitos são feitinhos pra você aprender um monte de coisa).
Aquela pessoa feitinha pra você não parece nada com a pessoa feitinha POR você... a pessoa feitinha pra você, aliás, é a antítese da pessoa feita POR você. Ela é mil vezes melhor que a outra – a idealizada – por que ela é real, mas de uma realidade transcendente, o que prova que você não serve pra nada, nem pra idealizar a pessoa feitinha pra você.
Aquela pessoa feitinha pra você acha muitos defeitos na sua personalidade, no seu jeito, nos seus hábitos, em tudo (ela foi feitinha pra você melhorar, aprenda!), e fica falando coisas como se fosse uma psicóloga alemã.
Aquela pessoa feitinha pra você é extremamente irritante ao teimar em querer achar uma outra pessoa feitinha pra você, quando esse alguém está escondido dentro dela, e só ela pode achar.
A pessoa feitinha pra você é feita pra te ensinar muita coisa, inclusive, também, a ser dela, o que é o mais difícil.
Aí entra a segunda parte da tarefa:

Para ser daquela pessoa feitinha pra você, você tem que inicialmente, ter uma estratégia infalível: NÃO HÁ ESTRATÉGIAS!
Para ser daquela pessoa feitinha pra você, esqueça todo o passado frustrante que você teve com outras pessoas que não eram feitinhas pra você.
Para ser daquela pessoa feitinha pra você, prepare-se pra matar todos os fantasmas da sua infância e adolescência. Você já é adulto!
Para ser daquela pessoa feitinha pra você, vá se acostumando com esse outro ‘eu’ que foi aparecendo aos poucos (esse ‘eu’ é feitinho pra pessoa feitinha pra você!)... e se prepare: daqui algum tempo você vai ter mudado tanto, que não se reconhecerá. Isso é Amor!!!
Para ser da pessoa feitinha pra você, use muitos enfeitizinhos pra embelezar o amor de vocês: homens, muitas flores e carinho (homem tem essa dificuldade de demonstrar as coisas, e as flores foram feitas para completar os homens naquilo que eles têm que não agradam as mulheres, acreditem); vocês, mulheres, muitos sorrisos, muito carinho (não se preocupem, pois vocês dão de dez em toda a poesia e flores). Mulheres: Sejam! Homens: Estejam!
Pare ser daquela pessoa feitinha pra você, não se preocupe com mais nada além dela. As coisas todas esperam vocês chegarem, mas a pessoa feitinha pra você é ligeira e se bobear, ela some. (aí muitos se perguntam, e depois perguntam a mim – principalmente você, né, pessoa feitinha pra mim?! – se ela era feitinha pra mim, por que vai embora? Hahaha aí vem uma história longa, muitos argumentos que eu, mero escriba, teria que inventar como dizer. Se a pessoa feitinha pra você foi embora, de duas uma: ou você não quis ser feitinho pra ela, ou ela não era feitinha pra você. Ou então vocês (nós?) eram tão feitinhos um para o outro que coincidiam até na impaciência. Esse é assunto para um outro e-mail... Não estou nem esquentando a cabeça com isso por que a pessoa feitinha pra mim foi feitinha pra mim e pronto)

Para ser, enfim, feitinhos um para o outro, há de sempre buscar o máximo nos mínimos detalhes (é... eu quem diga o quanto é difícil!), e se preparar para as briguinhas feitas por vocês, para os biquinhos de ‘tô-de-mal’ feito por vocês, para um monte de problemas e ‘não me toques’, para aqueles amigos que sempre dizem: “fala sério, ela (ou ele) não te merece”, para a ausência de tempo, para a presença do tédio...
Pessoa feitinha pra mim: eu te amo!!!"

Tempo da Delicadeza


“(...) E parecia-lhe que entrava enfim numa existência superiormente interessante, onde cada hora tinha o seu encanto diferente, cada passo conduzia a um êxtase, e a alma se cobria de um luxo radioso de sensações!”
Trecho de O Primo Basílio, escrito por Eça de Queiroz


Tenho uma tendência ao drama. Uma atração poética, creio. Na ausência de uma tristeza de origem amorosa, me sinto aflito. Acho isso engraçado.
Aliás, isso é típico: agora tudo soa engraçado aos meus ouvidos.
A idéia de ausência persiste, mas é diferente. Antes, era uma Ausência pura, que independia da idéia de presença. Agora não. É uma ausência como negação da presença. Tá, tá... é difícil entender. Mas eu sei o que é.
Perdem-se as idéias abstratas de excesso, desvario, boemia, malandragem. O que antes eram 'idéias abstratas' são substituídas por abstração pura. Reina a abstração, e isso é bom.
(Apesar que ainda persiste uma vontade muito grande de algo parecido com comemoração. Resquícios de alguma coisa supostamente passada.)
Não que as coisas passem a ter sentido, mas a gente passa a ter sentido como sendo direção. As dúvidas permanecem, as revoltas, algumas angústias. Mas há uma direção. Um "oriente que me reja", como diz Leminski.

Enfim... o título desse texto é de uma música do Chico Buarque. Era uma boa idéia. A epígrafe também foi escolhida com carinho. Mas o texto não sai! Fiquei muito tempo pra escrever essas poucas palavras. Minha cabeça está em outro lugar.

:-)

02 maio 2006

"Foi o tempo que perdeste co a tua rosa que a fez tão importante"

Essa frase não me sai da cabeça. Pior: não consigo escrever sobre ela.
Sei exatamente o que pensar, o que aconteceu, sobre quem iria falar... mas não sei como escrever.
Às vezes as coisas fluem somente diante do computador. Desembesto a escrever e concordo depois que leio.
Nesse caso não. Travei.


Isso é ruim. Péssimo.

30 abril 2006

22 Anos

"Raiva de não ter trazido o passado roubado na algibeira!... O tempo em que festejavam o dia dos meus anos!..."
Álvaro de Campos

Acho que desde março fiz do meu aniversário uma farsa; tal qual, há alguns anos, faço de minha vida outra farsa. Um fiasco. Às definições etimológicas de fiasco:

it. fiasco 'frasco de vidro', (a1313) 'êxito negativo, insucesso', it. far fiasco (1808) 'fazer fiasco' do lat.med. flascum (1238) 'frasco'; a expressão far fiasco é atribuída ao que ocorreu com o arlequim bolonhês D. Biancolelli (a1681) que, tendo fracassado em sua apresentação no dia em que levou para o palco um frasco, colocou nele a culpa do insucesso.

Larguei (!) meu celular nalgum lugar. Encerremos esse assunto por aqui.
Fiz da minha vida um drama em torno de hipóteses amorosas frustradas. Coloquei isso na frase descrição de meu blog.
Quis me tornar certinho, paguei dividas, fiz a barba, distribuí sorrisos. Farsas. Fiascos.
Hoje vejo em muitos recados menções à minha imagem, bastante cultivada e querida, de boêmio e alcoólatra. Outra farsa. Nesse caso, bebo sim, vou vivendo, blábláblá. Mas tento rememorar o momento que quis fazer disso um charme. Perdi. Outro fiasco.
Liguei pro meu amor indelével pra ouvir os parabéns. Ela dormia. Comentei amenidades, sorri etc. Ela com sono. Voltei pro computador, li coisas, e conversei com um affair bastante significante, que causa memórias boas e revoltas estranhas em mim. Não dói tanto. É algo bom, ainda que pareça insípido e inodoro. Ainda que... vai saber?

Fiquei muito feliz com várias provas de carinho por mim. Achei legal. 90% dos agradecimentos devo ao orkut, ainda que isso soe como ingratidão. Convenhamos: o orkut lembrou e cada pessoa encarou essa lembrança como algo de si mesmo. Gostei muito de todos os recados. Fiquei feliz mesmo.
Nem sei muito que dizer.
Nem quero dizer. Passadas uma hora e meia do dia seguinte ao meu aniversário, as cervejas acabaram e os 22 anos não fizeram diferença alguma na minha vida. Só os parabéns e a consciência de que consegui cativar algumas pessoas.
Gosto de ser gostado, ainda que nada faça sentido.

Continuo no computador. Vou deitar, ver TV, talvez leia ou escreva mais alguma coisa.
Tenho 22 anos, e minha vida não mudou nada.