07 novembro 2005

A verdade perto demais

Tópico que criei na comunidade do filme Closer, no Orkut:

Na época que esse filme foi lançado eu tinha namorada. Fomos ao cinema vê-lo, e no meio do filme ela queria ir embora, meio frustrada (cheguei a fazer uma breve analogia com Hamlet, mas desisti. Alguém lembra da cena que estou falando?). Tempos depois eu terminei o namoro, sem um motivo claro... Daí poucas semanas recebi um texto chamado "Por quê somos infelizes no amor?", uma análise bastante interessante desse filme. Uma das coisas mais bacanas é quando o autor ressalta a diferença das perguntas dos homens e mulheres quando descobrem a traição. Ela "mas você a ama?". Ele: "Você gozou? Quantas vezes? O pau dele é maior que o meu?". Achei essa sacada fantástica.
E uma outra análise que não estava nesse artigo, mas que acho bacana ressaltar: a questão da verdade no amor. Quando Larry pergunta, na boate, o verdadeiro nome de Alice, ela diz "Jane"; após Larry insistir ela diz "Alice". Agora não lembro se é nessa cena ou se em outra, ela afirma: "Mentir é a coisa mais prazerosa que uma mulher pode fazer vestida" (cito de cabeça...). Após Dan insistir em saber a verdade e Alice vai embora, descobrimos que o nome dela na verdade era Jane mesmo.
Ou seja: uma enorme confusão que não cabe aqui. Queria chegar no seguinte ponto: minha irmã perguntou, depois que vimos o filme em casa: "qual a moral da história?". Eu, que nunca tinha pensado antes nisso, mesmo após sair do cinema meses atrás, disse espontaneamente "quem busca demais a verdade termina sozinho". Foi então que iniciei as divagações filosóficas em torno desse filme. O casal que fica junto é claramente infeliz (vide o olhar da Julia Roberts ao final do filme, que me dá arrepios só de lembrar), enquanto o outro termina após uma conversa sem sentido, numa daquelas obsessões masculinas por verdades, que vez ou outra se repete no comportamento feminino. Aqui, pra foder com tudo de vez, pode entrar a idéia de um filósofo que não me lembro o nome sobre "verdades necessárias" e "verdades contingentes", que Sartre adaptou para "amores necessários" e "amores contingentes", explicando a diferença entre seu amor por Simone de Beouvoir (seu amor necessário) e suas aventuras (seus amores contingentes)... se eu tivesse tempo, escreveria um livro sobre esse filme... mas não dá. Só acho que sob essa ótica da busca da verdade, o filme poderia se chamar "Perto Demais para Amar". E pra completar, cito Caetano "de perto ninguém é normal".
E aí, alguém pode se manifestar com relação a essa questão da verdade no amor? Sobretudo com relação ao passado?

06 novembro 2005

No que consiste o fascínio?

A visão mais clara de fascínio que me vem à mente é a do homem que descobriu o mel após ser picado por dezenas de abelhas. O que o levou a enfrentá-las, sem saber o que ganharia com isso? O fascínio pela colméia era nada perto da doçura do mel, e torna-se então mera curiosidade estúpida, pois nada é mais fascinante que o mel.
Só que essa é uma experiência de sucesso. Imaginem o homem que resolveu... sei lá, pôr a mão no fogo?
Deduz-se daí que o fascínio pelas coisas é pai dos costumes e da ciência.
O homem moderno surge do fascínio que tinha pelos mais fortes, e cria artifícios para que ele seja forte também. Surgem noções de status, poder, fama etc. Dessa relação de fascínio pelo outro surge a sociedade moderna.
Agora vem a parte complicada: é até aceitável que do fascínio pelo outro nasça o Estado moderno, mas no que consiste o fascínio que muitas vezes precede o amor? Quais características fazem com que eu diga: “Sou fascinado por determinada pessoa”? Qual a relação entre mistério e fascínio?
Vamos por partes; primeira coisa: o que é amor?
O Amor não pode estar simplesmente relacionado a noções abstratas de desejo e reprodução. Desde sempre houve a reprodução, e desde sempre existiram conceitos próximos ao que hoje chamamos de beleza: o macho mais forte era melhor reprodutor, e determinadas características das fêmeas faziam com que tivessem melhores crias.
O Amor como concebemos hoje é um conjunto de características comuns entre duas pessoas, agora constituintes de um grupo de pessoas cada vez maior. A escolha do ser amado se dá pelo maior número que ele possui de características que desejamos ou precisamos; agora, a diferença entre desejo e necessidade é um impasse no qual não desejo nem necessito entrar.
O fascínio aplicado ao amor vem da quantidade ou de quais características encontramos em determinadas pessoas. Numa concepção bastante freudiana dessas idéias, o fascínio pode vir também do quanto a pessoa se parece com nossa mãe.
Quando me vejo fascinado por uma pessoa, é por que encontro nela determinadas características que venho esperando encontrar, ou que me são totalmente novas. Ora esse fascínio pode ser a beleza, ora pode ser a inteligência, ora a semelhança com determinada pessoa (uma ex-namorada, por exemplo). Essas idéias aplicadas à primeira pergunta (no que consiste o fascínio que muitas vezes precede o amor?), creio, são bastante claras: o fascínio que precede o amor é o mesmo do homem que descobriu o mel; a curiosidade muitas vezes leva a dulcíssimas descobertas, o que também responde a segunda pergunta (Quais características fazem com que eu diga: “Sou fascinado por determinada pessoa”?). A descoberta de coisas novas por meio de antigos fascínios faz com que sejamos ainda mais fascinados por determinada pessoa, o que torna o fascínio combustível de qualquer relacionamento.
A relação entre mistério e fascínio faz surgir muitas coisas, dentre elas a religião, amores sublimes, amizades subliminares etc. Nem sempre somos capazes de alcançar a colméia, e muitas vezes o medo das abelhas nos impede; por isso jamais saberemos o que tem lá. Mas isso não faz com que eu perca o fascínio. A grande força que as mulheres fazem para criar mistérios em torno de si mesmas (como no conto “A Esfinge sem Segredo” do Oscar Wilde), é justamente isso: manter o mistério faz com que fiquemos sempre próximos do objeto fascinante. Mal sabem elas que além da doçura do mel, existem ainda diversas coisas a se fazer com ele.
Então por que os homens não se esforçam para criar mistérios em torno de si mesmos? Simples: a natureza do homem é inventiva e errante. A cada dia fazemos surgir coisas novas, inventamos, criamos acrobacias. Quando essas já não chamam a atenção ou não causam aplausos, pedimos desculpas e caímos. Se mesmo assim não há reação, armamos o palco em outro lugar.
Para concluir, resta ressaltar as diferenças entre amor e fascínio, pois como se viu, o fascínio pode preceder o amor e dar continuidade a um relacionamento, mas um não é sinônimo do outro.
O fascínio nada mais é que um empurrão ou um combustível do amor. Enquanto o fascínio pode acabar quando acaba o mistério (quem com mais de 10 anos é fascinado pelo papai Noel?), o amor cria para si motivos pra dar continuidade ao mistério.
O fascínio pergunta; o amor responde.

03 novembro 2005

A culpa de toda solidão que existe é das mulheres.
Tenho dito.