28 março 2006

Observações sobre mim mesmo

§ - Minha vida não é perfeita. Não aconselharia um cachorro a me seguir pela rua. Sou todo errado, exagerado, irresponsável...
§ - Faço da minha vida um laboratório das coisas que leio e vez ou outra escrevo. É porque eu AMO literatura. É parte da minha vida e não encontrei nada que me completasse da mesma forma.
§ - A cada passo que dou lembro de algo que li, uma frase, a cena de um filme, um quadro, um trecho de uma biografia, uma história. Há um enorme prazer em beber vinho, mas não há nada como beber e lembrar os versos de Baudelaire: A alma do vinho assim cantava nas garrafas:
"Homem, ó deserdado amigo, eu te compus,
Nesta prisão de vidro e lacre em que me abafas,
Um cântico em que há só fraternidade e luz!
(...)
Porque eu sinto um prazer imenso quando baixo
À goela do homem que já trabalhou demais,
E seu peito abrasante é doce tumba que acho
Mais propícia ao prazer que as adegas glaciais.

Não ouves retinir a domingueira toada
E esperanças chalrar em meu seio, febris?
Cotovelos na mesa e manga arregaçada,
Tu me hás de bendizer e tu serás feliz...

§ - Acusar-me de viver a vida alheia é tolice. Vivo minha vida em sua plenitude; só que a adoço com versos e frases alheias. E se aqui uso a palavra adoçar é porque realmente a considero amarga.
§ - Me encontrar no meio desse turbilhão de frases e mentiras sinceras é tarefa dificílima. À grande maioria, impossível. Mas não faço muita questão.§ - Se eu conhecesse o motivo de minha insatisfação e minha angústia, resolveria o problema, não ficaria me lamentando escrevendo ou resmungando bêbado.
§ - Se eu soubesse exatamente o que quero, largaria tudo e iria atrás. As coisas que tenho certeza que quero esperam atitudes drásticas demais de mim. Nesse ponto, sou covarde, confesso.
§ - Tenho um amor impossível e rude que ocupa todas as minhas possibilidades de felicidade no futuro. Aquela coisa de casinha com jardim e cachorro, sabe? (o cachorro se chamará Caju, em homenagem ao Cazuza). Ela ocupa todas as minhas possibilidades de ser normal e feliz. Isso não quer dizer que eu não me apaixone por mais ninguém.
§ - Sôo cafajeste às vezes, mas não sou, acredite. É que assim pareço mais forte.
§ - Não gosto de conselhos e as observações sobre minha pessoa só são bem recebidas quando elogiosas :D

24 março 2006

Saudosismo

Tudo que de repente surge na minha mente traz junto uma poesia, ainda que ela não exista. Vendo algumas fotos de minha infância, logo lembrei um poema dos Românticos que falava sobre " a aurora de minha vida que os anos não trazem mais...". Aí as pessoas entenderão porque não vivo sem o Google... digitei lá e achei. Descobri que o autor era Casimiro de Abreu.
Faz anos que não leio Casimiro. Li somente no colegial e sem muita empolgação. Mas guardei esse poema na mente... agora ele veio a calhar.
Embora ele não seja exatamente da geração 'mal-do-século', com quem me identifico muito mais, só confirma o fato de eu não ser dessa geração da qual só faço parte por um determinismo cronológico. Eu sou romântico não só no comportamento boêmio e bastante spleen. Tudo em mim é séc. 18, 19...Outra característica é esse laço que tenho com minha mãe, também clássico nos românticos, note-se por um poema do Álvares de Azevedo que, se morresse amanhã, só veria sua mãe e irmã lamentarem. Isso dentre outras milhares de coisas...

Fernando Pessoa fazia parte de uma geração que estava por vir. Eu faço parte de uma geração que já passou.

Eis um trecho do poema:

Oh! que saudades que tenho
Da aurora da minha vida,
Da minha infância querida
Que os anos não trazem mais!
Que amor, que sonhos, que flores,
Naquelas tardes fagueiras
À sombra das bananeiras,
Debaixo dos laranjais!
(...)
Oh! dias da minha infância!
Oh! meu céu de primavera!
Que doce a vida não era
Nessa risonha manhã!
EM VEZ DAS MÁGOAS DE AGORA,
Eu tinha nessas delícias
De minha mãe as carícias
E beijos de minhã irmã!
(Casimiro de Abreu)

13 março 2006

Os outros amores

Existe uma coisa chamada fascínio, que anda junto com o amor. É que o coração é um bicho de sete cabeças, quatorze olhos e uma boca só.
Existe outra coisa chamada desejo, mas esse não anda junto com o amor.

Não há onde a angústia se manifeste tanto como 'modo de ser da liberdade' que no tocante aos sentimentos. Escolher entre: pessoas que te amam, pessoas que te protegem, pessoas que você quer proteger, pessoas que te fascinam, pessoas que te excitam etc, é de uma angústia tremenda. Não há como estabelecer uma lógica.
Muito provavelmente você consegue tirar dessa lista uma pessoa em especial, mas pode ter certeza: ela não quer ficar com você. Aí vem a angústia: e agora, insistir nessa fixação ou correr para os outros amores?
Existem pessoas que quereria sempre ao meu lado. A isso se pode também chamar amor, mas um amor diferente. Ela é agradável, me faz bem, é mais descolada etc e tal. Tem um uma certa independência de mim que em certos momentos é desagradável, confesso. A gente faz questão de se perder, isso é uma espécie de jogo. Nos achamos quando ambos viramos as costas para esse amor indelével de praxe.
Há um amor retroativo e saudosista que só faz se perder pelo tempo e na histeria de uns caprichos. Amor retroativo é uma ótima definição.
Há um fascínio discreto que eu acho que só existe em mim. É minha paixão discreta e adorável. Totalmente silenciosa, diga-se de passagem. É interessante...

Aí os moralistas de plantão vêm de críticas engatilhadas: "porra! você tava aí se estrebuchando todo por um amor 'indelével', 'impossível', bibibi, e agora vem com essa historinha de amor assim, amor assado'.
Calma, calma... aos hipócritas de plantão eu diria somente: atirem a primeira pedra.

Aquele amor

Todo amor tem um interesse embutido, ainda que esse interesse seja reciprocidade ou fidelidade.
Isso na teoria.
Acontece que eu tenho um amor que ultrapassa essa lógica. Não sei se o tempo fez isso ou se vem de um desgaste meu, mas existe uma pessoa na minha vida que ultrapassa até mesmo essa lógica da reciprocidade. É aquilo do outro texto: "amo tanto que já nem ligo".
E quando eu digo que é um amor platônico, não me refiro àquela idéia do mito da caverna. Refiro-me ao amor de O Banquete, que ultrapassa o desejo, a beleza e outras coisas, para atingir seu ápice na bondade. Uma bondade que é sinônimo de carinho.
E quando me flagro pensando no futuro, logo após me censuro porque muito de mim sabe que esse é um amor fadado ao insucesso, sabe-se lá por que. Mas a vida se encarregou de tirar desse amor a euforia do início. Virou um amor feito de paciência e carinho. A euforia só retoma à menor possibilidade de algo ruim acontecer com ela, como seu eu quisesse me postar ao seu lado como um anjo, um remédio. Ela sabe disso. Nós sabemos.
Mas aposto que ela não sabe, assim como eu, o porquê dessa distância. Eu entendo essa distância e essa aparente impossibilidade de ficarmos juntos como um castigo. E, tal qual personagem de Kafka, aceito o castigo.
O erro possivelmente resida aí.
Se aparentemente duas pessoas se amam (uma ama mais que a outra, lógico), manifestam esse amor através do carinho declarado de ambos, por que não ficam juntas?

Mas estariam elas realmente separadas???


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Egoísmo e Amor

O auge de um egoísta é respeitar o egoísmo alheio, ainda que ferido.
Mas o egoísmo não deve nunca se meter onde mora um sentimento. Sou egoísta, confesso; mas meu egoísmo se transforma num altruísmo cego e tolo quando o assunto é amor. E o amor se dá de várias formas, como todos sabem.
Agora quando uma pessoa, sob a falsa alegação do amor que sente, se torna egoísta a ponto de atacar o amor alheio, faz de si o veículo de um capricho que erroneamente batizou de amor.Quando realmente amamos alguém, aprendemos a respeitar esse alguém e, sobretudo, o que esse alguém sente. Pois não há como competir com o amor. Não é uma batalha do tipo: extermine o adversário.

Aos que não me entendem

"Todo mundo é saudavelmente pretensioso a ponto de pensar na posteridade de seus próprios escritos. Ninguém escreve para si mesmo. A necessidade é egoísta, como se fosse preciso escrever para continuar a viver menos amargamente, mas a intenção é que os outros leiam".
Essa é a primeira frase do primeiro texto que publiquei nesse blog, no dia 12/10/2005, mais de 16 mil palavras atrás (o word me ajudou a contar). Faço algumas outras considerações:
As pessoas carregam em si convicções e sentimentos particulares que algumas vezes coincidem com o de outras pessoas. Na maior parte das vezes, o encontro de idéias e convicções se dá de forma superficial; a esse encontro dá-se o nome de sociedade: agrupamento de gente superficial com sentimentos e convicções superficiais. Dentro de uma sociedade existem subagrupamentos de sentimentos e convicções: partidos políticos, igrejas, times de futebol etc. Nesses agrupamentos, em grande parte, as convicções e sentimentos são manifestados através de um símbolo ou totem: sigla do partido, jeito de se vestir, camisa do clube etc.
O gesto de escrever naturalmente nos limita a um grupo de pessoas que, se não compartilha dos mesmos sentimentos e convicções, os respeita. Nunca quis que ninguém me entendesse. Escrevo para não me sentir sozinho. Quando digo que a idéia é que os outros leiam, digo a verdade: qualquer um pode ler. A internet assim o permite.
Mas querer monitorar minha vida através de minhas cismas é um gesto tacanho. Embora vejamos muito do estado psíquico de uma pessoa através do que ela escreve, minhas cismas não são o resultado de um exame de sangue para saberem como está minha saúde. Minhas cismas não são o prelúdio de nada.
Um dos grandes prazeres de escrever é ouvir: "putz, eu entendo..." ou "é exatamente da mesma forma comigo". Se a limitada sensibilidade de algumas pessoas não lhes permite entender o que são minhas cismas, infelizmente o caminho é buscar na sociedade - agrupamento de gente superficial com sentimentos e convicções superficiais - um símbolo ou totem qualquer.

Quando eu achar que é interessante alguém saber, eu digo quem é S. ou pra quem escrevi o texto "Não". Se limitem a possibilidade de sentir algo como eu sinto, não em saber por que ou por quem eu sinto.
E quando me fizerem perguntas e as respostas forem diferentes das coisas aqui escritas, entendam: é reflexo da sociedade em que vivemos. E se eu disser que meu celular molhou em vez de dizer que o joguei na parede, não pensem "ó meu deus, ele está mentindo porque amanhã ele vai se matar". Não. Pense naqueles momentos de revolta pelo qual, aposto, todos passaram, mas não tiveram coragem de fazer o que queriam. Tão pouco de escrever com certa naturalidade sobre isso e todas as paixões frustradas, os amores impossíveis, as revoltas contidas, as indiferenças e a falta de vontade.

Eu ia desistir da idéia de ter um blog por esse desconforto causado por perguntas inoportunas. Mas não. Quem não conseguir conviver com as minhas cismas e a minha pessoa (pessoa - do grego persona: máscara), abandone ao menos as minhas cismas.

P.S.
Quase agora eu estava cagando. Sim, sim... fazendo cocô. Pensei: escrever é como cagar; é botar pra fora coisas às vezes sujas. Há um acordo tácito entre todo ser humano de que ninguém caga. Eu não vou me levantar de uma mesa e falar: vou cagar. Todos ali já sabem e raramente comentarão isso. Os teólogos de antigamente discutiam a possibilidade de os santos cagarem ou não... imaginem só: Jesus cagou!

05 março 2006

Crônica de Um Desespero

E eu abri os braços, fechei os olhos, dancei e chorei. Não lembro quais músicas, não lembro quem estava ao meu redor. Mas deveria haver barulho sim. Mas eu era silêncio. Silêncio e lágrimas.
E antes disso eu havia bebido muito e desesperadamente. Como já tenho precedentes de loucuras etílicas, deixei as lágrimas sob o álibi do álcool. Ninguém precisa saber. Um pouco antes eu ainda tentei buscar nas mãos de uma paixão antiga, mas pouco significativa ante aos fatos recentes de meu amor indelével, um meio de não cair nesse buraco de lama em que eu sabia que ia cair. Ela me ignorou, e eu caí sozinho. Mas isso era normal... sempre foi assim, e eu nem liguei. Se fosse um outro dia, talvez eu devesse falar pra ela dessa minha paixão discreta que me assola há tempos. Mas ali não fazia sentido... não quando eu estava com umas 10 baratas kafkianas no meu estômago, junto com aquele personagem de “A Construção” cavando com os dentes trilhas dentro de mim.
Puta que pariu, como doía.

Braços abertos, mexer frenético de pernas e mãos e cabeça. Boca aberta de alguém que estivesse prestes a gritar. Mas eram suspiros. Lágrimas... Meu pescoço estava molhado de lágrimas... de onde vinham tantas lágrimas?
Eu deveria ter ido embora. Mas resolvi fazer uma força sobre-humana pra brilhar. E devo ter brilhado.Teve um momento, ainda no bar, em que eu pensei que ia sair correndo. Deveria ter corrido e sumido por muito tempo. Me imagino correndo e gritando como os personagens das peças “Teatro Noturno” que escrevo, se equilibrando no muro da av. Washington Luiz, como já fiz outras vezes. Mas não... ninguém merecia compartilhar comigo aquela dor. Saindo do bar, antes de ir pra ‘balada’, desabou uma pequena tempestade, mas ninguém soube: eram minhas lágrimas que caíam do céu.
Levantar brusco das cadeiras. Ir ao banheiro. Pedir a conta. Digitar a senha. No carro, ainda cantamos. Fazia sentido cantar.
Acho que depois que saí do carro, quase não falei. Dancei, bebi, e depois... chorei. Já sabe. Eu deveria ter abraçado minha paixão discreta e chorado nos ombros dela (lembro da minha mão na cintura dela, mas ela fugiu). Talvez aliviasse muita coisa. Mas ela não sabia de nada, nem de minha paixão discreta por ela (com certeza esse não era bom momento para esse tipo de comunicado), nem dos motivos das lágrimas. Acho que ela ia se assustar. Foi a partir daí que eu fechei os olhos. E na escuridão dos olhos fechados só havia meu amor indelével. Daí as lágrimas.
Quando me senti um foguete caído (melhor ser um foguete caído do que não ter nenhuma explosão de luz, Wilde), fui embora sem me despedir. Havia filas ainda, e na fila ainda tinha lágrimas saindo dos meus olhos. E as pessoas tão felizes, entre abraços e beijinhos e carinhos sem ter fim, não entendiam nada! A cara das pessoas era engraçada, tenho que confessar. Sim, é de se destacar: era uma balada GLS. Quem me arrastou foram minhas amigas, e eu nunca entraria num lugar assim em dias normais. Mas ninguém me enchia o saco e eu não estava nem aí. Eu, que de gay só tenho as lágrimas fáceis e uma sensibilidade acentuada, estava dançando e chorando numa balada GLS por uma menina que tinha um problema ainda maior que meu maior-amor. Mas independente do que acontecesse, eu ficaria com ela o resto da vida em nossa dulcíssima prisão. Ela sabe, mas não entende. E eu também rasparia a cabeça, pode ter certeza. E a faria sentir-se a mais linda das pessoas, pois ela realmente era. É.
Mas não vai acontecer nada, tenho certeza. Eu choro por que sou um idiota. E talvez nem fiquemos juntos, idiotas que somos.

Ao chegar na rua, já era dia e eu não sabia onde estava. Peguei um táxi e dentro do táxi ainda havia lágrimas escorrendo dos meus olhos. Motorista perplexo. Todos estavam.
Em casa, a fúria. O que era delicadamente escorrido pelos olhos, virou uma ira inexplicável, vinda junto com as lembranças dos compromissos do dia que começava, que dali algumas horas viraria um insistente tocar e vibrar do celular. Sim, o celular. Olhei pro celular como quem olha pro próprio algoz e o atirei na parede. Fiquei feliz por alguns instantes. Como só se fizeram 3 ou 4 pedaços do celular, peguei a parte maior e atirei de novo. Foi legal... Vários pedaços.
Dormi.
Acordei com os olhos inchados. Tomei um banho, me troquei e peguei os estratégicos óculos escuros lembrando de uma música do Mautner, que me foi apresentada por Caetano: “eu uso óculos escuros pras minhas lágrimas esconder”. Ah... e no metrô a mesma perplexidade coletiva. Tanto faz... tanto faz...
Nos falamos ao telefone e eu não tinha forças pra dizer: “calma...”. Era ela quem dizia pra mim. Lembrei da mensagem que me deu a notícia e terminava com um “eu também te amo”. Eu chorava, ela percebeu. E eu, sempre cheio de palavras, não tinha o que dizer.
A pessoa feitinha pra mim, musa-mor dos meus textos mais bonitinhos... Palavras estranhas: nódulo... hipófise... 7 mm. Contexto de poema do Augusto dos Anjos.
Pesquisando na internet, vi que isso não gera lá grandes problemas. Tem até comunidade no orkut.
Mas eu continuo querendo fugir. Agora mais do que nunca. E não vou comprar outro celular nem tão cedo. Estou de férias. Eu morri um pouco ontem...

02 março 2006

Eu sou a água e o vinho