30 abril 2006

22 Anos

"Raiva de não ter trazido o passado roubado na algibeira!... O tempo em que festejavam o dia dos meus anos!..."
Álvaro de Campos

Acho que desde março fiz do meu aniversário uma farsa; tal qual, há alguns anos, faço de minha vida outra farsa. Um fiasco. Às definições etimológicas de fiasco:

it. fiasco 'frasco de vidro', (a1313) 'êxito negativo, insucesso', it. far fiasco (1808) 'fazer fiasco' do lat.med. flascum (1238) 'frasco'; a expressão far fiasco é atribuída ao que ocorreu com o arlequim bolonhês D. Biancolelli (a1681) que, tendo fracassado em sua apresentação no dia em que levou para o palco um frasco, colocou nele a culpa do insucesso.

Larguei (!) meu celular nalgum lugar. Encerremos esse assunto por aqui.
Fiz da minha vida um drama em torno de hipóteses amorosas frustradas. Coloquei isso na frase descrição de meu blog.
Quis me tornar certinho, paguei dividas, fiz a barba, distribuí sorrisos. Farsas. Fiascos.
Hoje vejo em muitos recados menções à minha imagem, bastante cultivada e querida, de boêmio e alcoólatra. Outra farsa. Nesse caso, bebo sim, vou vivendo, blábláblá. Mas tento rememorar o momento que quis fazer disso um charme. Perdi. Outro fiasco.
Liguei pro meu amor indelével pra ouvir os parabéns. Ela dormia. Comentei amenidades, sorri etc. Ela com sono. Voltei pro computador, li coisas, e conversei com um affair bastante significante, que causa memórias boas e revoltas estranhas em mim. Não dói tanto. É algo bom, ainda que pareça insípido e inodoro. Ainda que... vai saber?

Fiquei muito feliz com várias provas de carinho por mim. Achei legal. 90% dos agradecimentos devo ao orkut, ainda que isso soe como ingratidão. Convenhamos: o orkut lembrou e cada pessoa encarou essa lembrança como algo de si mesmo. Gostei muito de todos os recados. Fiquei feliz mesmo.
Nem sei muito que dizer.
Nem quero dizer. Passadas uma hora e meia do dia seguinte ao meu aniversário, as cervejas acabaram e os 22 anos não fizeram diferença alguma na minha vida. Só os parabéns e a consciência de que consegui cativar algumas pessoas.
Gosto de ser gostado, ainda que nada faça sentido.

Continuo no computador. Vou deitar, ver TV, talvez leia ou escreva mais alguma coisa.
Tenho 22 anos, e minha vida não mudou nada.

28 abril 2006

Os Grandes Amores e o Sapo

"Acontece que meu coração ficou frio"
Cartola

Se jogarmos um sapo na água quente, ele pula. Se o colocarmos na água fria e esquentarmos até ferver, ele morre cozido.
Tal qual o sapo que de início refestelava-se na água fria, diante de grandes amores nos refestelamos em sonhos, declarações e presentes. Com o tempo, o calor da água faz o sapo perder a disposição de nadar. Nós, diante da frieza do ser amado e da aparente impossibilidade de o amor dar certo, perdemos o sorriso e ganhamos cinismo. Fazemos poesias. O sapo continua na água, nós continuamos amando.
Água muito quente, o sapo parece morto, pára de nadar. Coração já esfriando, nos entregamos à melancolia e ao desamparo.
Fervida a água, morto o sapo. Coração congelado, fazemos política.

Obs.: Apesar de a idéia da água quente e do sapo ser um jargão popular, ninguém nunca se perguntou quem fez essa experiência; os detalhes foram tirados da minha imaginação. Creio que foi assim:
Alguma mulher que conhecia o mito do príncipe transformado em sapo ficou com nojo de dar o beijo, ainda que soubesse ser ele um príncipe. Buscou outras formas de transformá-lo em príncipe, dentre elas essa experiência usada por mim como metáfora para os grandes amores.
O final feliz foi forjado por algum literato feliz. Na minha opinião, a infeliz mulher matou o sapo, o príncipe, casou com algum plebeu idiota etc...

26 abril 2006

Sobre o Orkut e sua novidade

Algum estudioso – creio que sociólogo – analisou a difusão do Orkut no Brasil da seguinte forma: ao contrário dos americanos, o brasileiro é realmente cordial como já havia afirmado o Sérgio Buarque de Holanda, e a idéia de uma seleção (darwiniana?) de convidados por critérios de amizade, aqui não funcionou. Quem costumava freqüentar salas de bate papo, não raro encontrava alguém mendigando: “ow, vc tem orkut? Me manda convite!”. E embora houvesse tentativas de comercialização de convites (o brasileiro e a velha mania de tirar vantagem), muitos distribuíam sem nem conhecer a pessoa. Lembro que quem teve essa idéia, disse que muitos brasileiros conhecem pessoas na fila do banco, por exemplo, e dias depois a convida pra almoçar em casa. Em parte isso é verdade, e provavelmente explique dominarmos 71,18% do orkut (dado de 26/04/2006). Isso sem falar que no começo havia aquele boato de que quem não colocasse EUA como país, teria acesso a uma conexão mais lenta.
Mas as coisas vêm mudando.
Até pouco tempo havia um pacto universal: eu abro mão da minha privacidade, você abre mão da sua, mas fica por aqui; não fazemos comentários. Os primeiros que se manifestaram contrários a isso sem medidas drásticas demais (abandonar o orkut definitivamente), passaram a deletar os recados que recebiam. Outros saíam de comunidades que gerariam problemas com a família, tipo “todo mundo fuma maconha” (hehe: eu fui um!). Não duvido que quem de repente arruma namorada ou está nalgum flerte mais esperançoso, rapidamente abandone comunidades tipo “adoro as morenas” quando flerta com loiras ou vice-versa. Até aí, sendo um pouco sensato, era possível viver serenamente no orkut.
Agora esse negócio de a pessoa saber que visitamos o perfil dela é uma questão existencial!
Não bastasse a transição ICQ / MSN não admitir, logo de início, conversamos com quem quiséssemos sem que os outros soubessem que estávamos on-line (ficar “invisível”, lembra?), e daí o MSN nos jogar num mato sem cachorro, “bloquear ou não bloquear?”, agora surge essa novidade!
Diga-se de passagem, essa novidade tem um quê de sadismo:
“você poderá evitar que outros usuários saibam que você olhou seus perfis visitando http://www.orkut.com/settings.aspx e selecionando "Desativar visitantes do perfil". Observe, entretanto, que isso evitará também que você saiba quem visualizou o seu perfil.”
E agora, o que fazer? Ao mesmo tempo em que não quero que saibam quem eu visitei, quero saber quem anda fuçando meu perfil! Não foi pouca minha surpresa, por exemplo, ao ver uma pessoa que me excluiu de sua lista de amigos visitando meu perfil!
Ainda não bloqueei esse recurso. Estou sendo seleto ao visitar perfis alheios, e não me entrego com tanta facilidade à curiosidade de saber aonde fulana ou cicrana vai nesse fim de semana, ou com quem anda flertando. Mas já vi muita gente desesperada falando em abandonar o orkut! Isso sem falar nos que já bloquearam o recurso.
Fico imaginando o pobre Hamlet numa situação dessa: ver ou não ver?

Obs.:
Hoje, dia 26/04/2006 são 17.000.631 pessoas, 71,18% brasileiros.
IDADE:

08-25 - 58,10%
26-30 - 14,42%
31-35 - 06,75%
36-40 - 03,75%
41-50 - 03,85%
50+ 02,44%

RELACIONAMENTO:

não há resposta 27,97%
solteiro(a) 41,21%
casado(a) 13,52%
namorando 15,28%
casamento aberto 0,27%

Na minha opinião, cairá bastante o número de casados e pessoas com mais de 26 anos.

A Boca

De acordo com a mitologia judaico-cristã, da boca de deus saíram palavras que criaram quase tudo na terra, exceto o homem. O homem foi feito do pó/barro, então Deus soprou-lhe, com a boca, a vida em suas narinas. Nossa vida é o hálito de Deus.

Talvez a busca constante por bocas alheias venha disso. Como se em vez da vida, buscássemos do hálito ou da boca alheia alguma forma de vida. O amor, talvez.

E não sei quem foi o engraçadinho que deu o nome “boca” àquele lugar onde buscam paraísos artificiais. E a pior das piadas: lá é possível receber algo aspirado por nossos narizes! Rsrsrsrsrsrs

18 abril 2006

A necessidade de estar junto

Mais comentários meus no tópico que criei na comunidade "Closer", no orkut:


Até onde a necessidade de estar junto é amor?

Ontem, no Café Filosófico da TV Cultura, Ivan Capelatto proferiu uma palestra cujo título era "O Amor na Era da Sobrecarga". Após explicar a evolução do amor desde a infância, ele chega a três pontos chaves da possível classificação psicanalítica do amor: neurose, psicose e psicopatia.

A neurose, origem da "afetividade neurótica" vinda da necessidade de cuidar do outro, é tida por ele como sendo uma forma de amor perfeita, ao menos até onde isso não extravasa. A psicose é a idealização platônica da figura amada. Idealização que chega a ponto de a presença da pessoa se tornar insuportável.
A psicopatia é síndrome do "amor na era da sobrecarga", tema da palestra. Aqui, o amor só existe quando a pessoa está perto. Na ausência dela, o amor acaba.

Em Closer, toda forma de amor é um tanto psicopática, partindo desses princípios. Há formas estranhas de amor, mas não há esse amor que quer cuidar do outro. Há, muito, a noção e idéia de posse do outro.
Por mais que essa psicopatia seja síndrome dos dias de hoje, a estranheza que Closer causa é ao nos mostrar sem pudor essa nossa tendência, bastante universal. É mais uma frase do Wilde: “a aversão do século XIX ao Realismo é a cólera de Caliban por ver seu rosto no espelho, a. aversão do século XIX ao Romantismo é a cólera de Caliban por não ver seu rosto no espelho”. Estranhamos ao nos depararmos com nossa própria feiúra.

Todos queremos um amor pra cuidar, mas nos fundo temos medo. Somos medrosos e indiferentes. O ápice de nossa época é citado por Capelatto como sendo o caso de uma pessoa que fica com alguém que quase despreza, e mantém idealizada a figura que se tornou platônica por nossa covardia. Temos medo de conquistá-la e perdê-la dali um tempo. Sou bom o suficiente? Será que se aparecer alguém com uma Ferrari ela vai preferi-lo?

Somos inseguros, esse é o problema. Nos entregamos a esses amores que não temos medo de perder. Fazemos nossos dramas, mas no fundo é indiferente. Mantemos idealizada uma figura que nunca vamos buscar por medo.

Talvez seja esse o motivo da angústia no olhar de Julia Roberts no final do filme.

17 abril 2006

O Amor na Era da Sobrecarga

Não foi pouca minha empolgação quando vi o tema do Café Filosófico de ontem: "O Amor na Era da Sobrecarga", por Ivan Capelatto.

Capelatto faz uma explanação geral do amor, começando na dita “fase oral” da criança, que se dá entre os 5 e 6 anos de idade. Como todo mundo já deve ter testemunhado, as crianças dessa idade são extremamente chantagistas, merecendo de Freud a alcunha de "pequenos monstros poliformes". Predomina nesse amor, dito narcísico, o interesse de autopreservação.

Na fase seguinte, chamada fase fálica, ocorre a diminuição do amor narcísico e o aumento do amor pelo outro. Essa diminuição se dá pela aquisição da capacidade de simbolização das crianças, onde a mãe passa a ser sinônimo de segurança. Capelatto cita a idéia - não sei se freudiana - de "amor pertinência"; pertinência, pela definição do dicionário, é "aquilo que concerne ao assunto". Creio eu que o assunto aqui é preservação e segurança.

Por volta dos 6 anos se dá o amor pelos iguais - homo. Nessa fase, chamada de "latência", a criança começa a amar o que há de igual a si no outro, daí aquelas amizades inseparáveis, onde duas meninas precisam até mesmo ter o corte de cabelo parecido. Na adolescência ocorre a superação dessa fase, onde, teoricamente, aprendemos a amar as diferenças que há no outro. Porém, nem sempre isso ocorre, dando origem ao amor homossexual. Interessante notar que o amor homo não ocorre obrigatoriamente entre pessoas do mesmo sexo. Há amor homo entre homens e mulheres, assim como há amor hetero (amor pelas diferenças) entre dois homens ou duas mulheres.

Fecha a primeira parte da palestra citando a maturidade como sendo um amor cuidador; inicia a seguir uma explanação sobre neurose, psicose e psicopatia.

Neurose, aplicada ao amor, se resume ao medo de perder a pessoa amada. Capelatto diz que a afetividade neurótica é a mais perfeita, pois ao mesmo tempo em que temos consciência de si, mantemos a preocupação com o outro. Exemplo ótimo que ele dá na palestra: o cara tá lá, tomando cerveja, e a mulher diz "amor, é melhor você parar de beber". Ele, de certa forma irritado, começa a beber mais como numa espécie de provocação. Quando ela não está ali, enchendo o saco dele, beber perde a graça!

No caso do amor materno, a extravasão dessa afetividade neurótica pode causar insegurança na criança. Quanto aos adultos, Capelatto só vai mais além ao ser questionado sobre o ciúme como forma de afetividade neurótica. Embora ele fale bastante sobre o ciúme na parte reservada à perguntas, o assunto fica meio no ar, e ele mesmo diz que o ciúme em suas várias formas teria que ser tema de outra palestra. Mais pra frente vou adiante sobre essa questão da extravasão da afetividade neurótica.

A característica principal da psicose é a dificuldade de estabelecer uma identidade própria. Muitos são os "amantes psicóticos", pois a característica dessa forma de amor é a idealização da pessoa amada a ponto de a presença dela se tornar insuportável. Primeira figura que me veio à mente: Álvares de Azevedo.

Já na psicopatia, o amor só ocorre na presença do outro. Na ausência da pessoa amada, acaba o amor. Esse é o amor na era da sobrecarga, era da "anarquia afetiva", como diz o próprio Capelatto. Típico da juventude, mas presente também na maturidade, esse amor de consumo é fruto da busca imediata por prazer, pois passamos a descrer no futuro. Muitos são os casos de pessoas que ficam com quem não gostam, quase desprezam, deixando de lado a pessoa que realmente amam por não acreditar que ficarão juntos.

A busca psicopática pelo prazer faz reinar no mundo uma "anarquia afetiva", onde não há limites, tão pouco lei. Há somente a "obrigação do prazer imediato" (na minha opinião, o prazer é, por depender do outro, mediato. Mas esse é outro assunto).

Sem limites e sem afetividade, o amor na era da sobrecarga é conseqüência de nossa indiferença e da nossa descrença. A possível solução é reavivarmos o amor cuidador. É preciso sacrifícios para existir o amor.

Essas são as idéias principais da palestra, com pequenas observações minhas. Agora é hora de divagar!!!



Extravasão da Afetividade Neurótica


Como disse anteriormente, Capelatto fala pouco da extravasão da afetividade neurótica. Como sou curioso e intrometido, me embrenho nessa selva citando Freud:

"Normalmente, não há nada de que possamos estar mais certos do que do sentimento de nosso eu, do nosso próprio ego.
(...)
Há somente um estado (...) em que ele não se apresenta assim. No auge do sentimento de amor, a fronteira entre ego e objeto ameaça desaparecer. Contra todas as provas de seus sentidos, um homem que se ache enamorado declara que 'eu' e 'tu' são um só, e está preparado para se conduzir como se isso constituísse um fato."

(em "O Mal Estar na Civilização")


Afetividade neurótica é, como disse citando Capelatto, a vontade de cuidar do outro, amando nele o que há de igual e diferente de nós mesmos. O início da extravasão da afetividade neurótica se dá nessa confusão entre 'eu' e 'tu'. Para cuidar do outro precisamos nós mesmos estar seguros, ainda que isso exija sacrifícios.

Ao contrário do amor psicótico, que não admite a presença do ser amado, e do amor psicopático, que só existe na presença do ser amado, a afetividade neurótica extravasada se dá na ausência e na presença do outro. Na busca contínua de cuidar, nos confudimos com o outro, e transplantamos para ele nossos problemas. Tanto fazemos nossos os problemas do outro, como vice-versa. Cuidar do outro não é sê-lo, embora isso pareça romântico ("sou eu mais porque sou você", como na letra do Caetano). Assim como o excesso dessa afetividade entre mãe e filho gera insegurança, no amor-paixão (ou seja lá o que for), em vez de gerar insegurança, afastamos o outro.

O ciúme é mais exemplo de psicose que de neurose. Ainda que não suportemos a idéia da presença ao idealizarmos demais a pessoa amada, mantemos a idéia de posse, e a hipótese de ela estar com outro é a extravasão da psicose, não da neurose afetiva.


Ufa! cansei. Muita palavras pra um texto só!!!

Ressaltando que as opiniões aqui expostas têm embasamento somente em leituras aleatórias, nada aprofundadas. Embora seja fascinado por psicologia, não li muita coisa. Mesmo na parte em que escrevi sobre a palestra pode haver discrepâncias causadas por minha ignorância. Pretendo escrever sobre Closer - Perto Demais, baseado nessas idéias de neurose, psicose e psicopatia.

Pergunta

fui eu que te dei esse ar triste
que parece não saber ainda
que o maior amor não resiste
à dor que amor algum finda?

12 abril 2006

Cansaços

O amor teria que ser correspondido de alguma forma. Um prêmio de consolação que não fosse um beijo, mas um mínimo de carinho. As pessoas precisam entender que a gente ama meio sem querer. E que no fundo a gente ama porque quer carinho.
É lógico que ao amarmos queremos estar sempre ao lado da pessoa, mas em algum momento ela poderia demonstrar um pouco de carinho nalgumas palavras doces ao telefone, um abraço, um olhar... qualquer coisa, porra!
Amor cansa. O cansaço, no caso do corpo, só acaba quando paramos um pouco e descansamos. O descanso do amor não correspondido é o carinho.
O corpo morre se não descansar. O amor também.

08 abril 2006

Engraçado...

Engraçado, as pessoas se casam.
Eu acho que vou amar sempre e perdidamente uma pessoa que nunca vai me amar direito.
Engraçado, as pessoas têm filhos.
Não imagino um filho meu. Já imaginou um Fabricinho andando por aí todo-todo, gritando "ô pai, me dá dez real?", "é reais, filho. Se diz um real, dois reais, por aí vai".
Engraçado, a gente morre.
Nunca me imagino num caixão, e só tenho certeza que quem choraria no meu enterro seria minha mãe. Minha irmã também, pra fazer jus àquele poema do Álvares de Azevedo, mas não sei quem mais choraria ou iria no meu enterro.
Engraçado, um dia eu precisarei tomar viagra pra transar.
Embora o excesso de álcool tenha dado trabalho nalguns momentos, não consigo sonhar com a possibilidade de eu não conseguir comer alguma dessas gostosas da TV.
Engraçado, as outras pessoas morrem.
Nunca perdi ninguém próximo. Minha vó paterna faleceu algum tempo atrás, mas não convivia muito com ela, e a gente se conforma por ela já ter vivido bastante. Mas as pessoas novas também podem morrer. A possibilidade de algum amigo meu morrer é aterradora, e a minha mãe então! Mãe tinha que morrer depois da gente. Aliás, ninguém devia morrer, mesmo as pessoas que a gente não gosta.
Engraçado, a grande maioria das pessoas transam.
Às vezes eu olho uma dessas pessoas feias e sujas e penso "puta merda, isso aí transando deve ser horrível". Meu, até mendigo transa! E tem homem que come homem, que horrível! Um homem sozinho é uma coisa horrível, dois é uma aberração. Daí ter sempre cenas lésbicas em filme pornô, porque duas mulheres é uma coisa extramemente agradável.
Engraçado, tem gente que tem milhões de reais.
Se eu tivesse dinheiro eu faria tanta coisa! Acordaria a hora que quisesse, compraria muitos livros, comeria muitas coisas gostosas, chamaria muitos amigos pra beber e pagaria a conta.. tanta coisa dá pra fazer com dinheiro. Aí tem gente que fica juntando, juntando. Um absurdo. Dinheiro é pra gastar!
Engraçado, quase todo homem já deu uma pulada de cerca.
A gente se casa porque ama, né? Pra que ter uma amante então? Tudo bem você saciar alguns fetiches na Augusta, mas um cara casado ter amante é estranho. Tudo bem que eu tenho só 21 anos e não sei o que vai acontecer daqui algum tempo, mas daqui, do auto da minha juventude e paixão, não me imagino enganando a pessoa que amo. Aliás, eu comecei esse texto dizendo que não me imagino casado, imagine traindo então.
Engraçado, as pessoas da TV cagam, dormem, acordam, têm remela...
Já imaginou a Fátima Bernardes cagando e o Bonner andando pelo quarto dizendo "amor, onde tá aquela meia azul?".
Engraçado, as pessoas pensam quando estão caladas.
Já imaginou o que seus amigos pensam de você? Você tá lá, falaciando como sempre, e a outra pessoa pode estar pensando as coisas mais horríveis. A gente pode pensar que tá abalando, conquistando alguma menina e ela pensando "esse idiota".

Engraçado mesmo... a gente não sabe de porra nenhuma!

07 abril 2006

A Face Egoísta do Amor

O engraçado do amor é a relação que nossa própria felicidade tem com a felicidade do outro.
É uma tortura ver quem a gente ama triste. É como se fossemos nós mesmos a sofrer, e na verdade uma das faces do amor é essa: compaixão, do latim compassìo, “sofrimento comum”. Em “A Insustentável Leveza do Ser”, Milan Kundera divaga sobre a diferença dessa palavra em outros idiomas, afirmando que nas línguas de origem latina a palavra vem de passio, paixão, cujo significado é sofrimento; já noutras línguas (não lembro quais), a palavra é sentimento. Seria algo como co-sentimento. Lógico que toda essa idéia depende do tradutor, posto que Kundera nasceu em Praga, capital da República Tcheca, e eu nem sei qual idioma se fala lá.
Uma palavra equivalente à co-sentimento seria empatia, do grego páthé que também tem vínculos com dor e sentimento em sua origem etimológica (vou dizendo logo que não sei nada disso de cabeça. Vou lembrando das palavras e procurando dicionário). Mas amor mesmo é você compartilhar não somente a dor do outro, mas todos os seus sentimentos de alegria, tristeza, euforia etc.
Porém, dependendo da relação que você tem com a pessoa que ama, a possibilidade de felicidade dela te trás sentimentos confusos. Lógico que acima de tudo queremos ver a outra pessoa feliz, mas também queremos que nós, somente nós, sejamos a fonte de felicidade dela. Sempre que amamos alguém triste, sejamos nós também extremamente tristes, é por querermos torná-la feliz e também nos tornarmos felizes. Amar alguém é amar seus defeitos, mas a tristeza não é um defeito de fábrica (eu não nasci triste), é uma condição que pode durar toda uma vida, mas acaba de repente diante da pessoa amada. E em alguns momentos parece que só pode acabar assim.
Essa é a face egoísta do amor: a pretensão de monopolizar os motivos de felicidade do outro, que nos deixa perdidos, embora também felizes, quando vemos a pessoa que amamos feliz por motivos alheios a nós.
Nas mulheres isso deve dar um rebuliço desgraçado, pois já desperta logo o ciúme baseado na hipótese de o motivo da felicidade ser outra mulher. Em nós homens não. Parece que podemos de repente, não mais que de repente, ser abandonados.

"Quando eu Paro" ou "Mais Eu"

Para S.


O tempo, curtíssimo, se esvai sabe-se lá por onde. A vontade, sobretudo com relação ao trabalho e outras coisas banais, nunca foi muita. Vai passando, diminuindo, e quando percebemos estamos inertes como a pedra no caminho do Drummond. Quando não, estamos rolando morro abaixo sem sentido algum, razão nenhuma. As paixões aleatórias surgem e somem em segundos. Devoro livros com a voracidade de alguém que almoça depois de dias sem comer. Paixão absoluta por Sartre num dia, noutro dia, outro escritor. Mas ali, lendo e pensando, era absolutamente apaixonado por Sartre. Depois passa. Essas paixões todas passam.
Parece que tudo acontece independente de mim. Acordo automaticamente, chego no trabalho sem perceber, e acho essa vida uma bosta. Mas acabo me conformando e esquecendo meus sonhos todos. E o tempo passa... ah, passa.
Me conformando, esqueço de mim. A vida continua, e eu me perco nessa bagunça toda, resmungando pelos cantos como um velho chato. Absolutamente casmurro.
Posso dizer que nesse ritmo frenético do trabalho (equivalente ao frenesi parcialmente abandonado da boemia, que perdeu a graça), não sou eu. Eu me anulo, me esqueço, me perco.
Mas no exato instante em que me lembro de mim, lembro sempre que sempre te amo. Não que eu seja "mais eu quando sou você", como na maravilhosa música do Caetano. É que o único sentimento que me faz gostar de mim, que dá um sentido, ainda que estranho, ao meu desvario, aos meus exageros, às minhas cismas, é esse amor.
Eu sou uma farsa. Sou dissimulado e político, você sabe. Palavras pra tudo e todos. Porém, a única coisa que me faz sentir mais verdadeiro, mais eu, mais humano, é que eu consigo te amar sem egoísmo e sem dever nada pra você. Embora eu ame, por exemplo, a minha mãe, ela é minha mãe. Não sou obrigado a amá-la, mas ela é minha mãe eu a amo por isso e porque ela é simplesmente a melhor mãe do mundo e é absolutamente maravilhosa. Está acima dos outros seres humanos. Você não, você é chata e eu te amo. Você não me escreve e eu te amo. Você nem liga pros meus dramas e eu te amo. Acha que eu sou louco e eu te amo. Você nem é minha mãe nem é tão legal assim. Só há duas pessoas perfeitas: minha mãe e a bailarina do Chico Buarque, que não tem problema na família, remela as seis da manhã, nem dente com comida etc. Ainda assim eu consigo dizer sem dúvida alguma, embora não consiga explicar a origem e o fim disso: eu te amo.
São palavras que surgem na minha cabeça sempre que eu não consigo enxergar as coisas, o sentido das coisas, de toda essa zona. Eu penso isso quando quero parar.
O tempo não pára, o mundo dá voltas, a Paulicéia não anda, se arrasta pelo trânsito das grandes avenidas, mas quando EU PARO pra lembrar de mim, te amo.
É o que eu queria dizer antes de retomar a loucura dessa semana, em que passei poucos minutos sentado nessa mesa, correndo pela Paulicéia Desvairada atrás de objetivos que não são meus.

É isso.


Ah! Essa é a bailarina do Chico Buarque:

Procurando bem
Todo mundo tem pereba
Marca de bexiga ou vacina
E tem piriri, tem lombriga, tem ameba
Só a bailarina que não tem
E não tem coceira
Berruga nem frieira
Nem falta de maneira
Ela não tem

Futucando bem
Todo mundo tem piolho
Ou tem cheiro de creolina
Todo mundo tem um irmão meio zarolho
Só a bailarina que não tem
Nem unha encardida
Nem dente com comida
Nem casca de ferida
Ela não tem

Não livra ninguém
Todo mundo tem remela
Quando acorda às seis da matina
Teve escarlatina
Ou tem febre amarela
Só a bailarina que não tem
Medo de subir, gente
Medo de cair, gente
Medo de vertigem
Quem não tem

Confessando bem
Todo mundo faz pecado
Logo assim que a missa termina
Todo mundo tem um primeiro namorado
Só a bailarina que não tem
Sujo atrás da orelha
Bigode de groselha
Calcinha um pouco velha
Ela não tem

O padre também
Pode até ficar vermelho
Se o vento levanta a batina
Reparando bem, todo mundo tem pentelho
Só a bailarina que não tem
Sala sem mobília
Goteira na vasilha
Problema na família
Quem não tem