26 novembro 2007

Não sei dizer se para mim escrever é uma necessidade. Sinto mais falta de ler do que de escrever. Sempre escrevi buscando me entender. Sempre foi ao escrever que eu conseguia sistematizar meus pensamentos. Como se a necessidade de escolher as letras, as palavras, pontos e vírgulas, diminuíssem o ritmo de meu cérebro.
Não sei por que fui parando de escrever. Não sei se a vida passou a bastar, não sei... Ao parar de escrever com freqüência, fui ficando impaciente, casmurro, mal humorado, taciturno. Mas não me sinto triste. Foi algo como “cair em si”; e a queda foi dura.

É difícil envelhecer. Acho que estou envelhecendo... Não é fácil encarar a vida com todas as suas mazelas. Sempre fui muito empolgado. Sempre tive necessidade de criar e me engajar em projetos coletivos, sempre sonhei e envolvi as pessoas ao redor nos meus sonhos. Sempre me vi no centro das atenções, como que carregando uma tocha de luz a iluminar vidas alheias (que pretensão...).
Torpe ironia... hoje sou quase um misantropo. Aquele diálogo do velho (e por mim abandonado) Buk:
- Eu odeio pessoas. Você não?
- Não. Só quando elas estão por perto.

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Tempos atrás criei o projeto de uma revista chamada “Cisma”. Fiz o texto de apresentação, alguns outros textos, aprendi a mexer no Photoshop pra fazer uma capa (imagem acima) e tudo o mais. Aliciei várias pessoas para o projeto; todos se empolgavam. Passávamos madrugadas regadas a whisky e cerveja, discutindo, sonhando...
Mandei diversos e-mails para pessoas importantes buscando apoio, textos, entrevistas. Recebi convite para ir até o Itamaraty, em Brasília, após mandar um e-mail para a ADB – Associação dos Diplomatas Brasileiros.
Um desses e-mails empolgados foi para o Renato Janine Ribeiro, professor de Ética e Filosofia Política na USP. Deu algumas dicas e o endereço da casa dele para que eu mandasse o primeiro número da revista, garantindo que colaboraria no segundo. Elogiou o projeto, e disse ao final para que eu não perdesse o “Élan”. Não conhecia a palavra, e recorri ao dicionário, que direcionou para "Elã":

 substantivo masculino
1 movimento súbito, espontâneo; impulso
Ex.:
2 emoção, calor, vivacidade
Ex.:
3 entusiasmo criador; inspiração, estro
4 movimento afetuoso, expansivo

O projeto da revista não andou. Tudo era empolgante, mas ninguém queria produzir realmente. Como disse um professor, “essa revista deveria se chamar ‘revista do Fabricio’”. Eu escrevi vários textos, apresentação, capa...

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Enfim, toda essa lengalenga pra dizer que o meu mal hoje, o que realmente me incomoda, me corrói, me frustra, me angustia, é ver que realmente perdi esse “élan”.
Na verdade, já não me queimo mais.

17 maio 2007

As Tempestades e o Porto

No mais, já conheço esse mar, já passei por outras tantas tempestades; não desse jeito, mas já passei.
Só que antes a paz existia somente em tempos de calmaria. Hoje tenho um porto seguro onde me acalmo, tenho paz, independente de tudo, esteja o tempo como estiver.
(Ter numa só pessoa a namorada, a amiga, a conselheira, e vez outra aquelas broncas típicas de mãe, é reconfortante - embora eu abrisse mão das broncas, hehehe).

De qualquer forma, não é fácil ser barco no meio duma tempestade, mesmo tendo onde aportar.
Embora tendo o porto, o problema consiste na impossibilidade de desembarcar...

"Essa loucura roubada
que não desejo a ninguém
a não ser a mim mesmo
amém"
(Bukowski)
O grande problema mesmo é saber que muita coisa está me fazendo mal, mas não saber exatamente qual o tipo de mudança me faria bem. Onde mora o problema: no modus vivendi ou no modus operandi?

'Descompassos' ou 'Eu sou tudo pela metade'

Outra vez vou me esquecer
Pois nestas horas pega mal sofrer
(Cazuza)

Não sou uma pessoa de grandes ambições e sonhos impossíveis. Minha paz e minhas alegrias se fazem de coisas simples... Se me pedissem pra escolher entre ser um grande empresário aos 23 anos, viajar o mundo, ter carros, casas, fazendas ou ser um estudante que pudesse se dedicar um pouco mais aos estudos, escolheria ser estudante.
Me incomoda ser as coisas pela metade. Hoje sou meio estudante, meio trabalhador, e ambas as coisas exigem cada vez mais de mim. Não que eu não queira trabalhar, mas não acho justo perder a minha vida com uma coisa que não me leva a lugar algum. A forma como hoje é o meu trabalho é que incomoda - e creio que isso é reflexo dos nossos tempos modernos. Se depois que eu me formasse fosse assim, não incomodaria tanto; mas o fato de não ser possível me formar em paz... isso é que corrói.

Além do que, eu sou perdidamente apaixonado pelo mundo da cultura, em todas as suas formas. Eu gosto de ler, gosto de música, gosto de museus, gosto de escrever...
E há quem fale: é preciso correr atrás dos seus sonhos. Mas a coisa é de tal forma amarrada que parece ser impossível mudar (como pagar a faculdade? Como conseguir um mínimo de subsistência para seguir adiante na Paulicéia?).
Todo esse desvario parece atrapalhar o resto da minha vida. Eu passei a ser tudo pela metade. Me sinto meio-filho, meio-namorado, meio-irmão, meio-amigo...
EU SOU TUDO PELA METADE.

04 abril 2007

Direito e Moral

Considerações sobre o capítulo 2 de "Teoria Pura do Direito", de Hans Kelsen:

O Direito e a Moral abrangem um conjunto de normas sociais que regulam a conduta dos homens. Para alguns filósofos, afirma Kelsen, o conjunto de normas criado pela Moral regula a conduta interior do homem na medida em que restringe seus interesses primários ou egoístas; no entanto, isso só faz sentindo a partir do momento em que cria outros interesses, aparentemente contraditórios (exemplo: a manutenção da ordem social que se opõe às inclinações egoístas).
Porém não se pode fazer uma distinção entre o conjunto de normas do Direito e da Moral afirmando que um regula a conduta externa e outro a interna; ou que essa distinção se encontra “naquilo que as duas normas prescrevem ou proíbem”. A ausência de um poder coercitivo central da moral (um poder executivo), e a presença deste no Direito, faz com que a distinção essencial se dê no como prescrevem ou proíbem uma determinada conduta humana.
A inexistência de uma Moral absoluta a partir de um ponto de vista científico faz com que o Direito se torne parte da Moral, mas uma determinada ordem social que não é moral, pode ser considerada Direito (o que nos dias de hoje se dá no caso da transfusão de sangue, prevista no Direito, que não é aceita por uma norma social de cunho moral das Testemunhas de Jeová).
Sendo parte da Moral, exigir do Direito que seja moral não faz sentido, pois pressupõe um Direito imoral. A separação entre Direito e Moral se faz somente porque uma “ordem jurídica positiva é independente desta Moral absoluta, única válida, da Moral por excelência,de a Moral”.
Quando uma ordem jurídica á valorada como moral ou imoral, justa ou injusta, isso é feito a partir de um sistema de moral relativo, específico.
A Teoria Pura do Direito proposta por Kelsen, ainda que admita a relação entre Direito e Moral, nega a dependência ou a obrigação deste com relação àquela. Essa obrigação pode prestar “politicamente bons serviços”, afirma. A suposição de que uma determinada ordem social moral seja Direito põe em xeque as outras ordens sociais, que além de imorais podem ser consideradas como não-Direito, ou que tenham caráter democrático ou não-democrático etc. Os E.U.A. são exemplo típico disso nos dias de hoje: além de uma ordem social moral querer regular o comportamento interno dos cidadãos (como no caso da recente discussão sobre o ensino ou não das teorias de Darwin), essa ordem tenta se impor a outros países, acusando-os de não-democráticos. A ciência jurídica não precisa legitimar ou valorar o Direito através da Moral; tem somente que "conhecer e descrever" a ordem normativa que compete ao Direito.

26 março 2007

Crônica de um Amor Absoluto

Acontece que ela me dá uma paz tão inexplicável, tão absoluta, que meus desassossegos ficam pra trás assim que nos abraçamos. Não há estresse que permaneça diante daqueles olhinhos pequenos, de um brilho que ilumina meu caminho, minha vida.
Nossos fins de semana são um sonho. Discutimos filosoficamente os problemas da semana (inclusive os que surgem entre eu e ela, pois durante a semana acaba respingando em nós um pouco de baba da ‘raiva com empolgação’ do texto anterior), trocamos carinhos, olhares apaixonados que quem vê pensa que começamos a namorar há um mês.
É quase um vício. Preciso sentir o cheiro dela, ouvir a voz... Tudo me encanta. Às vezes fico olhando como se acabasse de ter descoberto algo novo nela; que percebe, dá risada da minha cara de bobo, e pergunta:
- O que foi?
- Nada!
- Você ta rindo!
- Eu?!
Então se dá mais uma cena que deixa as formigas loucas.

É difícil entender o que nos tornou assim, tão próximos, tão amigos, tão amantes. Pode se falar em almas gêmeas, desejos, vontades, carma, coisas que talvez Freud explique... sei lá. A história é longa, tem mais de 3 anos (o namoro mesmo tem só 10 meses). Aquele negócio: eu, o último romântico, me apaixonei, escrevi cartas apaixonadas, mandei flores, chorei nos braços dela sem ganhar sequer um beijo, andei bêbado por Moema chorando por ela, que não estava nem aí. O ápice de nossa pré-história se deu quando ela ficou doente (http://minhascismas.blogspot.com/2006/03/crnica-de-um-desespero.html), e a partir daí foi a história de O Pequeno Príncipe que nos uniu. “Minha rosa, sem dúvida um transeunte qualquer pensaria que se parece convosco. Ela sozinha é, porém, mais importante que vós todas, pois foi a ela que eu reguei. Foi a ela que pus sob a redoma. Foi a ela que abriguei com o pára-vento. Foi dela que eu matei as larvas (exceto duas ou três por causa das borboletas). Foi a ela que eu escutei queixar-se ou gabar-se, ou mesmo calar-se algumas vezes. É a minha rosa".
Num belo dia (2 anos e tanto de flerte, cartas de amor, flores!), eu falando alto e gesticulando como sempre – afinal eu já havia desistido e éramos amigos - ela vira pra mim e diz "Fabricio, me beija", como quem me mandasse calar a boca. Eu nem sabia o que fazer. Foi um beijo horrível, confesso. A gente não sabia se pegar, sei lá...
Durante uma ou duas semanas, éramos péssimos. Beijos sem gosto, abraços esquisitos, um distanciamento inexplicável. Estávamos sem graça. Mas com o tempo fomos virando o que somos hoje – quase uma coisa só.
Foi e é difícil convivermos com o fato de que éramos amigos, e que essa amizade gerou muitas conversas sobre os affairs de então. Ela chorava “dores de outro amor”, acabava comigo, eu precisava e dizia que a amava, ela fingia que não sabia, não ouvia; então eu me entregava à boêmia - o estereótipo dum romântico do século XIX - e depois narrava as peripécias pra ela.

Já tivemos algumas brigas, descobrimos defeitos um do outro, aparamos arestas, sentimos medos, mas continuamos seguindo adiante. A única coisa que temos em comum é o amor um pelo outro; o resto é feito cão e gato. Talvez isso até justifique a tese de que “os opostos se atraem”, mas seria simples demais.
Não há explicação. Eram 0:30 de segunda-feira, o fim de semana praticamente já havia acabado, mas estávamos vis-à-vis, se olhando no fundo dos olhos como quem procura ainda mais o outro. Então choramos por alguns minutos, como se as lágrimas purificassem nosso amor.
Um amor absoluto.

23 março 2007

Crônica de um Estresse Absoluto

Se “depressão é meramente raiva sem entusiasmo”, como disse Steven Wright, o estresse é uma raiva entusiasmada, um ódio “majestoso... santo, puro e benfazejo”, como no poema de Cruz e Souza.
No ápice de meu estresse, sinto ímpetos homicidas e adquiro a certeza que sou absolutamente capaz de espancar um motorista de lotação até a morte, seja ele do tamanho que for; motoboys, meu patrão, clientes, colegas de trabalho, o prefeito, vereadores, caminhoneiros... todos que atrapalhem minha vida são vítimas de um ódio profundo.
A raiva às vezes é tanta que minha boca seca, meu coração acelera e meus punhos fecham. Olho para os lados em busca de qualquer coisa que possa servir de arma, caso a vítima seja maior que eu, ou mais de uma pessoa.
Mas os motoristas de lotação têm monopolizado meu ódio. Essa corja de filhos da puta deveria ser espancada diariamente, em avenidas públicas. Quando ouço “vamo aê, pessoal... um passinho pra trás” sinto minhas veias pulsarem, meus músculos se retesarem... Pais de família? Trabalhadores? O caralho!!!
Dominado o ódio inicial, a atenção se volta à administração pública: por que diabos não são utilizados ônibus em vez lotação? Por que em bairros mais pobres são utilizados micro ônibus?
Eu fico puto!!!
Sinto falta de uma buzina, mesmo quando não estou dirigindo. Odeio aquelas pessoas andando devagar, pessoas que ficam paradas na escada rolante (escada rolante também é feita para andar! Quer ficar parado, fica na direita; deixe a bosta da esquerda livre!!!). E aquele povinho entregando papel?
Daí eu chego na faculdade absolutamente casmurro, e verdadeiras sirigaitas e bugios fazem da classe um zoológico em horário de alimentação (observação: eu mandaria empalar uma daquelas patricinhas que deixam o estojo de metal cair no chão quando está silêncio). Um bando de filhinhos de papai, vagabundos ontem, hoje e sempre. Nunca trabalharam, nunca vão trabalhar. No máximo, o papai vai arrumar um emprego qualquer onde eles serão odiados em função da incompetência que lhes gerará apelidos carinhosos. Advogados? Duvido... (óbvio que há exceções, e não são poucas; só que prevalece o som dos imbecis). Fico inconformado com essa gentinha que o pai obriga a estudar. Se me perguntassem o que eu queria fazer da minha vida hoje, era estudar: chegar na faculdade mais cedo, poder ficar até a última aula, estudar em casa durante o dia, escrever mais, ler mais. E esses idiotas...

(passo as duas mãos na cara esticando-a para baixo, me deixando parecido com o quadro “o Grito”, do E. Munch. Torço o pescoço para um lado e para o outro, o que faz o barulho de bambu sendo dobrado.)

Passo a semana pensando em coisas legais para escrever. Terminei de ler "As Teorias das Formas de Governo", e adoraria viajar nas idéias de Norberto Bobbio. Fui para Brasília quarta, vi várias coisas interessantes sobre as quais poderia escrever.
Acontece que é sexta-feira, 5 e tantas da tarde, já discuti com meio mundo, estou prestes a jogar tudo pro alto e começar do zero. Se eu não escrevesse, precisaria brigar com alguém ou encher a cara até esquecer quem sou. Achei melhor escrever. Para concluir, alto e bom som:

FODA-SE O MUNDO!!!

Hoje vou encontrar minha princesa, vamos conversar besteiras, amanhã não vou em treinamento algum (pois é, não bastasse essa loucura, meu diretor quer que eu vá num evento em pleno sábado).

Certo, mas onde é mesmo o freio dessa porra?

13 março 2007

Fantasmas

Se imagine sozinho num castelo frio, sem poder sair... De repente, surge um fantasma. O assombro com o fantasma é natural – afinal é um fantasma. Mas o que fazer? Gritar? Correr? Fingir que ele não está ali? Conversar com ele?
É mais ou menos assim que algumas poesias surgem na minha mente – como fantasmas me assombrando em momentos de solidão e frio. A poesia, assim como o fantasma, não é algo natural, não faz parte desse mundo. O que fazer com ela? Fingir que não está ali? Conversar? Correr?
Quando escrevemos é ‘menos pior’ que isso. Escrever é como falar sozinho dentro desse castelo frio. Ameniza, acalma... mas a poesia alheia incomoda, por que é também um certo fracasso: ela não é sua. Foi assim, hoje, que lembrei duns versos de Álvaro de Campos, heterônimo do Pessoa. “O que há em mim é sobretudo cansaço...”


O que há em mim é sobretudo cansaço
Não disto nem daquilo,
Nem sequer de tudo ou de nada:
Cansaço assim mesmo, ele mesmo,
Cansaço.

(...)

Há sem dúvida quem ame o infinito,
Há sem dúvida quem deseje o impossível,
Há sem dúvida quem não queira nada -
Três tipos de idealistas, e eu nenhum deles:
Porque eu amo infinitamente o finito,
Porque eu desejo impossivelmente o possível,
Porque eu quero tudo, ou um pouco mais, se puder ser,
Ou até se não puder ser...

E o resultado?
Para eles a vida vivida ou sonhada,
Para eles o sonho sonhado ou vivido,
Para eles a média entre tudo e nada, isto é, isto...
Para mim só um grande, um profundo,
E, ah com que felicidade infecundo, cansaço,
Um supremíssimo cansaço.
Íssimo, íssimo. íssimo,
Cansaço...

obs.: lembrava de muitos versos, mas o que está aqui acima é fruto do Google: copiei e colei de algum site.
Não sei não, mas acho que estou ficando louco. Um silêncio pungente, duma dor gritante, vem tomando conta de mim.

06 março 2007

... rio, vario, desvario ...
Tanta coisa! Tanta coisa!
Dia desses acordei procurando o controle para desligar a TV que eu liguei sonâmbulo. 03 horas da madrugada. E eu tava bravo, com o coração a mil.

... ação, ração, coração...
Semana passada tive consulta com a cardiologista. "Coração vagabundo, quer guardar o mundo em mim" e inventou de fazer samba no meu peito. E não é um samba qualquer, mas aqueles de carnaval mesmo, baterias e tal.

... rias, terias, baterias...
E se o coração faz samba, a cabeça é o Bethoven fazendo 'vuco-vuco' em discos com as mãos - como fazem os DJs - tocando piano com os pés e dando cabeçada nalguma coisa de som grave e longo.



... ando, curando, procurando ...
Não estou fugindo.

Aulas à Revelia

É absolutamente inaceitável a forma como o Ensino a Distância vem sendo tratado na Unicsul. As únicas coisas definidas são as datas e a ferramenta que será utilizada: o malfadado Blackboard – BB para os íntimos. "O resto é mar..."; um mar de descaso, dúvidas e displicência.
De início, vale pensar: será que nós, alunos, ganharemos alguma coisa com a redução de 20% das aulas presenciais? Qual a opinião dos professores? Qual a opinião da OAB, no caso específico do curso de Direito? Ironicamente, penso: será que as aulas semi-presenciais são um meio de entrar na lista de faculdades recomendadas pela elitista OAB? (Confiram: http://www.oab.org.br/noticia.asp?id=8766). Creio que não.
De qualquer forma, pulemos a apresentação do projeto de Ensino a Distância (que é legítimo, e consta lá a possibilidade de 20% de aulas semi-presenciais para instituições de Ensino Superior), e vamos direto aos "Referenciais de Qualidade Para Cursos a Distância"[1], de abril de 2003. A epígrafe, à luz do que está acontecendo na Unicsul, é no mínimo irônica: "Qualidade não é obra do acaso. Resulta de intenção, esforço e competência. George Herbert.”
O documento diz que são “dez os itens básicos que devem merecer a atenção das instituições que preparam seus cursos e programas a distância:
1. compromisso dos gestores;
2. desenho do projeto;
3. equipe profissional multidisciplinar;
4. comunicação/interação entre os agentes;
5. recursos educacionais;
6. infra-estrutura de apoio;
7. avaliação contínua e abrangente;
8. convênios e parcerias;
9. transparência nas informações;
10. sustentabilidade financeira.”
Comentários:
- No caso da Unicsul, o papel dos gestores no processo de apresentação do blackboard fez pensar que o BB de www.unicsul.br/bb se referia na verdade ao Big Brother – não ao patético programa global, mas à figura soberana do livro 1984, de George Orwell. O livro trata de uma sociedade comunista, onde, dentre tantas ironias, o soberano é o Grande Irmão, que monitora a vida de todos inclusive pela TV. Nosso gestor seria o Big Brother?
- O item 2 começa assim: “Para começo de conversa, educação a distância não é sinônimo de redução de tempo de integralização de currículos, cursos e programas”. É preciso falar mais alguma coisa?
- A equipe profissional multidisciplinar exigida no item 03 se resume ao comentário de alguns professores: “mas eu nem tenho senha do blackboard!”
- A comunicação/interação entre os agentes veio por meio de um recado colado no mural da classe, onde constam as datas das tais aulas semi-presenciais.
- Recursos educacionais... seria o “Digital Dropbox” ou o “Electric Blackboard” e outros nomes pomposos no www.unicsul.br/bb?
- Com muita boa vontade podemos descobrir a infra-estrutura de apoio, cujo telefone é 61370066 e o site é www.unicsul.br/nead. Vale constar que nem uma nem outra informação estavam no ‘aviso’ com as datas de aulas semi-presenciais.
- Avaliação contínua e abrangente? Reticências.
- Convênios e parcerias? Reticências.
- Transparência nas informações? Reticências.
- Sustentabilidade financeira? Ah... o investimento em equipamentos e software deve ser considerável, mas a redução de 20% nas horas-aula garante uma boa quantia em dinheiro aos cofres da Unicsul. Aliás, é impossível não pensar na imposição das atividades semi-presenciais como uma forma ridícula de economia. E a coisa é tão mal feita que se houvessem duas atividades semi-presenciais no mesmo dia, caberia o argumento: “assim os alunos não teriam que vir a faculdade, teriam mais tempo para estudar em casa, não pegariam trânsito, não estariam sujeitos à violência da paulicéia desvairada etc”. Mas nem isso. De qualquer forma os alunos precisam estar na faculdade, já que antes ou depois haverá aula presencial, enquanto os professores não. Os alunos estão pagando e os professores não estão recebendo. Esse Big Brother é bem esperto.
Assim como a opção por mestres (que recebem menos) em vez de doutores (que recebem mais) é feita sobretudo por medidas de economia e baseada na conjunção alternativa ‘ou’ de não sei qual lei – que estabelece um percentual de “mestres ou doutores” para as universidades – a utilização do limite de 20% de aulas semi-presenciais não tem outra explicação além de economia, e foi tomada à revelia dos alunos e professores (deduzo a partir da falta de programa de grande parte deles).
Mais uma vez os interesses da iniciativa privada se sobrepõem ao interesse comum – o de alunos que estão sendo lesados em 20% do que pagam mensalmente por uma coisa que deveria ser gratuita para todos – o Ensino Superior - , dada a quantidade de impostos que pagamos. Clamar pela extinção das atividades on-line ou do blackboard seria burrice, afinal vivemos numa era digital, e o blackboard parece ser uma excelente ferramenta. Mas deixar as coisas acontecerem da forma como estão acontecendo seria mais burrice ainda. Precisamos nos organizar.
[1] http://portal.mec.gov.br/sesu/arquivos/pdf/ReferenciaisQualidadeEAD.pdf

01 março 2007

Primeiras Lições da Unicsul

É tanta gente falando ao mesmo tempo, que fica difícil dizer com exatidão quando a palavra 'blekibord' foi pronunciada pela primeira vez em sala de aula. Mas é aí que entra em prática a primeira lição que aprendemos na Unicsul: a intuição.
Ainda que vivamos num país de língua portuguesa, o conhecimento de inglês é 'default' (um termo francês para 'padrão'), então intuímos que blekibord é, na verdade, 'blackboard' - BB, uma ferramenta de ensino bastante interessante para os curiosos que pesquisaram no Google.
E de repente, não mais que de repente, temos uma atividade on-line no 13º dia letivo! Então nos vemos, mais uma vez, reféns de nossa intuição. E até que deu certo!
No 15º dia letivo, tumulto. Pânico. Todos falam, sugerem, divagam. A professora faltou. Fala-se em 'adiantar' aula.
- O Viana disse...
- Tá na sala do Viana...
- Viana...
Viana, um nome recorrente; a intuição entra em ação novamente: deve ser o coordenador.
- Mas não é uma ‘coordenadora’? – outra pessoa diz.
Nem o tal Viana aparece, nem a possível ‘coordenadora’. Entediado e confuso, penso que a sigla BB é na verdade Big Brother. Será que o Viana é nosso Grande Irmão?
Aos que não sabem, o 'Big Brother' surgiu no livro 1984, de George Orwell. Escrito na década de 50, o livro relata uma ‘vitória’ do comunismo lá pela década de 80, blábláblá, e por se tratar de um mundo comunista, o líder (soberano?) é o "Grande Irmão", que monitora nossa vida de várias maneiras, dentre elas a TV - que recebe e transmite imagens. Observem que num mundo comunista não há um líder, mas um Grande Irmão; e esse negócio de blackboard parece ser monitorado por um grande irmão que acredita piamente em nossa capacidade de intuição e dedução (as falhas de data ou de uso de palavras - 'mundo', por exemplo - devem ser perdoadas incondicionalmente nesse parágrafo).

Tudo na Unicsul remete a idéias de anarquismo e uso de suposições. Hoje é moda falar em qualidade, ISO, e nas grandes empresas são criadas 'instruções de trabalho' para todas as coisas: da criação à impressão de documentos. Seria interessante que isso funcionasse na Unicsul. Algo do tipo: Instrução 01 - cadastrando no BB, Itr 02 - formatando.. etc, etc, etc (cliquem em 'ajuda' no BB para ver. Horrível!)
E note que estamos falando de qualidade na melhor universidade particular de São Paulo!

Há os 'representantes', eleitos democraticamente, e tal... mas ainda assim falta comunicação. São muitas vozes, muitas opiniões... uma verdadeira balbúrdia. Já passou da hora das explicações.
Blackboard ou Big Brother, o www.unicsul.br/bb segue sob a égide da anarquia. Estamos habilitados (e como algumas atividades estão marcadas, estamos obrigados!) a utilizar uma ferramenta que desconhecemos. É como se distribuíssem carteiras de habilitação para pessoas que não fizeram aulas práticas, sequer teóricas.

Por ter habilitação, cá estou. Não sei se estou na contramão ou se sigo a velocidade correta. Cadê o guarda???