12 outubro 2006

Caetaneando...


Não tive coragem de pagar mais de R$ 34,00 no CD novo do Caetano Veloso. Peguei no emule e estou ouvindo no meu MP3 Player nesse exato instante.
Ainda que com tiradas ótimas, as entrevistas de Caetano me desagradaram pelo discurso de linchamento ao presidente Lula. Soa muito conveniente vindo de um cara que ainda esse ano fez um pocket show de inauguração dum grande empreendimento pros lados da Marginal Pinheiros, que envolve um prédio cuja cobertura custará mais de R$ 18 milhões – a mais cara cobertura do país. E o show no Hotel Fasano, à época do CD A Foreign Sound, com ingressos por mais de R$ 500,00??? Pra quem falou tanto da “BurGUÉsia paulista” quando João Gilberto foi vaiado ao lado dele...
Enfim... às músicas:
Gostei do CD. Aliás, gosto muito de Caetano Veloso – o poeta e cantor. Causa estranheza a levada Rock (ou seria melhor dizer a ‘simplicidade’) das músicas e a ausência da produção e do violoncelo de Jaques Morelembaum. Mas é bom ver um compositor de clássicos cantando:
“ce foi mesmo rata demais
meu grito inimigo é:
você foi mor rata comigo
você foi concreta e simplesmente
rata comigo demais”
Caetano é um poeta no sentido visceral da palavra poeta (se é que ser visceral dá mais sentido a algo, mas deu vontade de dizer assim). Já ouvi Caetano cantando e compondo sambas e rocks, criando novas versões para clássicos (como em Come as You Are ou Help), escrevendo, dirigiu um filme décadas atrás... Ele tem a inquietude típica de todo grande criador, não faz parte desse mundo de conveniências.
Em suma, é um louco como outro qualquer.
E eu gosto muito de gente louca.

Obs.: A música que tá tocando nas rádios, "Não me Arrependo", é uma das melhores do CD. Mas "O Herói" é fantástica:

(...)
não quero jogar bola pra esses ratos
já fui mulato, eu sou uma legião de ex mulatos
quero ser negro 100%, americano,
sul-africano, tudo menos o santo
que a brisa do brasil briga e balança
e no entanto, durante a dança
depois do fim do medo e da esperança
depois de arrebanhar o marginal, a puta
o evangélico e o policial
vi que o meu desenho de mim
é tal e qual
o personagem pra quem eu cria que sempre
olharia
com desdém total
mas não é assim comigo.
é como em plena glória espiritual
que digo:
eu sou o homem cordial
que vim para instaurar a democracia racial
eu sou o homem cordial
que vim para afirmar a democracia racial

eu sou o herói
só deus e eu sabemos como dói

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