05 setembro 2008
E muitas vezes o assunto em si pode não ser triste; o processo de colocar pra fora, de mostrar, expor, é que torna a coisa dolorosa. E quando digo escrever me refiro a tentativa de transformar sensações e emoções em palavras, não essa baboseira que fazem pra ganhar dinheiro ou narrar com "impacialidade" algo que aconteceu.
Quando escrever envolve criação de um personagem, por exemplo, numa narrativa, deve ser ainda pior: Shakespeare precisa morrer e nascer Hamlet para escrever aquelas maravilhas. E convenhamos: a morte e o nascimento são coisas dolorosas.
E quando de repente você sente que já não consegue escrever da mesma forma que antes parece ser pior.
(Relendo o que escrevi, vejo que a idéia de dor e infelicidade se misturaram. Somos infelizes quando sentimos dor?)
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Me sinto patético. Ridículo. Instrumentalizei o uso das palavras e o resultado é algo tosco. Um cantor com melodia, boa banda, cuja voz se perdeu.
Amor de Panda
Ou o que é pior: amando ainda mais que um cachorro.
28 agosto 2008
Não faço parte do presente. Não me sinto presente. Tudo o que vejo me parece absurdo. Nada faz sentido.
Muitas vezes acredito que isso se dê em função do meu excesso de sentimentos e sensações num mundo que se quer racional e não é. Sentir é mais racional. A intuição é mais racional que a lógica.
Eu sinto muito.
26 agosto 2008
“... há que se dar razão a Kierkegaard: a angústia se distingue do medo porque medo é medo dos seres do mundo, e a angústia é angústia diante de mim mesmo”
“A vertigem é angústia na medida em que tenho medo, não de cair no precipício, mas de me jogar nele.”
J.P Sartre em O Ser e o Nada.
Então a gente pensa demais porque se sente sozinho ou se sente sozinho porque pensa demais???
22 agosto 2008
Assim como Oscar Wilde, “sou uma pessoa de gostos simples: me satisfaço sempre com o melhor”. Namoro, cobiço, sonho com as coisas que vou comprar a curto prazo: fico olhando na vitrine ou pesquisando na internet. A compra do meu primeiro carro, do meu primeiro notebook, algumas roupas, celulares, foram coisas que me satisfizeram bastante. E bastante é o que basta.
Muitas vezes confundimos felicidade com prazer. Satisfação com felicidade. Prazer com satisfação. Uma mesma coisa pode ser comida ou saboreada – depende da fome (uma necessidade). Minhas vontades são quase sempre fruto de necessidades; satisfeitas as vontades, ponto ou reticências? Interrogação!!!
Não tenho grandes desejos (e esta deveria ser a frase inicial deste texto). Conheço o prazer, e a felicidade que dele resulta vez ou outra. Mas a felicidade também pode doer. Quase sempre dói. Daí as lágrimas... sou uma pessoa que chora muito.
Tenho o privilégio de namorar e estar noivo da mulher por quem sou apaixonado. Uma amor que é necessidade, satisfação e desejo. E me faz feliz.
Às vezes acho que eu deveria ser feliz sempre. Me sinto ingrato, o que me torna ainda menos feliz.
As coisas que venho escrevendo cheiram à filosofia de boteco.
20 agosto 2008
Há um entrave entre a sensação e a emoção: a compreensão. A ameaça pode ser compreendida; o perigo só pode ser sentido (emoção).
Uma emoção é muito maior que qualquer sensação. O verdadeiro gozo vai além do corpo: é uma emoção.
Os grandes apreciadores de vinhos ultrapassaram o paladar: o vinho os emociona.
Uma coisa que não pode ser explicada, compreendida, não é menor que as outras.
O comunismo é uma emoção.
Todas as religiões são uma tentativa de compreender Deus. Deus pode estar em todas as sensações e em todas as emoções; nunca será compreendido.
A palavra “compreender” tem o mesmo elemento de composição de surpreender, apreender, aprender, repreender, depredar, prender.
Muitas vezes compreender é deixar de sentir.
04 julho 2008
Poema no Aquário
MELHOR
______ AR?
MELHOR
_____ORAR
_____ORA!
(Escrito há muitos anos no vidro de um desses aquários pequenos com um peixe beta dentro. Presente para minha tia então hospitalizada. Engraçado se deparar com essas lembranças... Houve um tempo em que a poesia era mais presente em minha vida. Ainda que eu não escrevesse, strictu sensu, poesia, as coisas eram vividas em forma de poesia - tinha um sopro diferente, e eu vivia minha vida como se ela estivesse sendo filmada ou viesse a se tornar um romance. Imagine a cena do menino trabalhador (eu tinha, então, 17 anos), saindo do trem lotado, parando numa pet shop pra comprar um peixinho que serviria de companhia para a tia no hospital. É Almodóvar puro! Então ele pára numa praça, pega a caneta de escrever em CDs (que também escreve em vidros) e faz um poema ali mesmo, bate-pronto, no meio das pessoas correndo pra lá e pra cá, saindo de trens lotados para entrar em ônibus ainda mais lotados...
Por fim, se não me engano esse peixe foi por água abaixo. E não é uma metáfora: quando foram trocar a água do aquário ele caiu no ralo da pia. Ou a vida realmente não é um romance, drama ou poesia; é comédia. Ou o protagonista da história não era eu, mas o peixe, que pode ter ido parar num lago e se apaixonado por uma perereca. E aí sim um belo romance: cada encontro era um sacrifício, pois nem a perereca podia ficar pra sempre dentro d'água; nem o peixe fora).
O Café
Estou sentado numa poltrona bastante confortável, ao som de músicas amenas, em inglês. No sofá à frente um casal alterna beijinhos e risadinhas lascivas, pressupondo o que fizeram ou estão por fazer. Na poltrona ao lado, separada de mim por uma mesinha redonda, está uma menina com traços orientais, All Star branco no pé, ouvindo sabe-se lá o que no seu Ipod Nano; por ser bem pequena, ela consegue dormir encostando a cabeça no braço da poltrona. Outra mesinha e uma poltrona vazia (que me faz lembrar Van Gogh) a separa de um rapaz deitado de lado na poltrona, pernas para fora, fazendo algo parecendo um N com seu corpo (ângulo de cima, o joelho; de baixo, o quadril). Na mesinha dele está um celular top de linha ligado na tomada, e uma apostila do Objetivo. É quarta-feira, 10 da manhã, e estamos na Starbucks.
Eu vim aqui pra usar a internet sem fio, o que não deu certo. Pedi um café puro pequeno e um pão de queijo. Pouca não foi minha surpresa quando entregaram um copo de 300 ml cheeeeeeio de café – o que até para mim, cafeinômano assumido, é um exagero (smack, smack, smack... fez a boca do rapazinho à frente no rosto da menina, que ri). Essa é a segunda ou terceira vez que venho numa Starbucks. A primeira vez eu vim com a Sheila pouco tempo depois de assistirmos O Diabo Veste Prada (o copo de café da Starbucks é coadjuvante no filme); pedi uma bebida com café, chocolate e sei lá mais o que, pensando que era uma bebida quente e era gelada; mas não era ruim, e ficamos esparramados num sofá desses, também trocando beijinhos e risadinhas lascivas. A She, que tem uma bolsa fake da Prada, passou a freqüentar com suas amigas e amigos, mas eu nunca mais havia voltado. (O carinha que estava dormindo acordou, e está lendo a apostila do Objetivo de marca textos na mão).
Eu poderia fazer dezenas de reflexões acerca desses jovens desocupados, dos exageros americanos, dos carros passando lá fora... Mas resolvi escrever só para acompanhar o café, que já esfriou.
19 junho 2008
Fernanda Gardenal, (http://cabarepsicodelico.blogspot.com/)
Nos dias seguintes ao sábado em que assistimos “Aos Ossos Que Tanto Doem no Inverno”, fiquei tentando escrever alguma coisa sobre a peça, sobre os momentos que passei dentro do teatro, as sensações, emoções, devaneios, saudades. Perdi algumas horas diante da tela do computador e só consegui escrever o texto anterior (de 17/03/08), sem título, sem razão (ando com dificuldades para escrever). Os personagens da peça são um pouco do que escrevi; mas na verdade o texto fala de você, Fernanda.
Fazia muito tempo que não nos víamos. Quando nos reencontramos, eu ao lado de meu Amor Indelével, vi o quanto você continuava aquela pessoa especial, mágica, e o quanto eu havia apagado, me perdido. Senti certa inveja de você – uma inveja boa, entenda. Você não desistiu, não se abalou com as desilusões, não se rendeu aos ditames de nossa sociedade hipócrita, ao desvario da paulicéia, ao “fabulário geral do delírio cotidiano”. Você está maior sem precisar ter crescido daquela forma chata que nos torna casmurros, que nos envelhece.
Então hoje me deparei com “UM POUCO DE HISTÓRIA ROMÂNTICA...” do seu blog. Qualquer elogio que eu faça, qualquer adjetivo que eu use é pouco. Um palavrão do tipo PUTA QUE PARIU, escrito com letras garrafais expressa um pouco da surpresa, do deslumbre... mas o que quer que se diga será pouco. É mais do que maravilhoso...
Tudo o que você disse de forma tão pura, tão bela, reflete a angústia de muitas pessoas – e a grande maioria desiste; eu, inclusive. Na verdade, sequer sabemos o que falta. Desistimos ainda durante a busca e morremos sem saber qual era nosso dom. Talvez em algum momento da vida sentimos um arrepio inexplicável diante de uma situação aparente banal – ir ao teatro, por exemplo. Hamlet, para ter certeza de que o pai dele fora morto pelo irmão, fez com que se encenasse no teatro a morte relatada pelo fantasma do pai; ao ver de novo aquela cena o tio acabaria se entregando de alguma maneira. Você deve saber o que acontece em seguida... Pois a vida vive fazendo passar na nossa frente situações que eram para nós vivermos! Foi assim que você encontrou o teatro... o arrepio que você sentiu no SESI, e que se repetiu diversas outras vezes é esse arrepio que vem “de onde se produz a palavra eu”, fruto do fato de que era você quem devia estar ali (no caso do tio do Hamlet, porque ele já tinha vivido aquilo – e quem sabe se em outras vidas, caso existam, você não foi atriz?). No entanto, deixamos pra lá e voltamos para nossa vida estável, segura.
Você não voltou!!!
Dê graças a Deus por ter descoberto aos 22 anos. Tem gente que nunca descobre ou descobre aos 50, 60, 70 anos...
Ver tanta paixão, tanta empolgação ilumina as pessoas ao redor, faz com que continuemos buscando.
Elogiar um texto tão belo é pouco. É melhor agradecer: obrigado.
17 março 2008
São maiores os que não cresceram.