12 abril 2012

Na arquibancada


Deitado na arquibancada da quadra da faculdade, ouvindo Vinicius de Moraes num fone de ouvido que praticamente me isola do mundo, comecei a pensar no porquê de nunca mais ter voltado a escrever, e mesmo de ter passado a me isolar do mundo - seja através do fone ou de meu silêncio e indiferença com quase tudo ao meu redor.
Isso me veio à mente por que no show que estava ouvindo, Vinicius lê uma carta que escreveu para,

"Tomzinho querido,

Estou aqui num quarto de hotel que dá para uma praça, que dá para toda solidão do mundo. São 10 horas da noite e não se vê vivalma. Meu navio só sai amanhã a tarde, e é impossível alguém estar mais triste do que eu. E como sempre, nessas horas, escrevo para você cartas que nunca mando."

(Neste ponto geralmente eu refletiria sobre a solidão, citaria logo de cara o Nelson Gonçalves e sua idéia de solidão acompanhada. Mas ainda não é momento.)

Logo depois que ouvi o Vinicius, pensei em retomar meu antigo hábito escrevendo cartas; a primeira sem dúvida seria para o próprio Vinicius. Com certa pieguice, iria escrever que sentia saudades dele; saudades do tempo em que, aberta uma garrafa de whisky, logo eu dizia "o whisky é o melhor amigo do homem; é o cachorro engarrafado!" e brindava em sua homenagem (ao Vinicius, não ao cachorro - tinha esquecido o quanto esse negócio de seu e sua é o terror de quem escreve). Citaria dezenas de episódios hilários em que bebi em sua companhia, como quando cheguei sozinho ao "Bar do Tinóia" para tomar um chope após um dia fatídico, e o próprio Tinóia me chamou dizendo "hoje você não pode ir embora. Hoje tem uma homenagem ao Vinicius de Moraes" - todos sabiam o quanto eu gostava de Vinicius. Então fiquei, pedi minha garrafa de whisky (naquela época eu tinha algumas espalhadas por bares de Moema), e não lembro como voltei para casa. Sério mesmo. Acordei em casa, com vômito espalhado por todo canto. Dias depois quando voltei ao bar com alguns amigos, a garçonete me cumprimentou rindo: "oi chorão", e então descobri que não só tomei um porre homérico, mas cantei todas as músicas e recitei todos os poemas aos prantos. Lágrimas escorriam até o pescoço. Eu era muito sentimental.

Porém, por mais que eu goste de Vinicius, escrever uma carta para alguém morto que nunca conheci de verdade (?) não é exatamente uma boa forma de refletir sobre meu isolamento. Então simplesmente comecei a escrever. E cá estou, ainda com o fone e ainda na arquibancada, mas agora sentado. Escrevendo.


Quem tem ou algum dia teve o hábito de escrever deve ter percebido que nunca se sabe ao certo para quem ou para que escrevemos. "Ninguém escreve por que é feliz" alguém que não me lembro escreveu um dia - e no fundo ninguém é feliz. Não o tempo todo, não enquanto reflete sobre a vida e o mundo ao seu redor. E escrever é refletir.

Eu pretendo voltar a escrever. Necessito.
Mas infelizmente agora preciso tenho que ir para uma aula de Cálculo Vetorial e Geometria Analítica.

04 março 2011

OS TEXTOS ABAIXO SÃO DE 2008 PRA TRÁS.
O BLOG PASSOU TODO ESTE TEMPO INERTE, POR RAZÕES DESCONHECIDAS QUE TALVEZ SEJAM ASSUNTO DE OUTROS TEXTOS.

05 setembro 2008

Tentar explicar a dor que nos leva a escrever é tarefa delicada. Uma pessoa que escreve não é feliz...
E muitas vezes o assunto em si pode não ser triste; o processo de colocar pra fora, de mostrar, expor, é que torna a coisa dolorosa. E quando digo escrever me refiro a tentativa de transformar sensações e emoções em palavras, não essa baboseira que fazem pra ganhar dinheiro ou narrar com "impacialidade" algo que aconteceu.
Quando escrever envolve criação de um personagem, por exemplo, numa narrativa, deve ser ainda pior: Shakespeare precisa morrer e nascer Hamlet para escrever aquelas maravilhas. E convenhamos: a morte e o nascimento são coisas dolorosas.

E quando de repente você sente que já não consegue escrever da mesma forma que antes parece ser pior.

(Relendo o que escrevi, vejo que a idéia de dor e infelicidade se misturaram. Somos infelizes quando sentimos dor?)

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Me sinto patético. Ridículo. Instrumentalizei o uso das palavras e o resultado é algo tosco. Um cantor com melodia, boa banda, cuja voz se perdeu.

Amor de Panda

Todo mundo acha o Panda lindo; ele tem cara de fofo, parece ser o melhor bicho de estimação do mundo. Mas um panda dentro de casa deve ser complicado: o bicho é grande, desengonçado, atrapalhado, deve comer demais, não aprende a fazer as necessidades no lugar certo, e imagine acordar de manhã com um panda subindo na cama. Se um cachorro já não é fácil quando quer dar e receber carinho, imagine um panda amando feito um cachorro...

Ou o que é pior: amando ainda mais que um cachorro.

28 agosto 2008

Não sei se não estou preparado pra viver neste mundo ou se este mundo não está pronto pra mim.
Não faço parte do presente. Não me sinto presente. Tudo o que vejo me parece absurdo. Nada faz sentido.
Muitas vezes acredito que isso se dê em função do meu excesso de sentimentos e sensações num mundo que se quer racional e não é. Sentir é mais racional. A intuição é mais racional que a lógica.

Eu sinto muito.

26 agosto 2008

“... é na angústia que o homem toma consciência de sua liberdade”.
“... há que se dar razão a Kierkegaard: a angústia se distingue do medo porque medo é medo dos seres do mundo, e a angústia é angústia diante de mim mesmo”
“A vertigem é angústia na medida em que tenho medo, não de cair no precipício, mas de me jogar nele.”
J.P Sartre em O Ser e o Nada.


Então a gente pensa demais porque se sente sozinho ou se sente sozinho porque pensa demais???

22 agosto 2008

Não gosto muito da cidade onde moro; não nutro paixões por meu time de futebol ou qualquer outro esporte; não coleciono coisas intocáveis; gosto de diversos tipos de músicas e até nutro uma profunda admiração por alguns compositores, mas não sou tiete; não sonho com uma Ferrari ou uma Harley Davidson – confesso que gosto muito do meu Peugeot 206 e obviamente quereria outros melhores; mas tenho a triste certeza de que isso não me faria mais feliz.
Assim como Oscar Wilde, “sou uma pessoa de gostos simples: me satisfaço sempre com o melhor”. Namoro, cobiço, sonho com as coisas que vou comprar a curto prazo: fico olhando na vitrine ou pesquisando na internet. A compra do meu primeiro carro, do meu primeiro notebook, algumas roupas, celulares, foram coisas que me satisfizeram bastante. E bastante é o que basta.
Muitas vezes confundimos felicidade com prazer. Satisfação com felicidade. Prazer com satisfação. Uma mesma coisa pode ser comida ou saboreada – depende da fome (uma necessidade). Minhas vontades são quase sempre fruto de necessidades; satisfeitas as vontades, ponto ou reticências? Interrogação!!!
Não tenho grandes desejos (e esta deveria ser a frase inicial deste texto). Conheço o prazer, e a felicidade que dele resulta vez ou outra. Mas a felicidade também pode doer. Quase sempre dói. Daí as lágrimas... sou uma pessoa que chora muito.
Tenho o privilégio de namorar e estar noivo da mulher por quem sou apaixonado. Uma amor que é necessidade, satisfação e desejo. E me faz feliz.
Às vezes acho que eu deveria ser feliz sempre. Me sinto ingrato, o que me torna ainda menos feliz.
As coisas que venho escrevendo cheiram à filosofia de boteco.

20 agosto 2008

Tudo na vida pode ser compreendido ou sentido. Existe o sentir-sensação (sentidos) e o sentir-emoção (sentimento). Um pode levar ao outro. Ver algo é diferente de sentir – uma paisagem de Van Gogh é sempre algo mais para quem sabe sentir. Ouvir é diferente de sentir uma música.
Há um entrave entre a sensação e a emoção: a compreensão. A ameaça pode ser compreendida; o perigo só pode ser sentido (emoção).
Uma emoção é muito maior que qualquer sensação. O verdadeiro gozo vai além do corpo: é uma emoção.
Os grandes apreciadores de vinhos ultrapassaram o paladar: o vinho os emociona.
Uma coisa que não pode ser explicada, compreendida, não é menor que as outras.
O comunismo é uma emoção.
Todas as religiões são uma tentativa de compreender Deus. Deus pode estar em todas as sensações e em todas as emoções; nunca será compreendido.
A palavra “compreender” tem o mesmo elemento de composição de surpreender, apreender, aprender, repreender, depredar, prender.
Muitas vezes compreender é deixar de sentir.

04 julho 2008

Poema no Aquário

MELHORAR?
MELHOR
______ AR?
MELHOR
_____ORAR
_____ORA!

(Escrito há muitos anos no vidro de um desses aquários pequenos com um peixe beta dentro. Presente para minha tia então hospitalizada. Engraçado se deparar com essas lembranças... Houve um tempo em que a poesia era mais presente em minha vida. Ainda que eu não escrevesse, strictu sensu, poesia, as coisas eram vividas em forma de poesia - tinha um sopro diferente, e eu vivia minha vida como se ela estivesse sendo filmada ou viesse a se tornar um romance. Imagine a cena do menino trabalhador (eu tinha, então, 17 anos), saindo do trem lotado, parando numa pet shop pra comprar um peixinho que serviria de companhia para a tia no hospital. É Almodóvar puro! Então ele pára numa praça, pega a caneta de escrever em CDs (que também escreve em vidros) e faz um poema ali mesmo, bate-pronto, no meio das pessoas correndo pra lá e pra cá, saindo de trens lotados para entrar em ônibus ainda mais lotados...
Por fim, se não me engano esse peixe foi por água abaixo. E não é uma metáfora: quando foram trocar a água do aquário ele caiu no ralo da pia. Ou a vida realmente não é um romance, drama ou poesia; é comédia. Ou o protagonista da história não era eu, mas o peixe, que pode ter ido parar num lago e se apaixonado por uma perereca. E aí sim um belo romance: cada encontro era um sacrifício, pois nem a perereca podia ficar pra sempre dentro d'água; nem o peixe fora).



O Café

Estou sentado numa poltrona bastante confortável, ao som de músicas amenas, em inglês. No sofá à frente um casal alterna beijinhos e risadinhas lascivas, pressupondo o que fizeram ou estão por fazer. Na poltrona ao lado, separada de mim por uma mesinha redonda, está uma menina com traços orientais, All Star branco no pé, ouvindo sabe-se lá o que no seu Ipod Nano; por ser bem pequena, ela consegue dormir encostando a cabeça no braço da poltrona. Outra mesinha e uma poltrona vazia (que me faz lembrar Van Gogh) a separa de um rapaz deitado de lado na poltrona, pernas para fora, fazendo algo parecendo um N com seu corpo (ângulo de cima, o joelho; de baixo, o quadril). Na mesinha dele está um celular top de linha ligado na tomada, e uma apostila do Objetivo. É quarta-feira, 10 da manhã, e estamos na Starbucks.

Eu vim aqui pra usar a internet sem fio, o que não deu certo. Pedi um café puro pequeno e um pão de queijo. Pouca não foi minha surpresa quando entregaram um copo de 300 ml cheeeeeeio de café – o que até para mim, cafeinômano assumido, é um exagero (smack, smack, smack... fez a boca do rapazinho à frente no rosto da menina, que ri). Essa é a segunda ou terceira vez que venho numa Starbucks. A primeira vez eu vim com a Sheila pouco tempo depois de assistirmos O Diabo Veste Prada (o copo de café da Starbucks é coadjuvante no filme); pedi uma bebida com café, chocolate e sei lá mais o que, pensando que era uma bebida quente e era gelada; mas não era ruim, e ficamos esparramados num sofá desses, também trocando beijinhos e risadinhas lascivas. A She, que tem uma bolsa fake da Prada, passou a freqüentar com suas amigas e amigos, mas eu nunca mais havia voltado. (O carinha que estava dormindo acordou, e está lendo a apostila do Objetivo de marca textos na mão).

Eu poderia fazer dezenas de reflexões acerca desses jovens desocupados, dos exageros americanos, dos carros passando lá fora... Mas resolvi escrever só para acompanhar o café, que já esfriou.

19 junho 2008

Fernanda Gardenal, (http://cabarepsicodelico.blogspot.com/)

"Um dia, comecei a escrever, sem saber que me acorrentara por toda vida a um senhor nobre porém implacável. Quando Deus lhe dá um dom, ele também lhe dá um chicote; e o chicote se destina apenas à auto-flagelação… Estou aqui sozinho na escuridão de minha loucura, sozinho com meu baralho - e, é claro, o chicote que Deus me deu". Truman Capote


Nos dias seguintes ao sábado em que assistimos “Aos Ossos Que Tanto Doem no Inverno”, fiquei tentando escrever alguma coisa sobre a peça, sobre os momentos que passei dentro do teatro, as sensações, emoções, devaneios, saudades. Perdi algumas horas diante da tela do computador e só consegui escrever o texto anterior (de 17/03/08), sem título, sem razão (ando com dificuldades para escrever). Os personagens da peça são um pouco do que escrevi; mas na verdade o texto fala de você, Fernanda.
Fazia muito tempo que não nos víamos. Quando nos reencontramos, eu ao lado de meu Amor Indelével, vi o quanto você continuava aquela pessoa especial, mágica, e o quanto eu havia apagado, me perdido. Senti certa inveja de você – uma inveja boa, entenda. Você não desistiu, não se abalou com as desilusões, não se rendeu aos ditames de nossa sociedade hipócrita, ao desvario da paulicéia, ao “fabulário geral do delírio cotidiano”. Você está maior sem precisar ter crescido daquela forma chata que nos torna casmurros, que nos envelhece.

Então hoje me deparei com “UM POUCO DE HISTÓRIA ROMÂNTICA...” do seu blog. Qualquer elogio que eu faça, qualquer adjetivo que eu use é pouco. Um palavrão do tipo PUTA QUE PARIU, escrito com letras garrafais expressa um pouco da surpresa, do deslumbre... mas o que quer que se diga será pouco. É mais do que maravilhoso...
Tudo o que você disse de forma tão pura, tão bela, reflete a angústia de muitas pessoas – e a grande maioria desiste; eu, inclusive. Na verdade, sequer sabemos o que falta. Desistimos ainda durante a busca e morremos sem saber qual era nosso dom. Talvez em algum momento da vida sentimos um arrepio inexplicável diante de uma situação aparente banal – ir ao teatro, por exemplo. Hamlet, para ter certeza de que o pai dele fora morto pelo irmão, fez com que se encenasse no teatro a morte relatada pelo fantasma do pai; ao ver de novo aquela cena o tio acabaria se entregando de alguma maneira. Você deve saber o que acontece em seguida... Pois a vida vive fazendo passar na nossa frente situações que eram para nós vivermos! Foi assim que você encontrou o teatro... o arrepio que você sentiu no SESI, e que se repetiu diversas outras vezes é esse arrepio que vem “de onde se produz a palavra eu”, fruto do fato de que era você quem devia estar ali (no caso do tio do Hamlet, porque ele já tinha vivido aquilo – e quem sabe se em outras vidas, caso existam, você não foi atriz?). No entanto, deixamos pra lá e voltamos para nossa vida estável, segura.
Você não voltou!!!
Dê graças a Deus por ter descoberto aos 22 anos. Tem gente que nunca descobre ou descobre aos 50, 60, 70 anos...
Ver tanta paixão, tanta empolgação ilumina as pessoas ao redor, faz com que continuemos buscando.

Elogiar um texto tão belo é pouco. É melhor agradecer: obrigado.

17 março 2008

Só é verdadeiramente grande o ser humano apaixonado. O que sente dores muito além do corpo, muito além dos ossos; aquele que tem um pedaço da alma amputado sem anestesia e que nunca pára de doer. É muito mais digno aquele que sente saudade de coisas que nem teve direito.

São maiores os que não cresceram.

26 novembro 2007

Não sei dizer se para mim escrever é uma necessidade. Sinto mais falta de ler do que de escrever. Sempre escrevi buscando me entender. Sempre foi ao escrever que eu conseguia sistematizar meus pensamentos. Como se a necessidade de escolher as letras, as palavras, pontos e vírgulas, diminuíssem o ritmo de meu cérebro.
Não sei por que fui parando de escrever. Não sei se a vida passou a bastar, não sei... Ao parar de escrever com freqüência, fui ficando impaciente, casmurro, mal humorado, taciturno. Mas não me sinto triste. Foi algo como “cair em si”; e a queda foi dura.

É difícil envelhecer. Acho que estou envelhecendo... Não é fácil encarar a vida com todas as suas mazelas. Sempre fui muito empolgado. Sempre tive necessidade de criar e me engajar em projetos coletivos, sempre sonhei e envolvi as pessoas ao redor nos meus sonhos. Sempre me vi no centro das atenções, como que carregando uma tocha de luz a iluminar vidas alheias (que pretensão...).
Torpe ironia... hoje sou quase um misantropo. Aquele diálogo do velho (e por mim abandonado) Buk:
- Eu odeio pessoas. Você não?
- Não. Só quando elas estão por perto.

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Tempos atrás criei o projeto de uma revista chamada “Cisma”. Fiz o texto de apresentação, alguns outros textos, aprendi a mexer no Photoshop pra fazer uma capa (imagem acima) e tudo o mais. Aliciei várias pessoas para o projeto; todos se empolgavam. Passávamos madrugadas regadas a whisky e cerveja, discutindo, sonhando...
Mandei diversos e-mails para pessoas importantes buscando apoio, textos, entrevistas. Recebi convite para ir até o Itamaraty, em Brasília, após mandar um e-mail para a ADB – Associação dos Diplomatas Brasileiros.
Um desses e-mails empolgados foi para o Renato Janine Ribeiro, professor de Ética e Filosofia Política na USP. Deu algumas dicas e o endereço da casa dele para que eu mandasse o primeiro número da revista, garantindo que colaboraria no segundo. Elogiou o projeto, e disse ao final para que eu não perdesse o “Élan”. Não conhecia a palavra, e recorri ao dicionário, que direcionou para "Elã":

 substantivo masculino
1 movimento súbito, espontâneo; impulso
Ex.:
2 emoção, calor, vivacidade
Ex.:
3 entusiasmo criador; inspiração, estro
4 movimento afetuoso, expansivo

O projeto da revista não andou. Tudo era empolgante, mas ninguém queria produzir realmente. Como disse um professor, “essa revista deveria se chamar ‘revista do Fabricio’”. Eu escrevi vários textos, apresentação, capa...

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Enfim, toda essa lengalenga pra dizer que o meu mal hoje, o que realmente me incomoda, me corrói, me frustra, me angustia, é ver que realmente perdi esse “élan”.
Na verdade, já não me queimo mais.

17 maio 2007

As Tempestades e o Porto

No mais, já conheço esse mar, já passei por outras tantas tempestades; não desse jeito, mas já passei.
Só que antes a paz existia somente em tempos de calmaria. Hoje tenho um porto seguro onde me acalmo, tenho paz, independente de tudo, esteja o tempo como estiver.
(Ter numa só pessoa a namorada, a amiga, a conselheira, e vez outra aquelas broncas típicas de mãe, é reconfortante - embora eu abrisse mão das broncas, hehehe).

De qualquer forma, não é fácil ser barco no meio duma tempestade, mesmo tendo onde aportar.
Embora tendo o porto, o problema consiste na impossibilidade de desembarcar...

"Essa loucura roubada
que não desejo a ninguém
a não ser a mim mesmo
amém"
(Bukowski)
O grande problema mesmo é saber que muita coisa está me fazendo mal, mas não saber exatamente qual o tipo de mudança me faria bem. Onde mora o problema: no modus vivendi ou no modus operandi?

'Descompassos' ou 'Eu sou tudo pela metade'

Outra vez vou me esquecer
Pois nestas horas pega mal sofrer
(Cazuza)

Não sou uma pessoa de grandes ambições e sonhos impossíveis. Minha paz e minhas alegrias se fazem de coisas simples... Se me pedissem pra escolher entre ser um grande empresário aos 23 anos, viajar o mundo, ter carros, casas, fazendas ou ser um estudante que pudesse se dedicar um pouco mais aos estudos, escolheria ser estudante.
Me incomoda ser as coisas pela metade. Hoje sou meio estudante, meio trabalhador, e ambas as coisas exigem cada vez mais de mim. Não que eu não queira trabalhar, mas não acho justo perder a minha vida com uma coisa que não me leva a lugar algum. A forma como hoje é o meu trabalho é que incomoda - e creio que isso é reflexo dos nossos tempos modernos. Se depois que eu me formasse fosse assim, não incomodaria tanto; mas o fato de não ser possível me formar em paz... isso é que corrói.

Além do que, eu sou perdidamente apaixonado pelo mundo da cultura, em todas as suas formas. Eu gosto de ler, gosto de música, gosto de museus, gosto de escrever...
E há quem fale: é preciso correr atrás dos seus sonhos. Mas a coisa é de tal forma amarrada que parece ser impossível mudar (como pagar a faculdade? Como conseguir um mínimo de subsistência para seguir adiante na Paulicéia?).
Todo esse desvario parece atrapalhar o resto da minha vida. Eu passei a ser tudo pela metade. Me sinto meio-filho, meio-namorado, meio-irmão, meio-amigo...
EU SOU TUDO PELA METADE.

04 abril 2007

Direito e Moral

Considerações sobre o capítulo 2 de "Teoria Pura do Direito", de Hans Kelsen:

O Direito e a Moral abrangem um conjunto de normas sociais que regulam a conduta dos homens. Para alguns filósofos, afirma Kelsen, o conjunto de normas criado pela Moral regula a conduta interior do homem na medida em que restringe seus interesses primários ou egoístas; no entanto, isso só faz sentindo a partir do momento em que cria outros interesses, aparentemente contraditórios (exemplo: a manutenção da ordem social que se opõe às inclinações egoístas).
Porém não se pode fazer uma distinção entre o conjunto de normas do Direito e da Moral afirmando que um regula a conduta externa e outro a interna; ou que essa distinção se encontra “naquilo que as duas normas prescrevem ou proíbem”. A ausência de um poder coercitivo central da moral (um poder executivo), e a presença deste no Direito, faz com que a distinção essencial se dê no como prescrevem ou proíbem uma determinada conduta humana.
A inexistência de uma Moral absoluta a partir de um ponto de vista científico faz com que o Direito se torne parte da Moral, mas uma determinada ordem social que não é moral, pode ser considerada Direito (o que nos dias de hoje se dá no caso da transfusão de sangue, prevista no Direito, que não é aceita por uma norma social de cunho moral das Testemunhas de Jeová).
Sendo parte da Moral, exigir do Direito que seja moral não faz sentido, pois pressupõe um Direito imoral. A separação entre Direito e Moral se faz somente porque uma “ordem jurídica positiva é independente desta Moral absoluta, única válida, da Moral por excelência,de a Moral”.
Quando uma ordem jurídica á valorada como moral ou imoral, justa ou injusta, isso é feito a partir de um sistema de moral relativo, específico.
A Teoria Pura do Direito proposta por Kelsen, ainda que admita a relação entre Direito e Moral, nega a dependência ou a obrigação deste com relação àquela. Essa obrigação pode prestar “politicamente bons serviços”, afirma. A suposição de que uma determinada ordem social moral seja Direito põe em xeque as outras ordens sociais, que além de imorais podem ser consideradas como não-Direito, ou que tenham caráter democrático ou não-democrático etc. Os E.U.A. são exemplo típico disso nos dias de hoje: além de uma ordem social moral querer regular o comportamento interno dos cidadãos (como no caso da recente discussão sobre o ensino ou não das teorias de Darwin), essa ordem tenta se impor a outros países, acusando-os de não-democráticos. A ciência jurídica não precisa legitimar ou valorar o Direito através da Moral; tem somente que "conhecer e descrever" a ordem normativa que compete ao Direito.

26 março 2007

Crônica de um Amor Absoluto

Acontece que ela me dá uma paz tão inexplicável, tão absoluta, que meus desassossegos ficam pra trás assim que nos abraçamos. Não há estresse que permaneça diante daqueles olhinhos pequenos, de um brilho que ilumina meu caminho, minha vida.
Nossos fins de semana são um sonho. Discutimos filosoficamente os problemas da semana (inclusive os que surgem entre eu e ela, pois durante a semana acaba respingando em nós um pouco de baba da ‘raiva com empolgação’ do texto anterior), trocamos carinhos, olhares apaixonados que quem vê pensa que começamos a namorar há um mês.
É quase um vício. Preciso sentir o cheiro dela, ouvir a voz... Tudo me encanta. Às vezes fico olhando como se acabasse de ter descoberto algo novo nela; que percebe, dá risada da minha cara de bobo, e pergunta:
- O que foi?
- Nada!
- Você ta rindo!
- Eu?!
Então se dá mais uma cena que deixa as formigas loucas.

É difícil entender o que nos tornou assim, tão próximos, tão amigos, tão amantes. Pode se falar em almas gêmeas, desejos, vontades, carma, coisas que talvez Freud explique... sei lá. A história é longa, tem mais de 3 anos (o namoro mesmo tem só 10 meses). Aquele negócio: eu, o último romântico, me apaixonei, escrevi cartas apaixonadas, mandei flores, chorei nos braços dela sem ganhar sequer um beijo, andei bêbado por Moema chorando por ela, que não estava nem aí. O ápice de nossa pré-história se deu quando ela ficou doente (http://minhascismas.blogspot.com/2006/03/crnica-de-um-desespero.html), e a partir daí foi a história de O Pequeno Príncipe que nos uniu. “Minha rosa, sem dúvida um transeunte qualquer pensaria que se parece convosco. Ela sozinha é, porém, mais importante que vós todas, pois foi a ela que eu reguei. Foi a ela que pus sob a redoma. Foi a ela que abriguei com o pára-vento. Foi dela que eu matei as larvas (exceto duas ou três por causa das borboletas). Foi a ela que eu escutei queixar-se ou gabar-se, ou mesmo calar-se algumas vezes. É a minha rosa".
Num belo dia (2 anos e tanto de flerte, cartas de amor, flores!), eu falando alto e gesticulando como sempre – afinal eu já havia desistido e éramos amigos - ela vira pra mim e diz "Fabricio, me beija", como quem me mandasse calar a boca. Eu nem sabia o que fazer. Foi um beijo horrível, confesso. A gente não sabia se pegar, sei lá...
Durante uma ou duas semanas, éramos péssimos. Beijos sem gosto, abraços esquisitos, um distanciamento inexplicável. Estávamos sem graça. Mas com o tempo fomos virando o que somos hoje – quase uma coisa só.
Foi e é difícil convivermos com o fato de que éramos amigos, e que essa amizade gerou muitas conversas sobre os affairs de então. Ela chorava “dores de outro amor”, acabava comigo, eu precisava e dizia que a amava, ela fingia que não sabia, não ouvia; então eu me entregava à boêmia - o estereótipo dum romântico do século XIX - e depois narrava as peripécias pra ela.

Já tivemos algumas brigas, descobrimos defeitos um do outro, aparamos arestas, sentimos medos, mas continuamos seguindo adiante. A única coisa que temos em comum é o amor um pelo outro; o resto é feito cão e gato. Talvez isso até justifique a tese de que “os opostos se atraem”, mas seria simples demais.
Não há explicação. Eram 0:30 de segunda-feira, o fim de semana praticamente já havia acabado, mas estávamos vis-à-vis, se olhando no fundo dos olhos como quem procura ainda mais o outro. Então choramos por alguns minutos, como se as lágrimas purificassem nosso amor.
Um amor absoluto.

23 março 2007

Crônica de um Estresse Absoluto

Se “depressão é meramente raiva sem entusiasmo”, como disse Steven Wright, o estresse é uma raiva entusiasmada, um ódio “majestoso... santo, puro e benfazejo”, como no poema de Cruz e Souza.
No ápice de meu estresse, sinto ímpetos homicidas e adquiro a certeza que sou absolutamente capaz de espancar um motorista de lotação até a morte, seja ele do tamanho que for; motoboys, meu patrão, clientes, colegas de trabalho, o prefeito, vereadores, caminhoneiros... todos que atrapalhem minha vida são vítimas de um ódio profundo.
A raiva às vezes é tanta que minha boca seca, meu coração acelera e meus punhos fecham. Olho para os lados em busca de qualquer coisa que possa servir de arma, caso a vítima seja maior que eu, ou mais de uma pessoa.
Mas os motoristas de lotação têm monopolizado meu ódio. Essa corja de filhos da puta deveria ser espancada diariamente, em avenidas públicas. Quando ouço “vamo aê, pessoal... um passinho pra trás” sinto minhas veias pulsarem, meus músculos se retesarem... Pais de família? Trabalhadores? O caralho!!!
Dominado o ódio inicial, a atenção se volta à administração pública: por que diabos não são utilizados ônibus em vez lotação? Por que em bairros mais pobres são utilizados micro ônibus?
Eu fico puto!!!
Sinto falta de uma buzina, mesmo quando não estou dirigindo. Odeio aquelas pessoas andando devagar, pessoas que ficam paradas na escada rolante (escada rolante também é feita para andar! Quer ficar parado, fica na direita; deixe a bosta da esquerda livre!!!). E aquele povinho entregando papel?
Daí eu chego na faculdade absolutamente casmurro, e verdadeiras sirigaitas e bugios fazem da classe um zoológico em horário de alimentação (observação: eu mandaria empalar uma daquelas patricinhas que deixam o estojo de metal cair no chão quando está silêncio). Um bando de filhinhos de papai, vagabundos ontem, hoje e sempre. Nunca trabalharam, nunca vão trabalhar. No máximo, o papai vai arrumar um emprego qualquer onde eles serão odiados em função da incompetência que lhes gerará apelidos carinhosos. Advogados? Duvido... (óbvio que há exceções, e não são poucas; só que prevalece o som dos imbecis). Fico inconformado com essa gentinha que o pai obriga a estudar. Se me perguntassem o que eu queria fazer da minha vida hoje, era estudar: chegar na faculdade mais cedo, poder ficar até a última aula, estudar em casa durante o dia, escrever mais, ler mais. E esses idiotas...

(passo as duas mãos na cara esticando-a para baixo, me deixando parecido com o quadro “o Grito”, do E. Munch. Torço o pescoço para um lado e para o outro, o que faz o barulho de bambu sendo dobrado.)

Passo a semana pensando em coisas legais para escrever. Terminei de ler "As Teorias das Formas de Governo", e adoraria viajar nas idéias de Norberto Bobbio. Fui para Brasília quarta, vi várias coisas interessantes sobre as quais poderia escrever.
Acontece que é sexta-feira, 5 e tantas da tarde, já discuti com meio mundo, estou prestes a jogar tudo pro alto e começar do zero. Se eu não escrevesse, precisaria brigar com alguém ou encher a cara até esquecer quem sou. Achei melhor escrever. Para concluir, alto e bom som:

FODA-SE O MUNDO!!!

Hoje vou encontrar minha princesa, vamos conversar besteiras, amanhã não vou em treinamento algum (pois é, não bastasse essa loucura, meu diretor quer que eu vá num evento em pleno sábado).

Certo, mas onde é mesmo o freio dessa porra?

13 março 2007

Fantasmas

Se imagine sozinho num castelo frio, sem poder sair... De repente, surge um fantasma. O assombro com o fantasma é natural – afinal é um fantasma. Mas o que fazer? Gritar? Correr? Fingir que ele não está ali? Conversar com ele?
É mais ou menos assim que algumas poesias surgem na minha mente – como fantasmas me assombrando em momentos de solidão e frio. A poesia, assim como o fantasma, não é algo natural, não faz parte desse mundo. O que fazer com ela? Fingir que não está ali? Conversar? Correr?
Quando escrevemos é ‘menos pior’ que isso. Escrever é como falar sozinho dentro desse castelo frio. Ameniza, acalma... mas a poesia alheia incomoda, por que é também um certo fracasso: ela não é sua. Foi assim, hoje, que lembrei duns versos de Álvaro de Campos, heterônimo do Pessoa. “O que há em mim é sobretudo cansaço...”


O que há em mim é sobretudo cansaço
Não disto nem daquilo,
Nem sequer de tudo ou de nada:
Cansaço assim mesmo, ele mesmo,
Cansaço.

(...)

Há sem dúvida quem ame o infinito,
Há sem dúvida quem deseje o impossível,
Há sem dúvida quem não queira nada -
Três tipos de idealistas, e eu nenhum deles:
Porque eu amo infinitamente o finito,
Porque eu desejo impossivelmente o possível,
Porque eu quero tudo, ou um pouco mais, se puder ser,
Ou até se não puder ser...

E o resultado?
Para eles a vida vivida ou sonhada,
Para eles o sonho sonhado ou vivido,
Para eles a média entre tudo e nada, isto é, isto...
Para mim só um grande, um profundo,
E, ah com que felicidade infecundo, cansaço,
Um supremíssimo cansaço.
Íssimo, íssimo. íssimo,
Cansaço...

obs.: lembrava de muitos versos, mas o que está aqui acima é fruto do Google: copiei e colei de algum site.
Não sei não, mas acho que estou ficando louco. Um silêncio pungente, duma dor gritante, vem tomando conta de mim.

06 março 2007

... rio, vario, desvario ...
Tanta coisa! Tanta coisa!
Dia desses acordei procurando o controle para desligar a TV que eu liguei sonâmbulo. 03 horas da madrugada. E eu tava bravo, com o coração a mil.

... ação, ração, coração...
Semana passada tive consulta com a cardiologista. "Coração vagabundo, quer guardar o mundo em mim" e inventou de fazer samba no meu peito. E não é um samba qualquer, mas aqueles de carnaval mesmo, baterias e tal.

... rias, terias, baterias...
E se o coração faz samba, a cabeça é o Bethoven fazendo 'vuco-vuco' em discos com as mãos - como fazem os DJs - tocando piano com os pés e dando cabeçada nalguma coisa de som grave e longo.



... ando, curando, procurando ...
Não estou fugindo.

Aulas à Revelia

É absolutamente inaceitável a forma como o Ensino a Distância vem sendo tratado na Unicsul. As únicas coisas definidas são as datas e a ferramenta que será utilizada: o malfadado Blackboard – BB para os íntimos. "O resto é mar..."; um mar de descaso, dúvidas e displicência.
De início, vale pensar: será que nós, alunos, ganharemos alguma coisa com a redução de 20% das aulas presenciais? Qual a opinião dos professores? Qual a opinião da OAB, no caso específico do curso de Direito? Ironicamente, penso: será que as aulas semi-presenciais são um meio de entrar na lista de faculdades recomendadas pela elitista OAB? (Confiram: http://www.oab.org.br/noticia.asp?id=8766). Creio que não.
De qualquer forma, pulemos a apresentação do projeto de Ensino a Distância (que é legítimo, e consta lá a possibilidade de 20% de aulas semi-presenciais para instituições de Ensino Superior), e vamos direto aos "Referenciais de Qualidade Para Cursos a Distância"[1], de abril de 2003. A epígrafe, à luz do que está acontecendo na Unicsul, é no mínimo irônica: "Qualidade não é obra do acaso. Resulta de intenção, esforço e competência. George Herbert.”
O documento diz que são “dez os itens básicos que devem merecer a atenção das instituições que preparam seus cursos e programas a distância:
1. compromisso dos gestores;
2. desenho do projeto;
3. equipe profissional multidisciplinar;
4. comunicação/interação entre os agentes;
5. recursos educacionais;
6. infra-estrutura de apoio;
7. avaliação contínua e abrangente;
8. convênios e parcerias;
9. transparência nas informações;
10. sustentabilidade financeira.”
Comentários:
- No caso da Unicsul, o papel dos gestores no processo de apresentação do blackboard fez pensar que o BB de www.unicsul.br/bb se referia na verdade ao Big Brother – não ao patético programa global, mas à figura soberana do livro 1984, de George Orwell. O livro trata de uma sociedade comunista, onde, dentre tantas ironias, o soberano é o Grande Irmão, que monitora a vida de todos inclusive pela TV. Nosso gestor seria o Big Brother?
- O item 2 começa assim: “Para começo de conversa, educação a distância não é sinônimo de redução de tempo de integralização de currículos, cursos e programas”. É preciso falar mais alguma coisa?
- A equipe profissional multidisciplinar exigida no item 03 se resume ao comentário de alguns professores: “mas eu nem tenho senha do blackboard!”
- A comunicação/interação entre os agentes veio por meio de um recado colado no mural da classe, onde constam as datas das tais aulas semi-presenciais.
- Recursos educacionais... seria o “Digital Dropbox” ou o “Electric Blackboard” e outros nomes pomposos no www.unicsul.br/bb?
- Com muita boa vontade podemos descobrir a infra-estrutura de apoio, cujo telefone é 61370066 e o site é www.unicsul.br/nead. Vale constar que nem uma nem outra informação estavam no ‘aviso’ com as datas de aulas semi-presenciais.
- Avaliação contínua e abrangente? Reticências.
- Convênios e parcerias? Reticências.
- Transparência nas informações? Reticências.
- Sustentabilidade financeira? Ah... o investimento em equipamentos e software deve ser considerável, mas a redução de 20% nas horas-aula garante uma boa quantia em dinheiro aos cofres da Unicsul. Aliás, é impossível não pensar na imposição das atividades semi-presenciais como uma forma ridícula de economia. E a coisa é tão mal feita que se houvessem duas atividades semi-presenciais no mesmo dia, caberia o argumento: “assim os alunos não teriam que vir a faculdade, teriam mais tempo para estudar em casa, não pegariam trânsito, não estariam sujeitos à violência da paulicéia desvairada etc”. Mas nem isso. De qualquer forma os alunos precisam estar na faculdade, já que antes ou depois haverá aula presencial, enquanto os professores não. Os alunos estão pagando e os professores não estão recebendo. Esse Big Brother é bem esperto.
Assim como a opção por mestres (que recebem menos) em vez de doutores (que recebem mais) é feita sobretudo por medidas de economia e baseada na conjunção alternativa ‘ou’ de não sei qual lei – que estabelece um percentual de “mestres ou doutores” para as universidades – a utilização do limite de 20% de aulas semi-presenciais não tem outra explicação além de economia, e foi tomada à revelia dos alunos e professores (deduzo a partir da falta de programa de grande parte deles).
Mais uma vez os interesses da iniciativa privada se sobrepõem ao interesse comum – o de alunos que estão sendo lesados em 20% do que pagam mensalmente por uma coisa que deveria ser gratuita para todos – o Ensino Superior - , dada a quantidade de impostos que pagamos. Clamar pela extinção das atividades on-line ou do blackboard seria burrice, afinal vivemos numa era digital, e o blackboard parece ser uma excelente ferramenta. Mas deixar as coisas acontecerem da forma como estão acontecendo seria mais burrice ainda. Precisamos nos organizar.
[1] http://portal.mec.gov.br/sesu/arquivos/pdf/ReferenciaisQualidadeEAD.pdf

01 março 2007

Primeiras Lições da Unicsul

É tanta gente falando ao mesmo tempo, que fica difícil dizer com exatidão quando a palavra 'blekibord' foi pronunciada pela primeira vez em sala de aula. Mas é aí que entra em prática a primeira lição que aprendemos na Unicsul: a intuição.
Ainda que vivamos num país de língua portuguesa, o conhecimento de inglês é 'default' (um termo francês para 'padrão'), então intuímos que blekibord é, na verdade, 'blackboard' - BB, uma ferramenta de ensino bastante interessante para os curiosos que pesquisaram no Google.
E de repente, não mais que de repente, temos uma atividade on-line no 13º dia letivo! Então nos vemos, mais uma vez, reféns de nossa intuição. E até que deu certo!
No 15º dia letivo, tumulto. Pânico. Todos falam, sugerem, divagam. A professora faltou. Fala-se em 'adiantar' aula.
- O Viana disse...
- Tá na sala do Viana...
- Viana...
Viana, um nome recorrente; a intuição entra em ação novamente: deve ser o coordenador.
- Mas não é uma ‘coordenadora’? – outra pessoa diz.
Nem o tal Viana aparece, nem a possível ‘coordenadora’. Entediado e confuso, penso que a sigla BB é na verdade Big Brother. Será que o Viana é nosso Grande Irmão?
Aos que não sabem, o 'Big Brother' surgiu no livro 1984, de George Orwell. Escrito na década de 50, o livro relata uma ‘vitória’ do comunismo lá pela década de 80, blábláblá, e por se tratar de um mundo comunista, o líder (soberano?) é o "Grande Irmão", que monitora nossa vida de várias maneiras, dentre elas a TV - que recebe e transmite imagens. Observem que num mundo comunista não há um líder, mas um Grande Irmão; e esse negócio de blackboard parece ser monitorado por um grande irmão que acredita piamente em nossa capacidade de intuição e dedução (as falhas de data ou de uso de palavras - 'mundo', por exemplo - devem ser perdoadas incondicionalmente nesse parágrafo).

Tudo na Unicsul remete a idéias de anarquismo e uso de suposições. Hoje é moda falar em qualidade, ISO, e nas grandes empresas são criadas 'instruções de trabalho' para todas as coisas: da criação à impressão de documentos. Seria interessante que isso funcionasse na Unicsul. Algo do tipo: Instrução 01 - cadastrando no BB, Itr 02 - formatando.. etc, etc, etc (cliquem em 'ajuda' no BB para ver. Horrível!)
E note que estamos falando de qualidade na melhor universidade particular de São Paulo!

Há os 'representantes', eleitos democraticamente, e tal... mas ainda assim falta comunicação. São muitas vozes, muitas opiniões... uma verdadeira balbúrdia. Já passou da hora das explicações.
Blackboard ou Big Brother, o www.unicsul.br/bb segue sob a égide da anarquia. Estamos habilitados (e como algumas atividades estão marcadas, estamos obrigados!) a utilizar uma ferramenta que desconhecemos. É como se distribuíssem carteiras de habilitação para pessoas que não fizeram aulas práticas, sequer teóricas.

Por ter habilitação, cá estou. Não sei se estou na contramão ou se sigo a velocidade correta. Cadê o guarda???

26 outubro 2006

Devaneios...

Para Gardenal,

O que será preciso fazer para ser compreendido?
E se soubermos fazer o que for preciso - seja lá o que for - o que será compreendido?
O quanto mais de paixão será preciso para voarmos? O quanto de precisão teremos ao voarmos?
Onde?

"Eles não sabem o que querem e querem o que não sabem"

O que será preciso para compreender?
E se soubermos fazer o que for preciso - seja lá o que for - será bom saber?
O quanto mais de paixão eles precisam para querer voar? E se voarem...
Onde?

Com o tempo muda... as pessoas mudam... são só sonhos....

Sei que amo muito e acredito em fadas.
O que fazer quando as pessoas não acreditam?

19 outubro 2006


"A mulher mais linda do mundo não parece em nada com a Nicole Kidman (o branco dos olhos, talvez), que é a segunda ou a terceira mulher mais linda do mundo.
A mulher mais linda do mundo fala mansinho feito uma menininha brincando de boneca, e desafina ao cantar "Eu Sei Que Vou Te Amar". Quando doente fica meio verde, e torce a boca para o lado esquerdo quando está insatisfeita.
A mulher mais linda do mundo come feito gente grande, mas é magra de ruim; de uns tempos pra cá vem engordando um pouquinho - o que, confesso, a torna ainda mais linda.
A mulher mais linda do mundo usa um perfume com cheirinho de criança, e não sei se isso é sintoma de uma possível pedofilia minha, mas ainda assim é um perfume meio sexy.
A mulher mais linda do mundo acorda uma hora e meia mais cedo só para esticar o cabelo, que nem precisava ser esticado, e fica lá... secador, chapinha, pente...
A mulher mais linda do mundo tem duas covinhas no queixo que aparecem quando ela ri. Tem duas nas costas também, mas deixa pra lá, hehehe...
A mulher mais linda do mundo sabe dar golpes de Jiu Jitsu quando convem, e às vezes se prende a mim feito uma preguiça na árvore.
A mulher mais linda do mundo tem um vestidinho rosa, muitas bolsas e uma melissa dourada para pôr no pezinho mais lindo do mundo.
A mulher mais linda do mundo ronca quando está cansada, e mexe a cara toda quando dorme.
A mulher mais linda do mudo faz coisas que ninguém que olhe para aquele rostinho inocente acreditaria...
A mulher mais linda do mundo às vezes conversa comigo como se fosse minha mãe, ou então uma amiga muito antiga, ouvindo minhas besteiras, falando outras tantas.
A mulher mais linda do mundo tem a menor boca do mundo, acho, mas o maior beijo, tenho certeza.
A mulher mais linda do mundo talvez não seja a mais bonita do mundo, mas às vezes deixa meus olhos cheios de lágrimas ao dizer coisas lindas, ao me tornar o homem mais feliz do mundo, ao ser a minha namorada, a minha mulher.

Eu e Vinicius de Moraes

"Se a felicidade existe, eu só sou feliz enquanto me queimo e quando a pessoa se queima não é feliz. A própria felicidade é dolorosa."
Vinicius de Moraes


Eu tenho certeza de que o que eu sinto pelo Vinicius de Moraes é uma forma de amor inexplicável. Uma admiração profunda, respeito, uma certa inveja até, com uma pitada de dó - não deve ser fácil ser poeta assim.
Não lembro quando eu 'conheci' Vinicius. Não lembro quais foram os primeiros versos que li, as primeiras músicas que ouvi... sei que quando estava no primeiro ano do Ensino Médio, uma amiga emprestou uma biografia enorme dele, da qual li alguns trechos pulando muita coisa, mas fui me envolvendo por aquela paixão toda... sei lá. Já havia lido diversos poemas dele, e era bem capaz de já nessa época eu ter decorado o Soneto de Fidelidade. Mas foi com o tempo que eu realmente passei a amá-lo.
Há pouco tempo comprei um DVD com uma espécie única de documentário com requintes de tudo que envolve a sétima arte. Músicas cantadas por diversos intérpretes, depoimentos, imagens dele já bem velho, bêbado... tanta coisa linda!
É preciso confessar, também, que muito de todo fascínio e amor envolve uma certa incompreensão - eu não consigo imaginar como um poeta assim se casa nove vezes. Escrever coisas tão lindas para pessoas diferentes, sentir sempre esse amor, esse 'precipício da paixão', como dizem no DVD.
Toda vez que eu bebia whisky, pensava em Vinicius. Fui num "Tributo a Vinicius de Moraes" no meu bar preferido dentre todos de Sampa (o Bar do Tinóia), e bebi tanto que mal lembro como cheguei em casa. Quando voltei lá alguns dias depois, a garçonete, já amiga de outros porres, me chamava de chorão, porque eu bebia, cantava e chorava, apaixonado, deslumbrado, com saudades dele. Não teve um gole de whisky em minha vida toda em que eu não lembrasse de Vinicius ou citava: "o whisky é o melhor amigo do homem". Eu não bebia com meus amigos ou mesmo sozinho. No fundo, eu bebia com o Vinicius.
São vários os poetas que são importantíssimos na minha vida. Eu li muito mais o Fernando Pessoa do que o Vinicius, sem sombra de dúvidas. Mas talvez pela proximidade cronológica, talvez pelas músicas, pela voz, pelas imagens...
Eu e a Sheila nem marcamos casamento, mal sabemos o que vamos fazer nesse fim de semana - sabemos somente que nos amamos e vamos ser felizes juntos. Mas se tivermos um filho, ele se chamará Vinicius. Isso já está definido (já com o consentimento dela, óbvio, hehehe).

17 outubro 2006

>: 4 - 8 - 15 - 16 - 23 - 42

Estou lendo "Os Porcos Espinhos de Schopenhauer", livro de uma psicóloga americana chamada Deborah Anna Luepnitz. O livro até que é legal, e destaca o papel do diálogo nas relações humanas.
Tenho vários comentários a fazer sobre o livro, mas eu estava pensando era no papel dos monólogos em nossas vidas; sobretudo esses que faço aqui.
Escrevendo ou somente pensando passo a entender muitas coisas sobre mim. Chego às vezes a arriscar diagnósticos sobre alguns comportamentos, algumas atitudes. Depois penso se sou eu a pessoa mais adequada para 'me entender'. Confesso que sou muito íntimo de mim mesmo (hehehe), mas o que seria 'se entender' ou 'se conhecer'. Criar-se?
Não são muitas as dúvidas sobre meus quereres, meus deslumbres, meus fascínios, meus desejos. Meus sentimentos foram sempre muito bem desenhados, os problemas que tive se davam na questão dos ritmos e dos diálogos. Aquela música do Caetano: "onde voas bem alta eu sou o chão / E onde pisas no chão minha alma salta, e ganha liberdade na amplidão". Precisava olhar pro lado (estivesse eu no céu ou no chão), e ver a pessoa que amava ali; se eu não visse, saía de cena sem nenhum peso na consciência. Com minha atual namorada – mulher da minha vida, futura esposa - consigo sincronizar essas coisas através de muito diálogo, com requintes de filosofia alemã. Tudo é muito discutido e esmiuçado, daí o sincronismo.
No entanto, nada me tira esse impulso de escrever, de criar monólogos em busca de conhecer-me ou criar-me. Às vezes está tudo certo e eu fico pensando sobre o certo, o que é certo e errado. Algumas coisas que faço naturalmente, posteriormente são analisadas com frieza, como que por outra pessoa – um outro eu que pensa mais.
Não há uma razão específica para escrever, para pensar sobre coisas que passam batidas na vida de outras pessoas. Mas é uma espécie de necessidade... sei lá...
Na segunda temporada de Lost eles descobrem uma espécie de Bunker que chamam de escotilha. Dentre dezenas de outras coisas, lá dentro tem um computador onde precisam ser digitados uns números (cheios de histórias esses números¹) a cada 108 minutos, caso contrário algo muito sério aconteceria. Depois dois dos personagens descobrem que isso não tinha função alguma, e essa escotilha era observada duma outra escotilha cuja função era relatar o comportamento das pessoas incumbidas de digitar o número. Eles escreviam relatórios e os colocavam num tubo que enviava para a 'matriz' onde seria analisado. Episódios depois, vemos uma pilha desses relatórios atirados pelo tubo no meio do mato, sem passar por análise alguma. Nem uma escotilha nem outra tinha função de verdade. Mas e o medo de parar de digitar o número? Escrever os relatórios? Como saber? Mesmo sabendo que os números digitados poderiam não ter função, um dos personagens não quer parar.
Penso que escrever e uma dezena de outras coisas na vida de outras pessoas é exatamente assim.

(Não queria dizer agora, ia deixar pra um texto específico que vou escrever depois: Lost é foda. Quando comecei a escrever nem lembrava desses episódios, então eles surgiram pra me ajudar a andar com o texto.)

¹ Os números que precisam ser digitados são: 4, 8, 15, 16, 23, 42 - que servem de título a esse texto.

Observação: há um livro de George Orwell (Autor de 1984 e A Revolta dos Bichos) chamado "Keep The Aspidistra Flying", que traduziram ora como "Moinhos de Vento", ora como"Mantenha o Sistema". Aspidistra é uma planta que na terra de Orwell é equivalente às Samambaias aqui: sempre ficam bem num escritório (Ed Mort quando ganhou dinheiro comprou uma pro escri, depois ficou pobre novamente e a comeu). Manter a aspidistra voando tem a ver com o que eu disse aqui. Algo assim.

12 outubro 2006

Caetaneando...


Não tive coragem de pagar mais de R$ 34,00 no CD novo do Caetano Veloso. Peguei no emule e estou ouvindo no meu MP3 Player nesse exato instante.
Ainda que com tiradas ótimas, as entrevistas de Caetano me desagradaram pelo discurso de linchamento ao presidente Lula. Soa muito conveniente vindo de um cara que ainda esse ano fez um pocket show de inauguração dum grande empreendimento pros lados da Marginal Pinheiros, que envolve um prédio cuja cobertura custará mais de R$ 18 milhões – a mais cara cobertura do país. E o show no Hotel Fasano, à época do CD A Foreign Sound, com ingressos por mais de R$ 500,00??? Pra quem falou tanto da “BurGUÉsia paulista” quando João Gilberto foi vaiado ao lado dele...
Enfim... às músicas:
Gostei do CD. Aliás, gosto muito de Caetano Veloso – o poeta e cantor. Causa estranheza a levada Rock (ou seria melhor dizer a ‘simplicidade’) das músicas e a ausência da produção e do violoncelo de Jaques Morelembaum. Mas é bom ver um compositor de clássicos cantando:
“ce foi mesmo rata demais
meu grito inimigo é:
você foi mor rata comigo
você foi concreta e simplesmente
rata comigo demais”
Caetano é um poeta no sentido visceral da palavra poeta (se é que ser visceral dá mais sentido a algo, mas deu vontade de dizer assim). Já ouvi Caetano cantando e compondo sambas e rocks, criando novas versões para clássicos (como em Come as You Are ou Help), escrevendo, dirigiu um filme décadas atrás... Ele tem a inquietude típica de todo grande criador, não faz parte desse mundo de conveniências.
Em suma, é um louco como outro qualquer.
E eu gosto muito de gente louca.

Obs.: A música que tá tocando nas rádios, "Não me Arrependo", é uma das melhores do CD. Mas "O Herói" é fantástica:

(...)
não quero jogar bola pra esses ratos
já fui mulato, eu sou uma legião de ex mulatos
quero ser negro 100%, americano,
sul-africano, tudo menos o santo
que a brisa do brasil briga e balança
e no entanto, durante a dança
depois do fim do medo e da esperança
depois de arrebanhar o marginal, a puta
o evangélico e o policial
vi que o meu desenho de mim
é tal e qual
o personagem pra quem eu cria que sempre
olharia
com desdém total
mas não é assim comigo.
é como em plena glória espiritual
que digo:
eu sou o homem cordial
que vim para instaurar a democracia racial
eu sou o homem cordial
que vim para afirmar a democracia racial

eu sou o herói
só deus e eu sabemos como dói

11 outubro 2006

"Ainda hoje a minha queixa está em amargura; o peso da mão dele é maior do que o meu gemido. Ah, se eu soubesse onde encontrá-lo, e pudesse chegar ao seu tribunal! Exporia ante ele a minha causa, e encheria a minha boca de argumentos. Saberia as palavras com que ele me respondesse, e entenderia o que me dissesse. Acaso contenderia ele comigo segundo a grandeza do seu poder? Não; antes ele me daria ouvidos. (...)Eis que vou adiante, mas não está ali; volto para trás, e não o percebo; procuro-o à esquerda, onde ele opera, mas não o vejo; viro-me para a direita, e não o diviso. Mas ele sabe o caminho por que eu ando; (...)Mas ele está resolvido; quem então pode desviá-lo? E o que ele quiser, isso fará."

Eu também vejo semelhança com "O Processo" ou "O Castelo", de Kafka. Mas é do livro de Jó, o da paciência.
Dia desses vi um livro com o título de "História Universal da Angústia", algo assim... não lembro bem. Seriam os homens das cavernas menos angustiados que os modernos? Na bíblia há vestígios claros de angústia tipicamente moderna, como Salomão a dizer "nada novo sob o sol" no livro Eclesiastes.
Enfim... na verdade a grande novidade é eu estar lendo vez ou outra alguma coisa da Bíblia.
Ainda que eu tivesse contato desde a infância, há pouco tempo ganhei uma bíblia de presente de um Testemunha de Jeová que trabalha comigo. Alterno a leitura dela com habitués de minha biblioteca e o recém adquirido vício no seriado Lost, que estou no 4ºDVD da segunda temporada.
Inegável que a Bíblia tem uma sabedoria inexplicável. Coisas belíssimas e sábias, e outras tantas muito confusas. Me flagro deslumbrado com algumas passagens (como essa de Jó citada anteriormente), e não entendo como um livro pode gerar tanto preconceito de maus leitores.

10 outubro 2006

Camisa da empresa para fora da calça jeans manchada, All Star bege no pé. A um velho conhecido que olha meio esquisito, diz:
- Como diz um amigo meu que inventei - portanto não existe - mas que serve pra dizer as coisas que não teriam graça se fosse eu quem dissesse, hoje estou vestido de foda-se.
- Anh?
- Esquece.

09 outubro 2006

A Poesia e Eu

Inegável o papel da Poesia na minha vida. Vivo a poesia (no cinema, nos romances, nas músicas) de forma muito intensa, e não raro levo tão a sério um livro, que é como se ele fosse parte da minha vida. E quando criticado, me pergunto: por que não seria?
De acordo com Locke, o ser humano ao nascer é uma "tabula rasa" (algo como 'quadro em branco'); vai adquirindo conhecimento pelos sentidos, pela experiência. Fazer da Literatura ou do Cinema um pouco da própria vida, preencher, rabiscar essa “tabula rasa” com traços de poesia é tão válido quanto uma experiência dita "vivida". Eu consigo realmente VIVER um pouco pela poesia dum Fernando Pessoa, um romance do Kundera, Fausto Wolff ou Saramago.
Estabelecer hierarquia entre a vida ‘real’ e a da Arte pra mim é difícil sim. Uma conversa de boteco com um amigo que conheço há anos é tão válida quanto algo que li num livro, que vi num filme.
Não sei explicar a origem disso. Não sei a partir de quando passou a fazer sentido, a ser importante. O valor que a religião tem na vida de algumas pessoas é idêntico ao da poesia para mim (Diga-se de passagem que poesia não é somente versos, rimem ou não. Poesia é o que vemos num filme como Os Sonhadores, que lemos num romance como “A Insustentável Leveza do Ser”, que sentimos num devaneio filosófico dum Nietzsche, que ouvimos na músicas do Chico Buarque).

03 outubro 2006

Supostas Virgens

O problema da política brasileira não é a putaria que acontece em Brasília, seus vilões etc... Não é somente o caráter das putas ou dos vilões. O problema, já disse o senhor Mino Carta, é a qualidades das virgens. O que também me faz lembrar os versos que inspiraram o filme de Charles Kaufman:
“Feliz é o destino da inocente vestal
Esquecida pelo mundo que ela esqueceu
Brilho eterno da mente sem lembrança!”

Numa contestável tradução (contestável por quem sabe, diga-se de passagem; e eu não sei) de: “How happy is the blameless vestal's lot! / The world forgetting, by the world forgot. / Eternal sunshine of the spotless mind!”.
Sim, pois em qualquer canto nos deparamos com discursos exasperados contra Lula, falando de Moral e Ética num país que elege Maluf, Clodovil, Frank Aguiar, Collor, dentre outras figuras quase circenses - um circo de horrores. Isso sem falar nos alvoroçados tucanos a pregar com uma propriedade quase convincente, caso esquecêssemos os anos FHC com suas privatizações, votações compradas, dólar disparado, país economicamente quebrado... ah, me ofusca o brilho eterno dessa moral imaculada, totalmente sem lembranças.
Todos se acham no direito de julgar e condenar tendo como bandeira a moral e a ética, quando no fundo sentem é ódio de classe - abaixavam a cabeça para as barbáries do príncipe dos sociólogos da USP, e querem condenar Lula por ele ter sido operário e supostamente inferior intelectualmente. E não é.
No entanto, por mais que eu tenha me empolgado - eu e muitos outros - quando Lula assumiu o poder, por mais que eu simpatize com ideais da esquerda, não fecho os olhos e me renego a fazer um elogio ao governo Lula com sua política de esmolas, sua política econômica ridícula. Não. Mas se juntar aos atuais algozes do presidente, olhar ao redor e sem querer repetir o discurso do PSDB, do PFL do sr. Antonio Carlos Magalhães... não dá.
Acreditar na virgindade moral e ética dum PSDB há 12 anos em São Paulo, que governou o país durante 8 anos... Fala sério!
Comparados os resultados, Lula foi melhor que FHC, mas não foi o melhor governante que poderíamos ter. Nessa eleição, passei um bom tempo da campanha certo de votar na Heloisa Helena; mas a histeria dela nos debates e discursos me fez crer que o Cristovam Buarque era melhor. Votei no Cristovam, e meio resignado votarei no Lula agora. Roubos? Falcatruas? Com certeza houve algumas, mas já tão enraizadas no folclore político brasileiro que só apareceram por vontade da mídia, depois de muito Red Bull com Whisky.

Rio sozinho só de imaginar o alvoroço dessas supostas virgens diante de tanta sacanagem - imaginem só os gritinhos diante da foto dos milhões apreendidos pela Polícia Federal! Esse povinho dos e-mails exasperados, das contundentes apresentações em Power Point, das discussões dignas das salas de aula da Sorbone onde FHC lecionou, das passeatas na Paulista então! Será que foi num dia de semana? Com o que trabalham?

Ah... é tanta pureza, tanta moral, tanta ética!!!

26 setembro 2006

Eu e Deus - algumas considerações

É bem capaz que ainda criança eu tivesse problema com religiões. Nunca consegui estipular os limites do que hoje concebo como laico e o religioso. Dentro e fora da igreja as pessoas são sempre... pessoas.
Minha família é protestante, daí eu ter freqüentado diversas igrejas que se denominam 'evangélicas'. Cheguei a ir nalgumas missas com minha primeira namorada, que era católica; tempos depois freqüentei a Universal com essa mesma namorada (tudo isso num intervalo de 6 meses). Em ambas alguns excessos me causavam espanto: gritaria, lágrimas quase que desesperadas... muita confusão. O pouco de fé consciente que eu tinha se dava em silêncio, em paz, como quando criança eu pedia pra Deus proteger minha mãe quase todos os dias, e chorava sozinho ao imaginar que ela podia morrer; pouco depois ia brincar. Se ela se atrasava, a agonia começava novamente - o que prova que lembramos de Deus quando temos medo do mundo.
Meus primeiros 'problemas' com Deus se deram ao conhecer a Injustiça. Uma tia minha trabalhava na casa dum pastor cuja esposa poderia ser chamada de pilantra, e ainda seria um eufemismo. Aos 10 anos fiz um poema que falava sobre homens maltratando animais, e eu perguntava o porquê disso existir, como Deus deixava isso acontecer. Tempos depois conheci na escola a Inquisição e o Holocausto, e por um bom tempo cri que Deus e a Inquisição não podiam existir num mesmo mundo. Da Inquisição e do Holocausto eu tive certeza; de Deus eu já não tinha mais.Durante muito tempo vivi assim. Mas ainda havia aquilo: quando sentia medo do mundo, lembrava de Deus. Com o tempo fui conhecendo pessoas que freqüentam as mais diversas igrejas e são absolutamente sem caráter, por isso nunca mais me interessei por nenhuma. Sempre respeitei, obviamente, mas me é indiferente.
Não tive e não tenho certeza alguma sobre coisa nenhuma. A própria bíblia diz: "em parte conhecemos e em parte profetizamos. Porém, quando vier o que é perfeito, o que está em parte será aniquilado".
Foi há pouco tempo que descobri a liberdade de escolha de todas as pessoas, por isso aprendi: há liberdades individuais que ferem a liberdade dos outros. O contrário disso – a consciência e o amor ao próximo, à liberdade do próximo – na minha opinião se chama Cristianismo. Aprender isso foi uma espécie de ‘reconciliação’ com Deus.
As coisas ruins que aconteceram na minha vida foram erros meus. Escolhas erradas. As coisas ruins não acontecem para sermos punidos ou testados. O teste se dá na escolha. Tudo são escolhas, mesmo a felicidade. No entanto, algumas coisas exigem bastante paciência.
(Parágrafo pra reflexão: não sei como coisas ruins podem acontecer com uma criança, por exemplo. É inconcebível uma criança ser maltratada, passar fome, sede... ela não pode ter escolhido isso. Então quem escolheu? Isso sem falar nos milhões de miseráveis pelo mundo afora...)
Confesso que entre a felicidade simples e a angústia de querer saber mais que o necessário, escolhi a segunda para muitas coisas.
Não tenho medo da morte. Mas a hipótese de ficar sem as pessoas que amo me é absolutamente apavorante. Não há fé que entenda a perda de uma pessoa amada. Haverá sempre uma revolta, mesmo que momentânea, contra Deus.
Sem dúvidas, Jesus foi uma das pessoas mais maravilhosas que existiu. Tanto foi um ser humano, que disse na cruz: meu pai, meu pai, por que me abandonaste? (citado em Mateus e Marcos como Eloí, Eloí, lemá sabactáni?)*. O maior dos homens teve dúvidas, quem sou eu para ser diferente?
Talvez querendo ser a ovelha desgarrada pra chamar atenção, durante muito tempo fiz questão de seguir o ‘caminho errado’ – e essa coisa de ‘caminho’ varia de pessoa pra pessoa. Fiz coisas que não sei como consegui voltar.
Continuo rebelde, revoltado com muita coisa. Também é uma escolha: nunca vou me conformar. Isso me torna um pouco infeliz, é fato. Mas ultimamente sinto uma paz que não sentia há tempos. Desisti da busca pretensiosa de um ‘conhecimento de Deus’, e passei a ver nalgumas coisas presentes e passadas um certo amor de Deus.
Sempre me pergunto se estou errado, se preciso provar para alguém o que sinto com relação ao mundo, com relação a Deus. Acho a fé fundamentada religiosamente uma das coisas mais perigosas do mundo - tanto quanto o ódio, vide os conflitos no Oriente Médio. Diz a bíblia que a Fé é capaz de mover montanhas. Hoje o que mais vejo é a Fé utilizada para julgar e excluir.
Não acredito no Deus do qual essa Fé se apropriou.
Não tenho dúvidas de que preciso de uma proteção e uma força que eu não conseguirei sozinho, e não tirarei da Filosofia ou da Literatura. Não busco respostas para perguntas complicadas (ainda que elas se façam quase que inconscientemente), mas sim fazer da minha vida algo que justifique, ao menos, eu ter saúde e sabedoria o suficiente pra ter escrito as coisas que escrevi – por menos ‘sábias’ que essas coisas sejam.
Se eu me considero um "homem de Deus"?
Sim.
Mas ainda assim, diante das Injustiças que ocorrem no mundo, faço ecoar as “Vozes d’Africa” escritas por Castro Alves:

“Deus! Ó Deus, onde estás que não respondes?!
Em que mundo, em qu'estrela tu t'escondes,
Embuçado nos céus?
Há dois mil anos te mandei meu grito
Que embalde, desde então corre o infinito...
Onde estás, Senhor Deus?!...”

Nada me tira o direito de pensar, de cobrar, de perguntar, de querer mudar o mundo - mesmo quando essa mudança se faz somente dentro de mim.

Fé não é silêncio, Fé não é preconceito, Fé não é julgamento, não está nas roupas que visto, nas músicas que ouço, nos livros que leio, nas Igrejas que não freqüento, nas orações que não sei fazer.

Só eu e Deus sabemos a dor e a delícia de dizer, sentir e escrever essas coisas. Ninguém mais.

*Na época do meu querer-ser-ateu li muita coisa da Bíblia e um livro de apócrifos. Na época esse trecho me marcou muito, e lembro de tê-lo utilizado no debate duma aula de filosofia sobre religião.

11 setembro 2006

O Show do Chico Buarque

No fundo eu já sabia. Já saí de casa com a palavra na cabeça: deslumbrante. É esse o resumo do show do Chico Buarque.
Sentei na quarta fileira de mesas, bem perto do palco. Minutos antes a ansiedade era tanta que eu dava beliscões na minha namorada. Não me continha. Seguindo a velha máxima "o que é um peido pra quem tá cagado?", pedi uma garrafa de vinho italiano.
E o show não começava e as pessoas chegavam e outras pessoas andavam pra lá e pra cá no palco, sobem os músicos, apagam-se as luzes e eu ficando louco.
"Voltei a cantar..." é o primeiro verso da primeira música. Chico está no palco.
Essa eu não sabia cantar, mas as seguintes, quase todas. As músicas se conversavam, havia uma lógica ali... Creio ser impossível versos como "Ela faz cinema / Ela é a tal / Sei que ela pode ser mil / Mas não existe outra igual" não serem para a Marieta Severo. E tendo em vista a recente separação, os versos de Eu te Amo, "Ah, se já perdemos a noção da hora / Se juntos já jogamos tudo fora / Me conta agora como hei de partir" também o são. "Vou Voltar", ele canta em Palavra de Mulher e fecha com "Meu coração parece que perde um pedaço, mas não / Me leve a sério / Passou este verão / Outros passarão / Eu passo".
Fantástico. Tantas músicas! Tantas palavras! Tantas emoções! (Quase duas horas de show)
Já no bis, cantei "Quem te Viu, Quem te vê" de pé, caminhando de mãos dadas com minha namorada ainda mais pra frente do palco. A última, João e Maria, arrancou mais algumas lágrimas minhas e, por incrível que pareça, do próprio Chico, que passou dando a mão para os que estavam na beira do palco, com os olhos marejados. Todos estávamos.
Demais... demais....
As mulheres gritavam: “Lindooooooo...” ou “Chico, eu te amoooooooo” e eu me segurando pra não pegar mal; mas aqui, protegido pelo blog, confesso: eu amo Chico Buarque.
Desafinado? Ah... "mesmo mentindo devo argumentar: isso é bossa-nova, isso é muito natural". Um poeta fantástico, um sorriso cativante, um músico maravilhoso, e suponho uma pessoa igualmente maravilhosa.
Uma noite particularmente especial pelo Chico Buarque, pelas músicas, por tudo. E pela companhia, que não podia ser mais perfeita - ainda que de tanto eu falar: "fim de semana do Chico... viva o Chico..." não bastou o Buarque. O dela veio junto. E eu lembrava de outros versos do Buarque: "vamos viver agonizando uma paixão vadia, maravilhosa e transbordante feito uma hemorragia".
Mas há um limite entre vida e poesia.
Né?

01 setembro 2006

Declaração de Amor

Para Sheila,

Hoje eu queria fazer a mais linda declaração de amor. Mas são tão pequenas as palavras, e tão grande meu amor!
De um jeito diferente queria escrever, por exemplo, que você é linda, e que eu sonho sempre com o nosso futuro juntos. Ah, mas quais palavras usar?
Queria que você soubesse, sem sombra de dúvidas, que é a mulher da minha vida, que me completa, me faz feliz, me realiza.
Lembrar que eu escrevi, muito antes de namorarmos, o texto sobre a "pessoa feitinha" pensando em você; quem sabe então você começasse a enxergar a Sheila que eu amo tanto, que é feitinha pra mim em tudo.
Descrever com precisão cada pequeno detalhe que te faz perfeita, cada acorde de sua voz que me agrada tanto, cada gosto, cada cheiro, cada toque. Queria desenhar, com um quê surrealista, a mulher que você mal se sabe, a menina que me cativa.
Dizer que nunca vou te machucar, nos trair. Que "de tudo ao meu amor serei atento antes", que sou seu para sempre. Só seu. Que dedico minhas maiores forças pra te fazer feliz - e no entanto às vezes você parece tão triste, tão sem chão... Imagine se eu não quisesse sua felicidade ou te magoasse?
Jurar que desde já estou com você em tudo, na alegria, na tristeza, na saúde, na doença, na riqueza, na pobreza, na TPM, na semana de provas, nas segundas-feiras, nos feriados...
Prometer que se eu tivesse que escolher entre você e o show do Chico, eu escolheria você (mas pensaria muuuuuito antes de fazer isso).
Dizer, enfim, que te amo, e sei que vou te amar.
Mas quais palavras usar? Preciso te ver...

29 agosto 2006

Ao ler o texto anterior

Confesso que escrevo por prazer, e sinto um prazer quase narcisista ao ler algumas coisas minhas. Com o tempo os textos ficam quase totalmente destituídos de sentido, mas mantém um certo requinte que às vezes me faz acreditar que sei escrever.
Porém não sei se escrevo exatamente como penso, ou se penso como quem vai escrever depois. Mas não tenho dificuldade em passar algumas idéias pro 'papel'(entenda 'monitor'). No entanto, algumas idéias se desgastam com o tempo.
Se hoje eu fosse escrever sobre Freud, conseguiria dizer várias coisas, mas não lembraria desses conceitos todos expostos no texto abaixo. O Sartre ocupa um espaço maior, e é até capaz de eu conseguir ir mais longe.
E confesso: quase não tive saco pra ler tanta besteira... Mas parece escrito por alguém que sabe o que está falando. Mas na verdade nem li “A Interpretação dos Sonhos”... alguns trechos só...
:D

Besteiras Aleatórias: Linguagem e Consciente

De algum tópico de discussão no orkut, também perdido na minha HD...


"Seria interessante que agora analisássemos o papel da linguagem no inconsciente (para não fugir da idéia de tese / antítese / síntese).
Em A Interpretação dos Sonhos, Freud esmiúça bastante o papel da linguagem, e da ‘condensação’ da mesma no inconsciente. Afirma que o sonho em si é um conteúdo manifesto de algum desejo, ou a continuação de algo que não foi terminado em vigília. Esse desejo, ou tentativa de continuação, seria o que ele define de ‘conteúdo latente’ do sonho.
Partindo desse ‘conteúdo latente’, o inconsciente usa de algumas artimanhas para chegar onde quer (ex.: condensação e deslocamento onírico). Eis o sonho, ou parte manifesta dele. Os sonhos então são divididos em inteligíveis, desnorteadores e o sonho ‘destituído de sentido’. Poderíamos concluir dizendo que o sonho é a linguagem do inconsciente. Seria estúpido, mas poderíamos parar por aqui.
Mas, como bons pensadores que somos, e por estarmos acordados, surgem mais dúvidas, e então poderia dizer que A Interpretação dos Sonhos de Freud é um conteúdo latente, que faz meu consciente usar de determinadas artimanhas (as artimanhas do consciente poderiam ser a ironia, as metáforas, eruditismos, etc), ou que A Interpretação dos Sonhos é uma artimanha que uso para manifestar o conteúdo latente nascido da questão consciente e linguagem, ‘postado’ no Orkut.
Ainda usando Freud, também poderíamos dividir a relação consciente / linguagem entre inteligível, desnorteadora e destituída de sentido.
A primeira – inteligível - , seria a linguagem utilizada na ciência. Uma coisa é ciência quando tem um objeto de estudo, um método, e uma linguagem universal que todos poderiam entender, e que pode ser testada.
Uma linguagem desnorteadora seria a Arte. Toda a Arte é feita de conteúdo latente, ou até mesmo latejante, pra soar mais poético. Aqui o consciente usa de muitas artimanhas (escultura, pintura, literatura, música, etc). Seria óbvio citarmos Salvador Dali, o mais desnorteador dos artistas. Qual o conteúdo latente da Arte? Para isso existe uma outra comunidade no Orkut chamada Psicologia da Arte, ou coisa parecida. Podemos nos encontrar lá.
A linguagem destituída de sentido seria os sentimentos (que usa também de desnorteamentos, mas isso é outro caso). Amor, paixão, ódio... Daí a dificuldade de expressarmos sentimentos, e o uso de desnorteamentos. Consciente e sentimentos não se misturam, originalmente. Só que os sentimentos precisam do consciente para usar a linguagem, e a parte mais confusa da linguagem é essa. Justamente a mais inconsciente, ou mais irracional das manifestações do cérebro humano, que se algum dia for explicado, não será por outro cérebro.

Agora deveria surgir a síntese, né? Apesar que o que usei foi uma ilustração, não uma antítese (embora consciente e inconsciente sejam antíteses).
A linguagem é a manifestação de um conteúdo latente, que usa do consciente para se tornar manifesta. Esse conteúdo latente do ser humano é a busca da felicidade: aumento do prazer, diminuição da dor. (descoberta científica / linguagem inteligível = aumento do prazer. Música Sertaneja / manifestação artística / desnorteamento = diminuição da dor (dor de corno, mas dor. Poderia ter sido mais feliz falando do Fado, mas o consciente optou pela ironia). Sentimento / destituição de sentidos = busca pelo prazer).
Se usássemos um pouco de existencialismo pra explicar melhor esse negócio, poderíamos dizer que o conteúdo latente que gera a linguagem é uma manifestação do ser-em-si, e a essência do conteúdo latente seria o ser-em-si. A linguagem, um para-outro. O consciente um para-si, ou alguma baboseira desse tipo.
Sartre disse que a linguagem faz parte da primeira reação para com o outro, precedida pelo amor, e seguida pelo masoquismo. A segunda parte seria indiferença / ódio / desejo / sadismo.
Mas já estou ficando desnorteado e destituído de sentido, não aumentei prazer algum, nem diminui dor alguma. Então pra que serviu esse blábláblá todo?"

Besteiras Aleatórias...

A grande maioria das coisas que escrevo são criadas no Outlook, sejam textos pro blog, scraps do orkut, e-mails etc...

Muitas coisas ficam salvas numa pasta chamada "Rascunhos", mesmo depois de enviadas. Hoje tava dando uma limpada e achei, dentre outras coisas, esse texto, que era um scrap pra uma amiga... resolvi publicar só pra não se perder por aí. Em suma, besteiras aleatórias...

"Penso que às vezes é preciso não acreditar nas coisas pra que elas aconteçam, pois o mundo (deus?) e os outros têm muito de pirraça com a gente.
E não sei se assim o tempo passa rápido, ou se a consciência da (pseudo?) derrota funciona como anestesia. Então você, que era pedra sobre um chão lamacento, vira uma figura estranha e pesada voando num céu entre o azul e o amarelo; aí o mesmo mundo (deus?) e os outros que antes pirraçavam resolvem te dar atenção e trazer de volta pra terra, pois até então você não tinha percebido que havia uma linha controlando o que parecia ser um vôo livre.
E num outro dia você percebe que as pessoas só são realmente boas quando estão muito perto. Quando perto, têm lá seus defeitos, mas a gente até gosta deles. Respeita. Quando longe, é melhor não ficar olhando muito pois são capazes de coisas verdadeiramente horrendas e repudiáveis.
E é difícil entender e esquecer o que elas fazem quando estão longe. Magoa. Por isso, na impossibilidade de mantê-las perto, é melhor nem olhar. E quando estiverem mais perto (closer?) é bom também que não estejam perto demais.
É. O inferno são os outros."

22 agosto 2006

Leve Desespero


“São demais os perigos dessa vida para quem tem amor”
Vinicius de Moraes

... e de repente me vejo dependente de uma pessoa que não é minha mãe.
Uma pessoa que, mesmo diferente, se parece comigo, me faz rir, me faz chorar, aflige, alivia, completa, desespera, acalma.
Um pedaço de mim que tem outra vida, outras histórias, que esteve longe de mim por mais de 20 anos! Que viveu sem mim, tem outro passado.
Um outro corpo que não pode estar sempre junto ao meu, um par de mãos que ora se une às minhas, ora tem que se soltar. Pés que caminham longe de mim, lágrimas de uma dor que compartilho, mas que saem de um par de olhos que não são meus.
Anseios que não conheço, dores estranhas, angústias que não são minhas, mas que me pertencem.
(Querer viver junto, morrer junto, nunca se separar, chorar junto, sorrir junto, ter prazer, dor, desespero...
Desespero, ah, desespero!
)
Ter medo, muito medo de ficar só, de perder o que nunca ganhei, o que na verdade não é meu, não sou eu...
Mas... mas... é um pouco de mim! É eu também!
Não imaginar outro mundo, outra companhia, outra pessoa...

16 agosto 2006

... para espairecer...

... por exemplo, é difícil saber ao certo o que queremos. Muito mais fácil saber o que não queremos.
No fundo, o grande problema se chama liberdade. É uma condenação, como afirmou Sartre. Diariamente temos que fazer escolhas, tomar decisões, pensar no futuro, no presente, comparar com o passado, planejar, supor, divagar...
(Divagar, mas rapidamente e num rumo certo, o que é totalmente contraditório. Não se pode perder muito tempo pensando).

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A ambição, por exemplo. "Anseio veemente de alcançar determinado objetivo, de obter sucesso; aspiração, pretensão". Não é uma virtude, convenhamos. É um 'sentimento'(?) bom pra se ter nos dias de hoje.

Nos dias de hoje.

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Os sonhos, por exemplo. "Conjunto de imagens, de pensamentos ou de fantasias que se apresentam à mente durante o sono". Em vigília, sonhar é sinônimo de algo bom; "meu sonho é ter isso ou aquilo". Mas na verdade, sonhamos com coisas ruins também; sonhar com algo ruim é ter um pesadelo - sonho aflitivo que produz sensação opressiva; mau sonho.
Sei lá...

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O desejo, por exemplo. Até onde desejar é uma forma de querer? Quando o desejo se torna necessidade ou vontade, como cantam os Titãs (a banda de rock, não as figuras mitológicas)? Qual o limite entre uma necessidade e uma vontade?

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O amor, por exemplo. É ambição, sonho, querer, necessidade, vontade...

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etc. etc. etc...

09 agosto 2006

O que será


O que será que me dá
Que me bole por dentro, será que me dá
Que brota à flor da pele, será que me dá
E que me sobe às faces e me faz corar
E que me salta aos olhos a me atraiçoar
E que me aperta o peito e me faz confessar
O que não tem mais jeito de dissimular
E que nem é direito ninguém recusar
E que me faz mendigo, me faz suplicar
O que não tem medida, nem nunca terá
O que não tem remédio, nem nunca terá
O que não tem receita

O que será que será
Que dá dentro da gente e que não devia
Que desacata a gente, que é revelia
Que é feito uma aguardente que não sacia
Que é feito estar doente de uma folia
Que nem dez mandamentos vão conciliar
Nem todos os ungüentos vão aliviar
Nem todos os quebrantos, toda alquimia
Que nem todos os santos, será que será
O que não tem descanso, nem nunca terá
O que não tem cansaço, nem nunca terá
O que não tem limite

O que será que me dá
Que me queima por dentro, será que me dá
Que me perturba o sono, será que me dá
Que todos os tremores me vêm agitar
Que todos os ardores me vêm atiçar
Que todos os suores me vêm encharcar
Que todos os meus nervos estão a rogar
Que todos os meus órgãos estão a clamar
E uma aflição medonha me faz implorar
O que não tem vergonha, nem nunca terá
O que não tem governo, nem nunca terá
O que não tem juízo
Nota no site do Chico:
Feita para o filme "Dona Flor e Seus Dois Maridos", a canção "O Que Será" tem três versões, que marcam passagens diferentes da trama: "Abertura", "À Flor da Pele" e "À Flor da Terra". Cantada no filme por Simone, a versão "À Flor da Terra" (três estrofes de doze versos) alcançaria grande sucesso na gravação de Chico Buarque e Milton Nascimento, que abre o elepê Meus caros amigos, um dueto, aliás, que aconteceu por mero acaso. Chico estava na gravadora ensaiando a canção com Francis Hime, quando Milton, de passagem pelo estúdio, ouviu e gostou. Daí surgiu o convite para a gravação, depois retribuído com a participação de Chico num disco de Milton, cantando com ele "À Flor da Pele". Mas "O Que Será", em qualquer das versões, é uma obra-prima, no nível das melhores criações de Chico Buarque, com sua melodia forte e sua letra libertária, um tanto ambígua em certos aspectos: "O que será que será / que todos os avisos não vão evitar / porque todos os risos vão desafiar / porque todos os sinos irão repicar / porque todos os hinos irão consagrar..." Em 15.9.92, ao tomar conhecimento do conteúdo de sua ficha no Dops-DPPS, em que há uma análise de "O Que Será", Chico Buarque declarou ao Jornal do Brasil: "acho que eu mesmo não sei o que existe por trás dessa letra e, se soubesse, não teria cabimento explicar..."

Pen(s)o


Penso, logo não tenho sossego.

"Porque a um pelo Espírito é dada a palavra da sabedoria; e a outro, pelo mesmo Espírito, a palavra da ciência; E a outro, pelo mesmo Espírito, a fé; e a outro, pelo mesmo Espírito, os dons de curar; E a outro a operação de maravilhas; e a outro a profecia; e a outro o dom de discernir os espíritos; e a outro a variedade de línguas; e a outro a interpretação das línguas."

A mim é dado pensar. Mas não pensar de forma coerente ou prática. Um pensar sem rumo, vazio como o vôo da ave a quem é dado voar, e por isso voa sem saber, sem querer, sem pousar, e depois que sobe, nem bate as asas...
Penso por não poder fazer outra coisa.
Escrevo para retardar os pensamentos, pois aqui eles precisam de certa organização, certo requinte. Enquanto pensamento puro - palavras dentro da minha cabeça - flui sem razão, sem sentido. Aqui se deixa levar por quereres gramaticais.
bláblábláblábláblá...
Quando se organizam demais, teorizam, se tornam práticos, não são meus. Não mais.
Só parece ser pensamento meu o que perturba, o que não tem resposta, o que aflige...

ALGO DENTRO DE MIM QUE NÃO É AMOR – O QUE É? – PRECISA SE ORGANIZAR.

Estresse

"substantivo masculino
Rubrica: medicina.
estado gerado pela percepção de estímulos que provocam excitação emocional e, ao perturbarem a homeostasia, levam o organismo a disparar um processo de adaptação caracterizado pelo aumento da secreção de adrenalina, com várias conseqüências sistêmicas; stress
Obs.: cf. homeostasia e síndrome geral de adaptação"


Subitamente uma infinidade de pulgas começam a morder minha pele pelo lado de dentro, numa aflição kafkiana. Meu peito arde, meu coração dispara, fico inquieto e agressivo.
Nada acalma. Nada satisfaz.
Já com várias tarefas acumuladas, inicio outras tantas. Não há vontade de conclui-las. Desisto e resolvo escrever.
Não há algo consistente para escrever. Nada objetivo.
Minha cabeça ameaça doer, sinto sede. Levanto, bebo água.

Há momentos em que o ar que entra pelo meu nariz faz mal. Respirar incomoda.
Lembro de Buk:
"-Eu odeio pessoas. Você não?
- Não. Só quando elas estão por perto"

Não sei ao certo se a origem de meu nojo é endógena ou exógena. Não me sinto limpo; no entanto, tenho nojo das coisas ao redor.

Me sinto longe de casa. Longe do ninho. Longe do meu ambiente. Mas qual é meu ambiente?

Lembro de Augusto dos Anjos verso por verso:
“este ambiente me causa repugnância...”

Não só o peito, mas a garganta também arde.
Tenho ímpetos agressivos. Arqueio as sobrancelhas. Dentro dos sapatos, aperto os dedos do pé...
Bebo mais água.

01 agosto 2006

Ser, estar, blábláblá...

Às vezes eu me perco.
Mas não no sentido geográfico do verbo 'estar' - fulano está perdido por não saber onde está. Me perco no que há de ligação de mim com o existencial verbo SER.
Entendam: as possibilidades de SER são muito maiores que a de ESTAR.
Perdidas todas as referências pra saber onde estou, a gravidade me prende ao chão. No que se refere ao SER, não há céu, não há chão.
Difícil, não?
(risos)
Dói um pouco esses devaneios todos. Mas têm lá seu quê de diversão. A gente sabe que não vai aceitar resposta alguma (embora as haja de diversas maneiras), mas não pára de perguntar.

Isso pra mim é viver. Dói, mas é viver.

29 julho 2006

Pobrezas

para Felipe,


"- Você acha que ele fez tudo isso para ser convidado a cozinhar para nós? Para nos envenenar?
- E deu certo.
- Porque ele está nos envenenando?
- Você não esta fazendo a pergunta certa.
- E qual é a pergunta certa?
- Porque nós estamos nos deixando envenenar?"
L.F. Veríssimo


Muita coisa é perdoável nesse mundo. Há pessoas verdadeiramente mesquinhas, que escondem no bolso balas que só serão descobertas depois de passarem pela lavanderia. Mas aí não há tempo nem de chupa-las, nem de dá-las para alguém. Estragaram. É algo ruim, mas não nos prejudica tanto. Se você pedir, é até capaz de ela dar, mesmo que contra a vontade.
Há pessoas insensíveis. Pessoas que só percebem quando estamos mal se gritarmos. Mas a sensibilidade é para poucos, e a presença de alguém, ainda que insensível, nos alivia. Porque as pessoas insensíveis não são de todo más.
Há pessoas cegas. Que não enxergam a beleza que há em nós, que nossa intenção às vezes é ajudar. Estendemos tapetes de rosas na frente dela, que não enxerga. Chega a tropeçar, mas não enxerga.
Mas a pobreza de espírito, a pequenez de alma, a quase ignorância com os sentimentos alheios... não dá pra aceitar. Porque às vezes é difícil amar uma pessoa só porque ela nos ama.
Mesmo um esboço de alma sabe respeitar o amor alheio. Não adianta dar a mão na calçada, e depois dizer: "atravesse a rua sozinho". Pode até falar, mas não deve dar as mãos. Ao menos deixe claro: eu não vou atravessar a rua com você.
Pois ainda que ficasse muito tempo de sua vida do lado de lá da rua, um dia você ia entender que é preciso atravessar. Mas de que valem mãos dadas na calçada? E se a pessoa gritasse: “atravessa sozinho, porra!”, seria melhor.
Perdesse a ternura, endurecesse, fizesse o diabo...
E à simples pergunta “por quê?”, a pessoa responderia: compaixão, piedade, comiseração. Ao que você choraria, posto que é parte da história. Daqui eu daria gargalhadas, confesso. Piedade?
Huahuahuahuhauhauahuahuahuahauhauahuahauhauhauahuahuuahauhua
Não, não, não...
Desculpe, caro amigo. Há pobrezas irremediáveis, que fazem sentimentos belíssimos não valerem a pena.
E aos gatos que te arranham por dentro, recomendo o que Vinicius de Moraes chamava de cachorro engarrafado; o melhor amigo do homem: whisky. Não que se embebedar, se mutilar, valha a pena. Mas é infinitamente melhor beber pela inevitabilidade da vida que por... bom, como chamamos isso?

De Mãos Dadas

para Sheila,

É como se andássemos de mãos dadas ao som de uma música que só nós ouvimos. Abraçados num bar, tocam Vinicius pra gente.
E não fomos tão longe para ter felicidade. Não há nada verdadeiramente novo ao alcance de nossas mãos, exceto o fato de vez ou outra estarem elas entrelaçadas, ao andarmos, ao pararmos, ao nos beijarmos.
Estamos onde sempre estivemos, temos o que sempre tivemos, somos o que fomos.
Mas as nossas mãos se dão como se ao se tocarem - ao nos tocarem - obedecessem ao coração; da mesma forma como a fome faz levar alimento à boca, nossa sede de si pega com as mãos algo de nós que é a própria felicidade, ou é o alimento que ela precisava pra viver em nós.
E o espanto é muito por sermos pouco e sermos tanto!
E não precisamos de dias ensolarados ou noites enluaradas pra sentirmos isso. Chove lá fora, possivelmente a mesma chuva que chovia quando eu era sozinho, mas hoje eu andaria com você na chuva e acharia lindo! E olha só: a mesma chuva que antes me deixava triste!!!
O que antes já era bom – como tomar chopp e ouvir MPB no Bar do Tinóia – se torna ainda melhor com você. Coisas que antes não faziam sentido, hoje são necessárias. Você ilumina, espalha um cheiro, uma leveza, uma beleza de coisa simples que faz de ti a coisa mais necessária e importante da minha vida.
EU TE AMO

18 julho 2006

Minha Vida

Minha vida é busca da felicidade, admitindo, desde já, que a busca de algo é sinal da ausência do mesmo.
(Ainda que sejam mesquinhos os milionários. Será isso?)
É busca, mas também é espera.
Espera de felicidade, ou pausa para ser feliz???
Minha vida é deslumbre enlouquecido pelas coisas que amo.
Minha vida é quem eu amo, e eu amo sempre, muito e mais, mesmo em momentos difíceis.
Tanto quanto a minha é a vida dela. Porque eu já nem posso imaginar como seria sem ela, a parte de mim que atende pelo nome Sheila. Porque esses desvãos do ser, os desassossegos todos, as angústias, as grandes questões existenciais, as vontades de potência, os complexos, as dores do mundo, as injustiças, as filosofias, as poesias, as falácias... nada faz sentido.
Porque antes eu não tinha vida, eu existia. E viver também é sentir dor, é ter dúvida, é ter medo, e AMAR.
E muito disso sempre aconteceu com intensidade em mim, inclusive/sobretudo as dores. Mas o amor sempre me foi desconhecido. E por só agora conhecer o Amor, eu não posso perder essa minha vida. Porque eu não conseguiria enfrentar o mundo sem amor, sem essa minha vida de nome Sheila.
E essa espécie de dependência dói.
"Todos nós necessitamos sofrer certo número de preocupações, de penas e misérias, da mesma maneira que um barco tem necessidade de lastro para conservar seu equilíbrio. " Schopenhauer.

Tenho muito amor e essa dor típica dos que se pensam ou se querem filósofos.
Me dê a mão, Sheila.