16 dezembro 2005
Minha inquietude é angústia.
Dói.
Afogo ela muitas vezes em alguns copos de cerveja, mas uma hora ela salta e me crava as unhas na garganta. Não consigo gritar, falar. Então sigo. Corro.
Beira a loucura.
É como se eu devesse muito pra um credor desconhecido, a juros altos. Eu preciso pagar.Preciso trabalhar pra pagar. Escrever pra pagar. Beber pra pagar. Sorrir pra pagar. Andar pra pagar...
E nunca acaba, nunca acaba...
10 dezembro 2005
Saudade de coisas que não perdemos
Sentimento estranho. Não é arrependimento.
03 dezembro 2005
abismos...
Há um abismo enorme entre o que sinto e o que consigo escrever sobre o que sinto. Aliás, há outro abismo maior ainda entre o que falo e o que sinto.Por mais que busque resposta em filósofos e psicólogos complicados, muitas vezes me vejo em versos simples de poetas sem frescura, como Leminski:
um homem com uma dor
é muito mais elegante
caminha assim de lado
como se chegando atrasado
andasse mais adiante
carrega o peso da dor
como se portasse medalhas
uma coroa um milhão de dólares
ou coisa que os valha
ópios édens analgésicos
não me toquem nessa dor
ela é tudo que me sobra
sofrer, vai ser minha última obra
(citava esse poema de cabeça muito antes da Zélia Duncan musicá-lo)
Não há verdade dentro de mim que não tenha sido beijada, em algum momento, pela boca da poesia, da arte, da vida, da revolta (aqui, todos sinônimos). Certa tristeza minha tem origem nesses mistérios, nessa mesma poesia que muitas vezes trás felicidade. É muito difícil entender.
O Amor, por exemplo. É tão simples nos filmes e livros, mesmo quando não tem final feliz. Na minha vida é um monstro debaixo da cama! É incrível como a proximidade de qualquer sentimento nos faz enfiar a cabeça no travesseiro e se cobrir. E se resolvemos dar uma olhada é pior ainda, pois pode haver somente pó debaixo da cama.
Os romances acabam na última página; então é só voltar interpretando tudo intelectualmente, concluindo, no máximo, ao ler a boigrafia do autor. E eu? Não há última página. Posso sempre escrever mais, e mais, e mais, e mais, e mais, e mais, e mais...
07 novembro 2005
A verdade perto demais
Na época que esse filme foi lançado eu tinha namorada. Fomos ao cinema vê-lo, e no meio do filme ela queria ir embora, meio frustrada (cheguei a fazer uma breve analogia com Hamlet, mas desisti. Alguém lembra da cena que estou falando?). Tempos depois eu terminei o namoro, sem um motivo claro... Daí poucas semanas recebi um texto chamado "Por quê somos infelizes no amor?", uma análise bastante interessante desse filme. Uma das coisas mais bacanas é quando o autor ressalta a diferença das perguntas dos homens e mulheres quando descobrem a traição. Ela "mas você a ama?". Ele: "Você gozou? Quantas vezes? O pau dele é maior que o meu?". Achei essa sacada fantástica.
E uma outra análise que não estava nesse artigo, mas que acho bacana ressaltar: a questão da verdade no amor. Quando Larry pergunta, na boate, o verdadeiro nome de Alice, ela diz "Jane"; após Larry insistir ela diz "Alice". Agora não lembro se é nessa cena ou se em outra, ela afirma: "Mentir é a coisa mais prazerosa que uma mulher pode fazer vestida" (cito de cabeça...). Após Dan insistir em saber a verdade e Alice vai embora, descobrimos que o nome dela na verdade era Jane mesmo.
Ou seja: uma enorme confusão que não cabe aqui. Queria chegar no seguinte ponto: minha irmã perguntou, depois que vimos o filme em casa: "qual a moral da história?". Eu, que nunca tinha pensado antes nisso, mesmo após sair do cinema meses atrás, disse espontaneamente "quem busca demais a verdade termina sozinho". Foi então que iniciei as divagações filosóficas em torno desse filme. O casal que fica junto é claramente infeliz (vide o olhar da Julia Roberts ao final do filme, que me dá arrepios só de lembrar), enquanto o outro termina após uma conversa sem sentido, numa daquelas obsessões masculinas por verdades, que vez ou outra se repete no comportamento feminino. Aqui, pra foder com tudo de vez, pode entrar a idéia de um filósofo que não me lembro o nome sobre "verdades necessárias" e "verdades contingentes", que Sartre adaptou para "amores necessários" e "amores contingentes", explicando a diferença entre seu amor por Simone de Beouvoir (seu amor necessário) e suas aventuras (seus amores contingentes)... se eu tivesse tempo, escreveria um livro sobre esse filme... mas não dá. Só acho que sob essa ótica da busca da verdade, o filme poderia se chamar "Perto Demais para Amar". E pra completar, cito Caetano "de perto ninguém é normal".
E aí, alguém pode se manifestar com relação a essa questão da verdade no amor? Sobretudo com relação ao passado?
06 novembro 2005
No que consiste o fascínio?
Só que essa é uma experiência de sucesso. Imaginem o homem que resolveu... sei lá, pôr a mão no fogo?
Deduz-se daí que o fascínio pelas coisas é pai dos costumes e da ciência.
O homem moderno surge do fascínio que tinha pelos mais fortes, e cria artifícios para que ele seja forte também. Surgem noções de status, poder, fama etc. Dessa relação de fascínio pelo outro surge a sociedade moderna.
Agora vem a parte complicada: é até aceitável que do fascínio pelo outro nasça o Estado moderno, mas no que consiste o fascínio que muitas vezes precede o amor? Quais características fazem com que eu diga: “Sou fascinado por determinada pessoa”? Qual a relação entre mistério e fascínio?
Vamos por partes; primeira coisa: o que é amor?
O Amor não pode estar simplesmente relacionado a noções abstratas de desejo e reprodução. Desde sempre houve a reprodução, e desde sempre existiram conceitos próximos ao que hoje chamamos de beleza: o macho mais forte era melhor reprodutor, e determinadas características das fêmeas faziam com que tivessem melhores crias.
O Amor como concebemos hoje é um conjunto de características comuns entre duas pessoas, agora constituintes de um grupo de pessoas cada vez maior. A escolha do ser amado se dá pelo maior número que ele possui de características que desejamos ou precisamos; agora, a diferença entre desejo e necessidade é um impasse no qual não desejo nem necessito entrar.
O fascínio aplicado ao amor vem da quantidade ou de quais características encontramos em determinadas pessoas. Numa concepção bastante freudiana dessas idéias, o fascínio pode vir também do quanto a pessoa se parece com nossa mãe.
Quando me vejo fascinado por uma pessoa, é por que encontro nela determinadas características que venho esperando encontrar, ou que me são totalmente novas. Ora esse fascínio pode ser a beleza, ora pode ser a inteligência, ora a semelhança com determinada pessoa (uma ex-namorada, por exemplo). Essas idéias aplicadas à primeira pergunta (no que consiste o fascínio que muitas vezes precede o amor?), creio, são bastante claras: o fascínio que precede o amor é o mesmo do homem que descobriu o mel; a curiosidade muitas vezes leva a dulcíssimas descobertas, o que também responde a segunda pergunta (Quais características fazem com que eu diga: “Sou fascinado por determinada pessoa”?). A descoberta de coisas novas por meio de antigos fascínios faz com que sejamos ainda mais fascinados por determinada pessoa, o que torna o fascínio combustível de qualquer relacionamento.
A relação entre mistério e fascínio faz surgir muitas coisas, dentre elas a religião, amores sublimes, amizades subliminares etc. Nem sempre somos capazes de alcançar a colméia, e muitas vezes o medo das abelhas nos impede; por isso jamais saberemos o que tem lá. Mas isso não faz com que eu perca o fascínio. A grande força que as mulheres fazem para criar mistérios em torno de si mesmas (como no conto “A Esfinge sem Segredo” do Oscar Wilde), é justamente isso: manter o mistério faz com que fiquemos sempre próximos do objeto fascinante. Mal sabem elas que além da doçura do mel, existem ainda diversas coisas a se fazer com ele.
Então por que os homens não se esforçam para criar mistérios em torno de si mesmos? Simples: a natureza do homem é inventiva e errante. A cada dia fazemos surgir coisas novas, inventamos, criamos acrobacias. Quando essas já não chamam a atenção ou não causam aplausos, pedimos desculpas e caímos. Se mesmo assim não há reação, armamos o palco em outro lugar.
Para concluir, resta ressaltar as diferenças entre amor e fascínio, pois como se viu, o fascínio pode preceder o amor e dar continuidade a um relacionamento, mas um não é sinônimo do outro.
O fascínio nada mais é que um empurrão ou um combustível do amor. Enquanto o fascínio pode acabar quando acaba o mistério (quem com mais de 10 anos é fascinado pelo papai Noel?), o amor cria para si motivos pra dar continuidade ao mistério.
O fascínio pergunta; o amor responde.
30 outubro 2005
DDAA - Déficit de Atenção Alheia
Há uma cena no filme "Em Busca da terra do nunca", em que a mulher do personagem J. M Barrie, autor da peça Peter Pan, diz algo assim:
- Antes de me casar, eu pensava que os gênios vivessem num mundo à parte, e eu queria ir pra lá (cito de cabeça... deve ser beeeeeeem diferente).
Então o Barrie, em mais uma das divinas interpretações do Johnny Depp, diz:
- Mas você ficava preocupada com a decoração da casa (...). E não existe um mundo à parte no qual vivemos.
- Existe sim, e é a terra do nunca - então ela aponta para o diário onde havia algumas anotações sobre a peça por ser escrita.
O filme é lindo, e esse diálogo é perfeito. Não há terra do nunca além de nossa mente, e abençoados são os que conseguem escrever sobre ela.
Às vezes as pessoas nos tiram da nossa terra do nunca para nos mergulhar em coisas cotidianas, como a decoração da casa, as confusões do trabalho... Não seria melhor, juntos, darmos atenção à terra do nunca?
Eu prefiro.
P.S. 1: confesso que, relendo, achei os dois textos meio contraditórios, somente dotados de minha verborragia de praxe. Mas acho que a grande verdade além de minhas frases de impacto está no fato de que queremos atenção aos nossos sonhos, não à nossas angústias. Mas por que só conseguimos escrever sobre nossas angústias?
P.S. 2: "Em Busca da Terra do Nunca" foi um dos filmes que mais me impressionou nos últimos tempos, tal qual "A Paixão de Cristo". Chorei algumas lágrimas tímidas em ambos os filmes, mas o "Em Busca..." me impressionou demais, sobretudo em função das questões sonho e amor pra um intelectual. Barrie se casou, e não escreveu nada que prestasse até encontrar a mãe do Peter. E o amor deles era diferente! A mulher do Barrie e a sociedade não entendiam o que acontecia... Até que ponto é preciso inspiração desse tipo para escrever?
O Peter que serviu de inspiração para a criação do personagem Peter Pan, disse que o Peter Pan não era ele, mas o Barrie (me arrepio ao lembrar da cena).
Enfim, o filme é lindo e não precisa de interpretações tacanhas. Deixo registrado meu fascínio.
Da Atenção
- O que aconteceu, amor?
- Nada.
- Mas por que você está assim?
- Nada.
- Ah... Fala pra mim - e faz beicinho.
- Ah não. Deixa pra lá.
- Sou eu? Que foi que eu fiz?
Então começa o martírio.
Quando estamos de cara feia, a última coisa que queremos lembrar é motivo de nossa cara feia. É simples. Vamos pra um barzinho, conversamos qualquer besteira. É muito mais saudável. Mas não, vocês têm que ficar com bibibi.
Continuei a conversa com minha prima:
- Acontece o seguinte: nós, os homens, sempre daremos atenção para o que vocês dão atenção. Se insistir demais nessa história de "como você está?", eu vou dar mais atenção a mim mesmo do que a ela. Podemos não reparar no pentiado novo, mas se vocês falarem, com certeza daremos atenção a isso (embora não estejamos nem aí). Agora se continuarem com essa história de querer saber o porquê da cara feia... ah. E se a cara é por eu não saber o que fazer com a menina do trabalho que me deu uma cantada?Será que ela vai ficar fazendo CPIs toda vez eu estiver de cara feia? Dêem atenção a vocês mesmas, e assim nós também daremos.
Minhas primas adoraram a idéia, e eu me pergunto: "por que diabos fico eu contando os segredos de nós homens, se mulher alguma consegue se explicar?".
29 outubro 2005
Angustiário...
Isso sem falar na tal ‘rotina’, da qual nunca saímos. São raros os momentos excepcionais.Um blog nunca será um diário. Às vezes fuço blogs alheios e quando não me deparo com algumas idiotices, vejo no máximo algumas angústias bem expressadas. O blog, na verdade, é um “angustiário”, lugar onde escrevemos nossas angústias.
21 outubro 2005
Socialismo
Cada vez mais a CAPACIDADE das pessoas de ajudarem / amarem umas às outras vai diminuindo. Enquanto isso, as necessidades (desejo? necessidade? vontade? necessidade? desejo?) aumentam. Supre-se o DIREITO de muitos, pela NECESSIDADE (desejo? vontade?) de poucos. Esse é grande problema do tal 'capitalismo'.
Ficar por aí maldizendo o socialismo é mais uma manifestação do egoísmo capitalista.É preciso acreditar no socialismo não como 'utopia', mas como uma realidade necessária. Do jeito que as coisas estão indo... bom, creio que não preciso comentar. Olhem ao redor.
18 outubro 2005
Liberdade e Direito no Referendo do Desarmamento...
Acho que não adianta expor mais números, como quantas vezes é aumentada a possibilidade de morte na reação a um assalto. Faturamento da CBC ou Forjas Taurus? Tanto faz. O que é preciso entender é que o tal 'direito' será para poucos, como quase tudo no Brasil. Numa sociedade Liberal, todos têm direito a tudo, enquanto consumidores; basta trabalhar para ter dinheiro e comprar. Só que quase 80% da força de trabalho brasileira ganha menos de 2 salários mínimos. Seus patrões? Compram carros importados com o dinheiro do trabalho dos escravos voluntários. Uns trabalham, outros consomem. Enquanto eles compram carros importados, fazem compra na Daslu, não muda muita coisa. Meu medo é a hora em que a Daslu começar a vender armas, e essas armas pararem nas favelas, caindo na mão de dependentes desesperados, bandidos, crianças etc.Em vez de clamar o 'direito à legítima defesa', deveríamos nos importar mais com o direito à educação, saúde, transporte etc. Se todos esses direitos estivessem garantidos, teríamos que nos defender do que???
15 outubro 2005
A poesia e eu
Não me queixo
Eu e a poesia somos assim. Nos ‘amassamos’ todos os dias, e fazemos todos os tipos de sacanagem possível. Só que não transamos... ela quer ouvir ‘eu te amo’ todos os dias, e quer mais tempo para ela. Praticamente uma relação masturbatória: ela chega a se despir na minha frente...
14 outubro 2005
São as únicas coisas que eu escrevi que poderiam virar um livro. Algo como "Os Sofrimentos do Jovem Werther", do Goethe. Tantas cartas, tantas idéias, todo sentimento... e eu me pergunto: Valeu a pena? Muitos dirão, citando Pessoa: tudo vale a pena se alma não é pequena... blábláblá. Talvez, quando amamos demais, a alma se torne pequena diante da imensidão do coração. Por isso não vale a pena.
É uma pena...
Inicialmente, isso pode parecer somente um ato covarde. Alguém fugindo de um problema.
Acontece que como eu tenho mania de tentar atribui fórmulas pré-definidas, e quase matemáticas a tudo o que acontece ao redor, poderia divagar sobre a relação fraqueza / covardia.
O problema maior é que eu sou assim mesmo. Minha mania de divagar sobre a vida, de pensar demais, de querer entender, explicar, argumentar, abstrair... Eu sou assim, mas posso mudar. Portanto entenda como quiser essa atitude.
(...)
Eu preciso de um tempo pra pensar. Deixar de lado o 'querer aparecer', estar sempre à vista de todos, compartilhar minhas dores com pessoas erradas, dizer coisas pra chocar os outros. O gesto de estarmos juntos, mesmo eu gostando de você de outra forma, é exatamente aquela metáfora de se esconder do fogo. A gente se esconde da chuva, mas do fogo não. Não se deve permanecer dentro de uma casa em chamas. Se começou a pegar fogo, a única opção é sair; não adianta tentar salvar algumas coisas, e se expor ao fogo.
Então surge a sensação de asfixia, manifestada nalgumas cartas mais confusas como as três últimas que mandei pra você. Podemos não morrer queimados, mas por asfixia causada pela fumaça (no meu caso essa fumaça são as coisas que deixo de dizer).
"o instinto: quando a casa está pegando fogo, esquecemo-nos até do almoço. Mas depois comemo-lo sobre as cinzas" Nietzsche.
O amor é uma contraposição aos instintos. É irracional. A primeira manifestação dessa contraposição aos instintos vem do fato de no início, negarmos o puro 'desejo sexual' embutido no amor. A pessoa amada é intocável. Conversamos sobre isso uma vez, quando eu disse que não era mais um menininho 'querendo te comer', e disse a verdade quando afirmei nunca, até então, ter nos imaginado transando, ou qualquer coisa do gênero. Isso também pode ser ilustrado pelo choque do Dorian quando Lorde Henry perguntou se ele já tinha 'ficado' com a Sybil, e Dorian manifestou horror dessa possibilidade. Lord Henry, como de praxe, fez um discurso muito similar a esse que fiz. Nalguns dos contos de Noite na Taverna do Álvares de Azevedo também têm exemplos disso, e é de se destacar também que nunca vimos Werther, do Goethe, falar em sexo nas suas cartas.
Mas isso aqui não é uma tese de psicologia. Não preciso provar nada pra você.
(...)
Ontem você perguntou se deveria responder aquela carta... não sei... acaba sendo um pouco de perda de tempo. Você vai dizer as coisas de forma bem surreal, e toda ela (como boa parte das coisas que você diz ou escreve sobre mim) poderia ser resumida em algumas palavras "desculpe, mas eu não me importo."
E eu te desculpo, sempre. A culpa não é sua, tenho certeza. Tudo, desde o começo ficou claro. Eu até posso interpretar algumas coisas de forma errada, posso ficar agora com peso na consciência imaginando que o caminho correto poderia ser esperar, e quem sabe um dia a coisa fluiria. Mas eu vou esperar, só que não da forma de antes.
(...)
Eu deveria. Mas o resumo da ópera seria bem simples: eu gosto de você de todas as formas possíveis (amiga, mulher, companheira, e as variáveis amorosas, morais, espirituais, intelectuais), e não me satisfaço com nada que não seja o máximo. Confesso ter te enganado. Não sou puramente seu amigo sincero. Eu te amo. Te quero. Te apaixono (sic). Te invejo. Te admiro. Te adoro... tudo.
Mas preciso respirar. '"Deixe-me ir, preciso andar, vou por aí a procurar rir pra não chorar. Se alguém por mim perguntar diga que eu só vou voltar quando me encontrar"
Outra coisa a deixar clara é que essa carta não é nenhuma manifestação de inimizade, ou de hostilidade. Podes sempre contar comigo, pro que der e vier. Nos esbarraremos por aí, e vez ou outra nos daremos sinais de vida. Aliás, ano que vem estudaremos na mesma faculdade... Só estou um pouco confuso, e 'asfixiado'. Preciso de solidão de verdade, e não somente ausência de 'pertencer' a algo. Preciso me fechar pra balanço.
beijos, rosas, um pouquinho de lágrimas, alguns suspiros.
do sempre (s)eu
fabricio
Essa loucura roubada...
12 outubro 2005
Escritores, leitores e outras aberrações
Ou seja: escrevemos para saciar uma necessidade egoísta, mas com a pretensão de que outros leiam. Mas quem?
Aí fica um vazio. Escrevemos para o que há de nós nos outros e para o que quer ser, mesmo que não seja. Bukowiski dizia sobre sua “loucura roubada” que não desejava a ninguém, a não se ele mesmo. Mas muitos experimentaram essa loucura através dele, ou se viram encorajados a experimentá-la. Ou seja: quem lê Bukowiski tem essa mesma loucura, mesmo que não experimente um copo de Whisky ou acorde num beco com um rato no peito. Entre o leitor e o escritor tem que haver uma empatia mesmo que não praticada. Deu pra entender?
Vou tentar de novo: não tenho a menor coragem de tomar uma overdose de cocaína, heroína, ou outro paraíso artificial qualquer; no entanto, adoro livros e filmes como Junky, Confissões de Um Inglês Comedor de Ópio, Trainspoting, Pulp Fiction... eles saciam parte dessa minha vontade que se vê restrita por covardia. Ou seja: mesmo quando não há uma relação perceptível entre o leitor e o escritor, há algo implícito. Não preciso ser drogado para ler Burroughs, mas preciso, pelo menos, da vontade de me drogar.
A mesma coisa se aplica aos românticos. É preciso estar apaixonado ou ter vontade de se apaixonar para ler Neruda ou Vinicius. Se não houver uma réstia de paixão dentro do seu coração, nem tente ler um desses dois. Aqui cai perfeitamente uma frase da introdução de O Retrato de Dorian Gray: “a aversão do século XIX ao Romantismo é a cólera de Caliban por não ver seu rosto no espelho. A Aversão do século XIX ao realismo é a cólera de Caliban ao ver seu rosto no espelho.”
Essa é a estranha relação que eu tenho com meus escritores preferidos. Neles tem que haver uma experiência que eu vivi ou quero viver. Ainda assim, não consigo imaginar se a recíproca é verdadeira: se há algo em mim, enquanto escrevo, que um possível leitor possa desfrutar por ter vivido ou querido viver
Só agora me vem à mente a possibilidade de alguém escrever algo que quer viver, mas ainda não viveu. Tornar-se seu escritor preferido. Talvez, quando criamos um heterônimo, não criamos um outro escritor, mas sim um novo leitor em nós mesmos. Será?