16 dezembro 2005

Hei de confessar: não tenho paz.Minha inquietude não tem motivos claros, tão pouco chances de acabar.
Minha inquietude é angústia.
Dói.
Afogo ela muitas vezes em alguns copos de cerveja, mas uma hora ela salta e me crava as unhas na garganta. Não consigo gritar, falar. Então sigo. Corro.
Beira a loucura.
É como se eu devesse muito pra um credor desconhecido, a juros altos. Eu preciso pagar.Preciso trabalhar pra pagar. Escrever pra pagar. Beber pra pagar. Sorrir pra pagar. Andar pra pagar...
E nunca acaba, nunca acaba...

10 dezembro 2005

Saudade de coisas que não perdemos

Preciso escrever algo com essa idéia: "Saudade de coisas que não perdemos".
Sentimento estranho. Não é arrependimento.

03 dezembro 2005

abismos...

Há um abismo enorme entre o que sinto e o que consigo escrever sobre o que sinto. Aliás, há outro abismo maior ainda entre o que falo e o que sinto.Por mais que busque resposta em filósofos e psicólogos complicados, muitas vezes me vejo em versos simples de poetas sem frescura, como Leminski:

um homem com uma dor

é muito mais elegante

caminha assim de lado

como se chegando atrasado

andasse mais adiante

carrega o peso da dor

como se portasse medalhas

uma coroa um milhão de dólares

ou coisa que os valha

ópios édens analgésicos

não me toquem nessa dor

ela é tudo que me sobra

sofrer, vai ser minha última obra

(citava esse poema de cabeça muito antes da Zélia Duncan musicá-lo)

Não há verdade dentro de mim que não tenha sido beijada, em algum momento, pela boca da poesia, da arte, da vida, da revolta (aqui, todos sinônimos). Certa tristeza minha tem origem nesses mistérios, nessa mesma poesia que muitas vezes trás felicidade. É muito difícil entender.

O Amor, por exemplo. É tão simples nos filmes e livros, mesmo quando não tem final feliz. Na minha vida é um monstro debaixo da cama! É incrível como a proximidade de qualquer sentimento nos faz enfiar a cabeça no travesseiro e se cobrir. E se resolvemos dar uma olhada é pior ainda, pois pode haver somente pó debaixo da cama.

Os romances acabam na última página; então é só voltar interpretando tudo intelectualmente, concluindo, no máximo, ao ler a boigrafia do autor. E eu? Não há última página. Posso sempre escrever mais, e mais, e mais, e mais, e mais, e mais, e mais...

07 novembro 2005

A verdade perto demais

Tópico que criei na comunidade do filme Closer, no Orkut:

Na época que esse filme foi lançado eu tinha namorada. Fomos ao cinema vê-lo, e no meio do filme ela queria ir embora, meio frustrada (cheguei a fazer uma breve analogia com Hamlet, mas desisti. Alguém lembra da cena que estou falando?). Tempos depois eu terminei o namoro, sem um motivo claro... Daí poucas semanas recebi um texto chamado "Por quê somos infelizes no amor?", uma análise bastante interessante desse filme. Uma das coisas mais bacanas é quando o autor ressalta a diferença das perguntas dos homens e mulheres quando descobrem a traição. Ela "mas você a ama?". Ele: "Você gozou? Quantas vezes? O pau dele é maior que o meu?". Achei essa sacada fantástica.
E uma outra análise que não estava nesse artigo, mas que acho bacana ressaltar: a questão da verdade no amor. Quando Larry pergunta, na boate, o verdadeiro nome de Alice, ela diz "Jane"; após Larry insistir ela diz "Alice". Agora não lembro se é nessa cena ou se em outra, ela afirma: "Mentir é a coisa mais prazerosa que uma mulher pode fazer vestida" (cito de cabeça...). Após Dan insistir em saber a verdade e Alice vai embora, descobrimos que o nome dela na verdade era Jane mesmo.
Ou seja: uma enorme confusão que não cabe aqui. Queria chegar no seguinte ponto: minha irmã perguntou, depois que vimos o filme em casa: "qual a moral da história?". Eu, que nunca tinha pensado antes nisso, mesmo após sair do cinema meses atrás, disse espontaneamente "quem busca demais a verdade termina sozinho". Foi então que iniciei as divagações filosóficas em torno desse filme. O casal que fica junto é claramente infeliz (vide o olhar da Julia Roberts ao final do filme, que me dá arrepios só de lembrar), enquanto o outro termina após uma conversa sem sentido, numa daquelas obsessões masculinas por verdades, que vez ou outra se repete no comportamento feminino. Aqui, pra foder com tudo de vez, pode entrar a idéia de um filósofo que não me lembro o nome sobre "verdades necessárias" e "verdades contingentes", que Sartre adaptou para "amores necessários" e "amores contingentes", explicando a diferença entre seu amor por Simone de Beouvoir (seu amor necessário) e suas aventuras (seus amores contingentes)... se eu tivesse tempo, escreveria um livro sobre esse filme... mas não dá. Só acho que sob essa ótica da busca da verdade, o filme poderia se chamar "Perto Demais para Amar". E pra completar, cito Caetano "de perto ninguém é normal".
E aí, alguém pode se manifestar com relação a essa questão da verdade no amor? Sobretudo com relação ao passado?

06 novembro 2005

No que consiste o fascínio?

A visão mais clara de fascínio que me vem à mente é a do homem que descobriu o mel após ser picado por dezenas de abelhas. O que o levou a enfrentá-las, sem saber o que ganharia com isso? O fascínio pela colméia era nada perto da doçura do mel, e torna-se então mera curiosidade estúpida, pois nada é mais fascinante que o mel.
Só que essa é uma experiência de sucesso. Imaginem o homem que resolveu... sei lá, pôr a mão no fogo?
Deduz-se daí que o fascínio pelas coisas é pai dos costumes e da ciência.
O homem moderno surge do fascínio que tinha pelos mais fortes, e cria artifícios para que ele seja forte também. Surgem noções de status, poder, fama etc. Dessa relação de fascínio pelo outro surge a sociedade moderna.
Agora vem a parte complicada: é até aceitável que do fascínio pelo outro nasça o Estado moderno, mas no que consiste o fascínio que muitas vezes precede o amor? Quais características fazem com que eu diga: “Sou fascinado por determinada pessoa”? Qual a relação entre mistério e fascínio?
Vamos por partes; primeira coisa: o que é amor?
O Amor não pode estar simplesmente relacionado a noções abstratas de desejo e reprodução. Desde sempre houve a reprodução, e desde sempre existiram conceitos próximos ao que hoje chamamos de beleza: o macho mais forte era melhor reprodutor, e determinadas características das fêmeas faziam com que tivessem melhores crias.
O Amor como concebemos hoje é um conjunto de características comuns entre duas pessoas, agora constituintes de um grupo de pessoas cada vez maior. A escolha do ser amado se dá pelo maior número que ele possui de características que desejamos ou precisamos; agora, a diferença entre desejo e necessidade é um impasse no qual não desejo nem necessito entrar.
O fascínio aplicado ao amor vem da quantidade ou de quais características encontramos em determinadas pessoas. Numa concepção bastante freudiana dessas idéias, o fascínio pode vir também do quanto a pessoa se parece com nossa mãe.
Quando me vejo fascinado por uma pessoa, é por que encontro nela determinadas características que venho esperando encontrar, ou que me são totalmente novas. Ora esse fascínio pode ser a beleza, ora pode ser a inteligência, ora a semelhança com determinada pessoa (uma ex-namorada, por exemplo). Essas idéias aplicadas à primeira pergunta (no que consiste o fascínio que muitas vezes precede o amor?), creio, são bastante claras: o fascínio que precede o amor é o mesmo do homem que descobriu o mel; a curiosidade muitas vezes leva a dulcíssimas descobertas, o que também responde a segunda pergunta (Quais características fazem com que eu diga: “Sou fascinado por determinada pessoa”?). A descoberta de coisas novas por meio de antigos fascínios faz com que sejamos ainda mais fascinados por determinada pessoa, o que torna o fascínio combustível de qualquer relacionamento.
A relação entre mistério e fascínio faz surgir muitas coisas, dentre elas a religião, amores sublimes, amizades subliminares etc. Nem sempre somos capazes de alcançar a colméia, e muitas vezes o medo das abelhas nos impede; por isso jamais saberemos o que tem lá. Mas isso não faz com que eu perca o fascínio. A grande força que as mulheres fazem para criar mistérios em torno de si mesmas (como no conto “A Esfinge sem Segredo” do Oscar Wilde), é justamente isso: manter o mistério faz com que fiquemos sempre próximos do objeto fascinante. Mal sabem elas que além da doçura do mel, existem ainda diversas coisas a se fazer com ele.
Então por que os homens não se esforçam para criar mistérios em torno de si mesmos? Simples: a natureza do homem é inventiva e errante. A cada dia fazemos surgir coisas novas, inventamos, criamos acrobacias. Quando essas já não chamam a atenção ou não causam aplausos, pedimos desculpas e caímos. Se mesmo assim não há reação, armamos o palco em outro lugar.
Para concluir, resta ressaltar as diferenças entre amor e fascínio, pois como se viu, o fascínio pode preceder o amor e dar continuidade a um relacionamento, mas um não é sinônimo do outro.
O fascínio nada mais é que um empurrão ou um combustível do amor. Enquanto o fascínio pode acabar quando acaba o mistério (quem com mais de 10 anos é fascinado pelo papai Noel?), o amor cria para si motivos pra dar continuidade ao mistério.
O fascínio pergunta; o amor responde.

03 novembro 2005

A culpa de toda solidão que existe é das mulheres.
Tenho dito.

30 outubro 2005

DDAA - Déficit de Atenção Alheia

Mas tem uma coisa que eu esqueci de dizer: também não adianta ficar soltando fogos pra enxergarmos. Eu dizia para uma ex-namorada que ela tinha DDAA - Déficit de Atenção Alheia, pois queria minha atenção a todo custo. O silêncio às vezes é tão agradável... Mas as pessoas insistem em ficar falando coisas sem sentido somente para me tirar do meu mundo encantado. Minha terra do nunca.
Há uma cena no filme "Em Busca da terra do nunca", em que a mulher do personagem J. M Barrie, autor da peça Peter Pan, diz algo assim:
- Antes de me casar, eu pensava que os gênios vivessem num mundo à parte, e eu queria ir pra lá (cito de cabeça... deve ser beeeeeeem diferente).
Então o Barrie, em mais uma das divinas interpretações do Johnny Depp, diz:
- Mas você ficava preocupada com a decoração da casa (...). E não existe um mundo à parte no qual vivemos.
- Existe sim, e é a terra do nunca - então ela aponta para o diário onde havia algumas anotações sobre a peça por ser escrita.
O filme é lindo, e esse diálogo é perfeito. Não há terra do nunca além de nossa mente, e abençoados são os que conseguem escrever sobre ela.
Às vezes as pessoas nos tiram da nossa terra do nunca para nos mergulhar em coisas cotidianas, como a decoração da casa, as confusões do trabalho... Não seria melhor, juntos, darmos atenção à terra do nunca?
Eu prefiro.

P.S. 1: confesso que, relendo, achei os dois textos meio contraditórios, somente dotados de minha verborragia de praxe. Mas acho que a grande verdade além de minhas frases de impacto está no fato de que queremos atenção aos nossos sonhos, não à nossas angústias. Mas por que só conseguimos escrever sobre nossas angústias?

P.S. 2: "Em Busca da Terra do Nunca" foi um dos filmes que mais me impressionou nos últimos tempos, tal qual "A Paixão de Cristo". Chorei algumas lágrimas tímidas em ambos os filmes, mas o "Em Busca..." me impressionou demais, sobretudo em função das questões sonho e amor pra um intelectual. Barrie se casou, e não escreveu nada que prestasse até encontrar a mãe do Peter. E o amor deles era diferente! A mulher do Barrie e a sociedade não entendiam o que acontecia... Até que ponto é preciso inspiração desse tipo para escrever?
O Peter que serviu de inspiração para a criação do personagem Peter Pan, disse que o Peter Pan não era ele, mas o Barrie (me arrepio ao lembrar da cena).
Enfim, o filme é lindo e não precisa de interpretações tacanhas. Deixo registrado meu fascínio.

Da Atenção

Questionado por minha prima sobre o motivo de os homens não gostarem de telefonemas diários, disse que realmente era um saco ficar narrando as desventuras de nosso dia. Daí a vantagem dessas menininhas que chamo de 'modelinhos'. Elas estão sempre preocupadas demais com elas mesmas pra dar atenção ao meu ar meio casmurro. Afinal, você já está de saco cheio da vida, e as mulheres insistem em perguntar:
- O que aconteceu, amor?
- Nada.
- Mas por que você está assim?
- Nada.
- Ah... Fala pra mim - e faz beicinho.
- Ah não. Deixa pra lá.
- Sou eu? Que foi que eu fiz?
Então começa o martírio.

Quando estamos de cara feia, a última coisa que queremos lembrar é motivo de nossa cara feia. É simples. Vamos pra um barzinho, conversamos qualquer besteira. É muito mais saudável. Mas não, vocês têm que ficar com bibibi.
Continuei a conversa com minha prima:
- Acontece o seguinte: nós, os homens, sempre daremos atenção para o que vocês dão atenção. Se insistir demais nessa história de "como você está?", eu vou dar mais atenção a mim mesmo do que a ela. Podemos não reparar no pentiado novo, mas se vocês falarem, com certeza daremos atenção a isso (embora não estejamos nem aí). Agora se continuarem com essa história de querer saber o porquê da cara feia... ah. E se a cara é por eu não saber o que fazer com a menina do trabalho que me deu uma cantada?Será que ela vai ficar fazendo CPIs toda vez eu estiver de cara feia? Dêem atenção a vocês mesmas, e assim nós também daremos.

Minhas primas adoraram a idéia, e eu me pergunto: "por que diabos fico eu contando os segredos de nós homens, se mulher alguma consegue se explicar?".

29 outubro 2005

Angustiário...

Nos dias de hoje é quase impossível ter um diário. Arranjar tempo para ficar escrevendo como foi seu dia...
Isso sem falar na tal ‘rotina’, da qual nunca saímos. São raros os momentos excepcionais.Um blog nunca será um diário. Às vezes fuço blogs alheios e quando não me deparo com algumas idiotices, vejo no máximo algumas angústias bem expressadas. O blog, na verdade, é um “angustiário”, lugar onde escrevemos nossas angústias.

21 outubro 2005

Socialismo

"De cada um conforme sua capacidade, para cada um conforme sua necessidade" (Marx)

Cada vez mais a CAPACIDADE das pessoas de ajudarem / amarem umas às outras vai diminuindo. Enquanto isso, as necessidades (desejo? necessidade? vontade? necessidade? desejo?) aumentam. Supre-se o DIREITO de muitos, pela NECESSIDADE (desejo? vontade?) de poucos. Esse é grande problema do tal 'capitalismo'.
Ficar por aí maldizendo o socialismo é mais uma manifestação do egoísmo capitalista.É preciso acreditar no socialismo não como 'utopia', mas como uma realidade necessária. Do jeito que as coisas estão indo... bom, creio que não preciso comentar. Olhem ao redor.

18 outubro 2005

Liberdade e Direito no Referendo do Desarmamento...

Meio tardia, mais eis mais algumas considerações sobre o desarmamento.Inicialmente, manifesto minha posição a favor do desarmamento (para quem ainda não entendeu a pergunta: SIM, sou a favor do desarmamento). Mas antes de explicar os motivos, digo o que entendo sobre as palavras de ordem dos belicosos opositores: LIBERDADE E DIREITO.Liberdade numa sociedade é saber tomar decisões tendo em vista que existem outras pessoas (isso numa sociedade normal, não uma neoliberal). Somos livres, mas nossa liberdade não pode infringir a liberdade do outro. De acordo com a psicologia, a nossa relação com o outro determina nossas formas de loucura ou psicose (daí talvez o amor ser uma forma de loucura). Sartre dizia que somos 'condenados à liberdade', e noutro livro disse que 'o inferno são os outros'. Nossa sanidade mental depende disso: a consciência de nossa liberdade e do outro, consciência de si e do outro. Não sei o que dizem os psicólogos, mas imaginar-se sempre sendo perseguido, em vias de ser roubado, assassinado, estuprado, deve ser paranóia. Não que eu esteja tapando os olhos à violência do segundo país mais desigual do mundo, perdendo somente para um país africano em guerra civil. Muito pelo contrário. É por temer aumentar ainda mais a violência que sou a favor do desarmamento. Mas continuemos com os motes dos belicosos opositores:O Direito é uma coisa legal, hehehe. Já pararam pra pensar na diferença entre Direito e Necessidade? Direito é universal, e se aplica a todos os cidadãos. Necessidade é particular, individual (ver Convite à Filosofia, da Marilena Chauí, para entender melhor). Um cidadão com deficiência física tem necessidades diferentes dos outros cidadãos, e, por ter direito a assistência médica, pode exigir do Estado uma cadeira de rodas, por exemplo. Será que por isso todos temos DIREITO à cadeira de rodas? Então, por defender tão apelativamente nosso DIREITO às armas, a frente que defende o NÃO deveria garantir, também, o direito dos miseráveis, grandes vítimas da violência, de ter acesso às armas, pois se um tem, é de todos a necessidade de defesa. Enquanto a classe-média-alta-de-direita, que clama diariamente pelo NÃO, vive dentro de seus carros blindados ou cercada de seguranças, a maioria dos que morrem com tiros de 38 são pobres e favelados. As mulheres estupradas são, quase sempre, mães solteiras que vivem em barracos. Os jovens assassinados nas madrugadas não voltavam da Vila Olímpia em seus Audi A3; voltavam dos bailes, jogos, lá na Zona Leste. Enquanto as educadas crianças das escolas particulares medem forças através de jogos pela internet, pela quantidade de vezes que foram à Disney, ou pelo carro que os vem buscar, do outro lado elas medem força na porrada mesmo, ou trazendo as armas de seus pais para a escola (vejam o que aconteceu ontem: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidian/ff1810200501.htm).É interessantemente hipócrita a defesa do NÃO, ainda mais quando estampada na capa da Veja. Está claro o quanto a Forjas Taurus e a CBC gastaram com Marketing nesses meses. Estamos cedendo às mensagens apelativas criadas pelos gurus do Marketing.Simplesmente absurda essa história de "direito à legítima defesa"; policiais morrem, após anos de treinamento, trocando tiros com bandidos. É clara a inaptidão de 99,99% da população em manejar armas. Num bar, discutindo desarmamento com um amigo, perguntei: "quantas vezes saímos daqui sem conseguir andar direito? Você lembra de tudo o que fez numa dessas noites etílicas? Imagine se você tem uma arma, e um desses carinhas que passam horas na academia meche com sua namorada? Você vai tomar satisfação? Lógico que não, você está bêbado e armado!". Isso sem falar nas briguinhas de trânsito, praxe aqui na paulicéia desvairada.Quanto aos algozes do governo, que chegam a comparar Lula e Hitler, cito trecho de matéria da Carta Capital: "Pode-se tomar a implantação do Novo Código de Trânsito no Brasil como um exemplo de interferência do Estado no direito individual (de não usar cinto de segurança, por exemplo). Em seu primeiro ano de vigência, houve redução da mortalidade em 13%, o que significa 4 mil vidas poupadas. Hoje, mais motoqueiros usam capacete e mais motoristas usam cinto de segurança, menos pessoas se atrevem a dirigir bêbadas ou entregar as chaves ao filho menor de idade."
Acho que não adianta expor mais números, como quantas vezes é aumentada a possibilidade de morte na reação a um assalto. Faturamento da CBC ou Forjas Taurus? Tanto faz. O que é preciso entender é que o tal 'direito' será para poucos, como quase tudo no Brasil. Numa sociedade Liberal, todos têm direito a tudo, enquanto consumidores; basta trabalhar para ter dinheiro e comprar. Só que quase 80% da força de trabalho brasileira ganha menos de 2 salários mínimos. Seus patrões? Compram carros importados com o dinheiro do trabalho dos escravos voluntários. Uns trabalham, outros consomem. Enquanto eles compram carros importados, fazem compra na Daslu, não muda muita coisa. Meu medo é a hora em que a Daslu começar a vender armas, e essas armas pararem nas favelas, caindo na mão de dependentes desesperados, bandidos, crianças etc.Em vez de clamar o 'direito à legítima defesa', deveríamos nos importar mais com o direito à educação, saúde, transporte etc. Se todos esses direitos estivessem garantidos, teríamos que nos defender do que???

15 outubro 2005

A poesia e eu

Mas bem que nós fomos muito felizes
Só durante o prelúdio
Gargalhadas e lágrimas
Até irmos pro estúdio
Mas na hora da cama nada pintou direito
É minha cara falar
Não sou proveito
Sou pura fama

Não me queixo
Eu não soube te amar
Mas não deixo
De querer conquistar
Uma coisa qualquer em você
O que será?
(Caetano)
Comecei esse negócio de Blog (ops, espirrou no meu olho) faz dois dias, e começo a refletir um pouco mais sobre o ato de escrever.
No maravilhoso, doce, afável, delicioso filme do Almodóvar chamado "Tudo Sobre Minha Mãe", há uma citação de Truman Capote, que depois busquei no google e achei: "Um dia, comecei a escrever, sem saber que me acorrentara por toda vida a um senhor nobre porém implacável. Quando Deus lhe dá um dom, ele também lhe dá um chicote; e o chicote se destina apenas à auto-flagelação... Estou aqui sozinho na escuridão de minha loucura, sozinho com meu baralho - e, é claro, o chicote que Deus me deu".
Eu confesso que muitas vezes acredito num possível dom que eu tenha para escrever. Mas se o Rilke perguntasse pra mim se minha vida depende disso, eu talvez dissesse que não. Na verdade eu não escrevo, penso e vou colocando no papel exatamente como 'falo' dentro de minha cabeça. Não há criação. Lógico que fico corrigindo, e ao reler acabo mudando algumas frases por capricho literário. Mas me irrita o fato de eu não estar criando. Sei lá...
Gostaria muito de escrever poesia. Sinto falta disso. Penso tudo poeticamente, com poesias alheias. Mas não me esforço... acho que me entrego muito facilmente. Também não tenho tempo! Ultimamente mal consigo me concentrar em livros um pouco mais complexos como "O Mundo Como Vontade e Como Representação", do Schopenhauer. Se meu corpo anda a 120 km/h, minha cabeça está a 900 km/h! O trabalho me exaure, me acaba. Quando estou em casa, deito, pego um livro e começo a ler; quando dou por mim não entendi nada, e minha cabeça pensava nos problemas de amanhã. Ontem mesmo eu comecei a ler "O Mundo...", e não consegui. Em seguida pulei para "Teorias da Revolução", e também não consegui. Então voltei para a Literatura com Sartre, O Muro. Li o primeiro conto, e resolvi dormir.
Minha vida é assim.
Gosto de fazer teorias com minha vida, meus sentimentos. Dia desses pensava nisso de 'querer fazer poesia', e imaginava a poesia como aquela namorada que te deixa louco, deixa você passar a mão, ela também dá uma escorregada... aqueles 'pegas' nervosos que deixa o saco doendo por uma meia hora. Vocês não transam por que ela fica fazendo drama, quer ouvir 'eu te amo' todos os dias, espontaneamente, mesmo que você esteja uma pilha de nervos. Mas você sabe que mais dia menos você vai comer, não adianta. Às vezes aparece uma outra oportunidade de sexo, e é até capaz de você não resistir (afinal, como diz Wilde, fidelidade é para a vida sentimental o que a coerência é para a vida intelectual: uma confissão de fracasso). Só que você ama sua 'namorada' e quer transar, mas a tonta não entende.
Eu e a poesia somos assim. Nos ‘amassamos’ todos os dias, e fazemos todos os tipos de sacanagem possível. Só que não transamos... ela quer ouvir ‘eu te amo’ todos os dias, e quer mais tempo para ela. Praticamente uma relação masturbatória: ela chega a se despir na minha frente...
Ah, poesia... eu te amo, mas não sei voar.

14 outubro 2005

Trecho de uma carta que fará um ano no mês que vem. Lembranças de um tempo que, de certa forma, eu sofria, mas acreditava em algo. Não que eu sinta saudades desse tempo. Não?
São as únicas coisas que eu escrevi que poderiam virar um livro. Algo como "Os Sofrimentos do Jovem Werther", do Goethe. Tantas cartas, tantas idéias, todo sentimento... e eu me pergunto: Valeu a pena? Muitos dirão, citando Pessoa: tudo vale a pena se alma não é pequena... blábláblá. Talvez, quando amamos demais, a alma se torne pequena diante da imensidão do coração. Por isso não vale a pena.
É uma pena...


Inicialmente, isso pode parecer somente um ato covarde. Alguém fugindo de um problema.
Acontece que como eu tenho mania de tentar atribui fórmulas pré-definidas, e quase matemáticas a tudo o que acontece ao redor, poderia divagar sobre a relação fraqueza / covardia.
O problema maior é que eu sou assim mesmo. Minha mania de divagar sobre a vida, de pensar demais, de querer entender, explicar, argumentar, abstrair... Eu sou assim, mas posso mudar. Portanto entenda como quiser essa atitude.

(...)
Eu preciso de um tempo pra pensar. Deixar de lado o 'querer aparecer', estar sempre à vista de todos, compartilhar minhas dores com pessoas erradas, dizer coisas pra chocar os outros. O gesto de estarmos juntos, mesmo eu gostando de você de outra forma, é exatamente aquela metáfora de se esconder do fogo. A gente se esconde da chuva, mas do fogo não. Não se deve permanecer dentro de uma casa em chamas. Se começou a pegar fogo, a única opção é sair; não adianta tentar salvar algumas coisas, e se expor ao fogo.
Então surge a sensação de asfixia, manifestada nalgumas cartas mais confusas como as três últimas que mandei pra você. Podemos não morrer queimados, mas por asfixia causada pela fumaça (no meu caso essa fumaça são as coisas que deixo de dizer).
"o instinto: quando a casa está pegando fogo, esquecemo-nos até do almoço. Mas depois comemo-lo sobre as cinzas" Nietzsche.

O amor é uma contraposição aos instintos. É irracional. A primeira manifestação dessa contraposição aos instintos vem do fato de no início, negarmos o puro 'desejo sexual' embutido no amor. A pessoa amada é intocável. Conversamos sobre isso uma vez, quando eu disse que não era mais um menininho 'querendo te comer', e disse a verdade quando afirmei nunca, até então, ter nos imaginado transando, ou qualquer coisa do gênero. Isso também pode ser ilustrado pelo choque do Dorian quando Lorde Henry perguntou se ele já tinha 'ficado' com a Sybil, e Dorian manifestou horror dessa possibilidade. Lord Henry, como de praxe, fez um discurso muito similar a esse que fiz. Nalguns dos contos de Noite na Taverna do Álvares de Azevedo também têm exemplos disso, e é de se destacar também que nunca vimos Werther, do Goethe, falar em sexo nas suas cartas.
Mas isso aqui não é uma tese de psicologia. Não preciso provar nada pra você.

(...)
Ontem você perguntou se deveria responder aquela carta... não sei... acaba sendo um pouco de perda de tempo. Você vai dizer as coisas de forma bem surreal, e toda ela (como boa parte das coisas que você diz ou escreve sobre mim) poderia ser resumida em algumas palavras "desculpe, mas eu não me importo."
E eu te desculpo, sempre. A culpa não é sua, tenho certeza. Tudo, desde o começo ficou claro. Eu até posso interpretar algumas coisas de forma errada, posso ficar agora com peso na consciência imaginando que o caminho correto poderia ser esperar, e quem sabe um dia a coisa fluiria. Mas eu vou esperar, só que não da forma de antes.

(...)
Eu deveria. Mas o resumo da ópera seria bem simples: eu gosto de você de todas as formas possíveis (amiga, mulher, companheira, e as variáveis amorosas, morais, espirituais, intelectuais), e não me satisfaço com nada que não seja o máximo. Confesso ter te enganado. Não sou puramente seu amigo sincero. Eu te amo. Te quero. Te apaixono (sic). Te invejo. Te admiro. Te adoro... tudo.

Mas preciso respirar. '"Deixe-me ir, preciso andar, vou por aí a procurar rir pra não chorar. Se alguém por mim perguntar diga que eu só vou voltar quando me encontrar"

Outra coisa a deixar clara é que essa carta não é nenhuma manifestação de inimizade, ou de hostilidade. Podes sempre contar comigo, pro que der e vier. Nos esbarraremos por aí, e vez ou outra nos daremos sinais de vida. Aliás, ano que vem estudaremos na mesma faculdade... Só estou um pouco confuso, e 'asfixiado'. Preciso de solidão de verdade, e não somente ausência de 'pertencer' a algo. Preciso me fechar pra balanço.

beijos, rosas, um pouquinho de lágrimas, alguns suspiros.

do sempre (s)eu

fabricio

Essa loucura roubada...

Não que eu não seja feliz. É que eu queria ser feliz por mais tempo, entende?Se for verdade a idéia de Sartre de que a 'angústia é o modo de ser da liberdade enquanto consciência de ser', e que 'estamos condenados à liberdade', nunca haverá um estado pleno de felicidade (ou pelo menos ausência de angústia).Surge a diferença entre medo e angústia: medo é quando estamos na beira de um precipício e podemos cair, logo tomamos medidas preventivas para que isso não aconteça. Angústia é a possibilidade que temos de se jogar no precipício. Mas e se eu decidir não me jogar? Não era para ser o fim da angústia?Talvez venha daí esse meu desvario, essa loucura roubada das histórias e poemas do Bukowski. Decido não me jogar no precipício, mas não tomo as medidas preventivas para não cair. Corro. E nessa correria às cegas, escolhi não escolher muitas coisas, abandonando tudo pra trás, sem companhia, sem objetivo, mas sem parar. Na verdade a opção de não se jogar é um gesto de má-fé, pois corro tanto possivelmente esperando cair, deixando meu destino jogado ao vento.

12 outubro 2005

Escritores, leitores e outras aberrações

Todo mundo é saudavelmente pretensioso a ponto de pensar na posteridade de seus próprios escritos. Ninguém escreve para si mesmo. A necessidade é egoísta, como se fosse preciso escrever para continuar a viver menos amargamente, mas a intenção é que os outros leiam.
Ou seja: escrevemos para saciar uma necessidade egoísta, mas com a pretensão de que outros leiam. Mas quem?
Aí fica um vazio. Escrevemos para o que há de nós nos outros e para o que quer ser, mesmo que não seja. Bukowiski dizia sobre sua “loucura roubada” que não desejava a ninguém, a não se ele mesmo. Mas muitos experimentaram essa loucura através dele, ou se viram encorajados a experimentá-la. Ou seja: quem lê Bukowiski tem essa mesma loucura, mesmo que não experimente um copo de Whisky ou acorde num beco com um rato no peito. Entre o leitor e o escritor tem que haver uma empatia mesmo que não praticada. Deu pra entender?
Vou tentar de novo: não tenho a menor coragem de tomar uma overdose de cocaína, heroína, ou outro paraíso artificial qualquer; no entanto, adoro livros e filmes como Junky, Confissões de Um Inglês Comedor de Ópio, Trainspoting, Pulp Fiction... eles saciam parte dessa minha vontade que se vê restrita por covardia. Ou seja: mesmo quando não há uma relação perceptível entre o leitor e o escritor, há algo implícito. Não preciso ser drogado para ler Burroughs, mas preciso, pelo menos, da vontade de me drogar.
A mesma coisa se aplica aos românticos. É preciso estar apaixonado ou ter vontade de se apaixonar para ler Neruda ou Vinicius. Se não houver uma réstia de paixão dentro do seu coração, nem tente ler um desses dois. Aqui cai perfeitamente uma frase da introdução de O Retrato de Dorian Gray: “a aversão do século XIX ao Romantismo é a cólera de Caliban por não ver seu rosto no espelho. A Aversão do século XIX ao realismo é a cólera de Caliban ao ver seu rosto no espelho.”

Essa é a estranha relação que eu tenho com meus escritores preferidos. Neles tem que haver uma experiência que eu vivi ou quero viver. Ainda assim, não consigo imaginar se a recíproca é verdadeira: se há algo em mim, enquanto escrevo, que um possível leitor possa desfrutar por ter vivido ou querido viver
Só agora me vem à mente a possibilidade de alguém escrever algo que quer viver, mas ainda não viveu. Tornar-se seu escritor preferido. Talvez, quando criamos um heterônimo, não criamos um outro escritor, mas sim um novo leitor em nós mesmos. Será?