18 julho 2006

Quem sou eu?

Há uma dificuldade muito grande em se definir. Dá a impressão de que a questão se divide entre 'se encontrar' ou 'se escolher'. Criar? "Eu sou um outro", disse Rimbaud.
Conheço muito bem minhas paixões, meus amores, mas desconheço suas origens. Eu realmente escolhi? Era pré-determinado e eu só encontrei?
"O que pensar da vida e daqueles que sabemos que amamos?", perguntou-se Renato Russo.
É difícil definir-se à luz dessas informações. Numa escala percentual, diria que conheço 50% de mim mesmo. Outros 10% são de domínio alheio, não dependem de mim; são meus gestos, reflexos dos quais quase sempre não tenho consciência.
Outra parte é fruto do meio e dos gostos. Sou muito de Fernando Pessoa, Chico Buarque, Wilde, Vinicius de Moraes etc. Quem lê muito acaba se misturando com os autores, da mesma forma como as pessoas 'normais' absorvem informações dos amigos e parentes. Embora frio, é justo dizer que quando gostamos muito de um escritor ele se torna nosso amigo.
Outra grande parte é descoberta quando amamos alguém. Quem não ama muito e exageradamente não descobre um pedaço de si mesmo. E essa parte acaba definindo tudo o mais; você quer mudar, ver as coisas de outra forma, crescer e ser feliz. E cada dia que passa isso vai aumentando, adquirindo mais valor.
Mas essa parte descoberta pelo amor embaralha as outras partes. Além de fundir o pouco de si que conhecemos com a pessoa que amamos. E de acrescentar ao curriculum de dores que sentíamos, as dores dela.
Porque ela é tanto quanto a minha vida. Tanto quanto eu.

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