17 outubro 2006

>: 4 - 8 - 15 - 16 - 23 - 42

Estou lendo "Os Porcos Espinhos de Schopenhauer", livro de uma psicóloga americana chamada Deborah Anna Luepnitz. O livro até que é legal, e destaca o papel do diálogo nas relações humanas.
Tenho vários comentários a fazer sobre o livro, mas eu estava pensando era no papel dos monólogos em nossas vidas; sobretudo esses que faço aqui.
Escrevendo ou somente pensando passo a entender muitas coisas sobre mim. Chego às vezes a arriscar diagnósticos sobre alguns comportamentos, algumas atitudes. Depois penso se sou eu a pessoa mais adequada para 'me entender'. Confesso que sou muito íntimo de mim mesmo (hehehe), mas o que seria 'se entender' ou 'se conhecer'. Criar-se?
Não são muitas as dúvidas sobre meus quereres, meus deslumbres, meus fascínios, meus desejos. Meus sentimentos foram sempre muito bem desenhados, os problemas que tive se davam na questão dos ritmos e dos diálogos. Aquela música do Caetano: "onde voas bem alta eu sou o chão / E onde pisas no chão minha alma salta, e ganha liberdade na amplidão". Precisava olhar pro lado (estivesse eu no céu ou no chão), e ver a pessoa que amava ali; se eu não visse, saía de cena sem nenhum peso na consciência. Com minha atual namorada – mulher da minha vida, futura esposa - consigo sincronizar essas coisas através de muito diálogo, com requintes de filosofia alemã. Tudo é muito discutido e esmiuçado, daí o sincronismo.
No entanto, nada me tira esse impulso de escrever, de criar monólogos em busca de conhecer-me ou criar-me. Às vezes está tudo certo e eu fico pensando sobre o certo, o que é certo e errado. Algumas coisas que faço naturalmente, posteriormente são analisadas com frieza, como que por outra pessoa – um outro eu que pensa mais.
Não há uma razão específica para escrever, para pensar sobre coisas que passam batidas na vida de outras pessoas. Mas é uma espécie de necessidade... sei lá...
Na segunda temporada de Lost eles descobrem uma espécie de Bunker que chamam de escotilha. Dentre dezenas de outras coisas, lá dentro tem um computador onde precisam ser digitados uns números (cheios de histórias esses números¹) a cada 108 minutos, caso contrário algo muito sério aconteceria. Depois dois dos personagens descobrem que isso não tinha função alguma, e essa escotilha era observada duma outra escotilha cuja função era relatar o comportamento das pessoas incumbidas de digitar o número. Eles escreviam relatórios e os colocavam num tubo que enviava para a 'matriz' onde seria analisado. Episódios depois, vemos uma pilha desses relatórios atirados pelo tubo no meio do mato, sem passar por análise alguma. Nem uma escotilha nem outra tinha função de verdade. Mas e o medo de parar de digitar o número? Escrever os relatórios? Como saber? Mesmo sabendo que os números digitados poderiam não ter função, um dos personagens não quer parar.
Penso que escrever e uma dezena de outras coisas na vida de outras pessoas é exatamente assim.

(Não queria dizer agora, ia deixar pra um texto específico que vou escrever depois: Lost é foda. Quando comecei a escrever nem lembrava desses episódios, então eles surgiram pra me ajudar a andar com o texto.)

¹ Os números que precisam ser digitados são: 4, 8, 15, 16, 23, 42 - que servem de título a esse texto.

Observação: há um livro de George Orwell (Autor de 1984 e A Revolta dos Bichos) chamado "Keep The Aspidistra Flying", que traduziram ora como "Moinhos de Vento", ora como"Mantenha o Sistema". Aspidistra é uma planta que na terra de Orwell é equivalente às Samambaias aqui: sempre ficam bem num escritório (Ed Mort quando ganhou dinheiro comprou uma pro escri, depois ficou pobre novamente e a comeu). Manter a aspidistra voando tem a ver com o que eu disse aqui. Algo assim.

Sem comentários: