26 junho 2006

Confissão

Há horas com aquela náusea terrível que é prelúdio de alguma coisa por escrever, sentei na frente do computador e digitei a primeira frase dos versos abaixo. Os outros versos também saíram rápidos, mas a estrofe seguinte empacou. Havia dezenas de idéias, mas a coisa não virava poesia. Já queria começar outros textos, deixar esse de lado... foi então que resolvi escrever justamente sobre isso: há muitas características que atrapalham em muito a minha vida. Uma delas é a euforia.
Milhares de idéias me assolam e eu não consigo organizá-las, muito menos transformá-las em poesia. Escrever em prosa é muito mais fácil, embora eu perca muito tempo corrigindo e acrescentando vírgulas e outros cosméticos literários. Mas a poesia exige uma forma de concentração e esforço intelectual que me é desconhecida. Essa mesma característica se repete de várias formas, em várias coisas.
Em empreendimentos individuais, o grande problema é, em si, a euforia. Quero fazer tudo ao mesmo tempo, o que é facilmente demonstrado pela quantidade de livros ao lado da minha cama. Eu quero ler filosofia, poesia, romance, história, notícias... tudo ao mesmo tempo! Minha cabeça vira um turbilhão, e eu acabo não fazendo coisa alguma. O mesmo se dá no trabalho: telefonemas, planilhas, projetos, documentos... tudo dividido entre minha mesa e o computador, se alternando com coisas de ordem pessoal, como esse texto, por exemplo, e conversas do MSN pipocando.
Coletivamente, o que era euforia se manifesta pelo excesso de empolgação. Preciso de deslumbre, de fascínio para seguir adiante. Se percebo que estou indiferente, jogo tudo pro alto e invento outro circo. Meus relacionamentos anteriores terminaram basicamente assim; não aceitava a idéia wildiana de que o amor seja a 'letargia do hábito'. Grandes projetos e sonhos - como o foi a revista Cisma, por exemplo - se dissolvem diante da indiferença alheia.
Por ter uma necessidade muito grande de agir coletivamente, para dar andamento a um projeto preciso que todos sonhem comigo, ou, como disse uma grande amiga minha, todos estejam "olhando a roda gigante do mesmo ponto que eu". Parei um curso que adorava por não enxergar essa empolgação nos outros.
Aos poucos venho enxergando o quão errada são essas e outras coisas habituais em minha vida. Não que eu queira ser/parecer indiferente como a grande maioria. Tudo que é grande e bom e duradouro é feito com empolgação, com paixão. Mas administrar oscilações é o X da questão.
Até pouco tempo atrás eu sequer tinha consciência disso; hoje quero corrigir, confesso.

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