22 junho 2006

Solidão e Angústia

Possivelmente por insistência de minha mãe quando eu era criança, aprendi que é mais seguro andar de mãos dadas com alguém que sozinho. A gente às vezes se distrai e BUM! um carro pode nos atropelar.
Cresci um pouco e teoricamente teria que ter aprendido a andar sozinho por aí; mas não aprendi. Desvairado em madrugadas etílicas, busquei mãos alheias quase que sem perceber. Havia um resquício do que pode ser chamado de 'sacanagem' nesse gesto, já que as mãos eram sempre de mulheres bonitas (diria "comíveis", em outros tempos. Mas mudei); o que não deixa de ser, também, fruto dessa minha insegurança. Medo de ser atropelado.
Em resumo, medo da solidão.

Durante muito tempo tem-se como solidão a eterna ausência da pessoa amada. Em sonhos, projetamo-nos ao lado dessa pessoa numa espécie de Vilarejo como na música da Marisa Monte: "Lá o tempo espera / Lá é primavera / Portas e janelas ficam sempre abertas / Pra sorte entrar / Em todas as mesas, pão / Flores enfeitando / Os caminhos, os vestidos, os destinos / E essa canção...". Eis que um dia o futuro chega - é inevitável - e as coisas não são bem assim.
O mais perfeito e belo amor não passa da união de duas solidões que se entendem. E com a mesma angústia com que éramos "abandonados" na escola, nos separamos por instantes das pessoas que amamos.
Tentando me convencer, repito mentalmente: não há como alguém nos acompanhar em tudo, sempre. As mãos se separam, mas os corações continuam unidos. Não é à toa que justamente na mão fica o símbolo do compromisso.
Talvez se encontre numa religião a 'solução' dessa solidão/angústia. Raul Seixas se incomodava, numa música, com a hipótese de deus vê-lo no banheiro. Acredito que a religião alivie muita coisa; acredito, do meu jeito, na existência de deus. Mas infelizmente (pra mim), diante de algumas injustiças faço a mesma pergunta de Castro Alves: "Deus! ó Deus! onde estás que não respondes? / Em que mundo, em que estrela tu te escondes / Embuçado nos céus?".

Em resumo, não há amor, não há sossego, não há dinheiro, não há prazer, não há empolgação, não há pensamento... nada; absolutamente nada elimina por inteiro a sensação de solidão e a angústia.
E eu canto com Fagner:
"Tenho o mesmo segredo
Dos malditos solitários
Só a noite é minha amiga
A quem friamente confesso
A natureza noturna
Dos meus infernos diários
Nem a mulher que me ama
Sequer a moça de gênio
(...)
Nem o poeta ordinário
Nem literato de prêmio
Eu tenho o mesmo segredo
Dos malditos solitários..."

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