04 julho 2008

Poema no Aquário

MELHORAR?
MELHOR
______ AR?
MELHOR
_____ORAR
_____ORA!

(Escrito há muitos anos no vidro de um desses aquários pequenos com um peixe beta dentro. Presente para minha tia então hospitalizada. Engraçado se deparar com essas lembranças... Houve um tempo em que a poesia era mais presente em minha vida. Ainda que eu não escrevesse, strictu sensu, poesia, as coisas eram vividas em forma de poesia - tinha um sopro diferente, e eu vivia minha vida como se ela estivesse sendo filmada ou viesse a se tornar um romance. Imagine a cena do menino trabalhador (eu tinha, então, 17 anos), saindo do trem lotado, parando numa pet shop pra comprar um peixinho que serviria de companhia para a tia no hospital. É Almodóvar puro! Então ele pára numa praça, pega a caneta de escrever em CDs (que também escreve em vidros) e faz um poema ali mesmo, bate-pronto, no meio das pessoas correndo pra lá e pra cá, saindo de trens lotados para entrar em ônibus ainda mais lotados...
Por fim, se não me engano esse peixe foi por água abaixo. E não é uma metáfora: quando foram trocar a água do aquário ele caiu no ralo da pia. Ou a vida realmente não é um romance, drama ou poesia; é comédia. Ou o protagonista da história não era eu, mas o peixe, que pode ter ido parar num lago e se apaixonado por uma perereca. E aí sim um belo romance: cada encontro era um sacrifício, pois nem a perereca podia ficar pra sempre dentro d'água; nem o peixe fora).



O Café

Estou sentado numa poltrona bastante confortável, ao som de músicas amenas, em inglês. No sofá à frente um casal alterna beijinhos e risadinhas lascivas, pressupondo o que fizeram ou estão por fazer. Na poltrona ao lado, separada de mim por uma mesinha redonda, está uma menina com traços orientais, All Star branco no pé, ouvindo sabe-se lá o que no seu Ipod Nano; por ser bem pequena, ela consegue dormir encostando a cabeça no braço da poltrona. Outra mesinha e uma poltrona vazia (que me faz lembrar Van Gogh) a separa de um rapaz deitado de lado na poltrona, pernas para fora, fazendo algo parecendo um N com seu corpo (ângulo de cima, o joelho; de baixo, o quadril). Na mesinha dele está um celular top de linha ligado na tomada, e uma apostila do Objetivo. É quarta-feira, 10 da manhã, e estamos na Starbucks.

Eu vim aqui pra usar a internet sem fio, o que não deu certo. Pedi um café puro pequeno e um pão de queijo. Pouca não foi minha surpresa quando entregaram um copo de 300 ml cheeeeeeio de café – o que até para mim, cafeinômano assumido, é um exagero (smack, smack, smack... fez a boca do rapazinho à frente no rosto da menina, que ri). Essa é a segunda ou terceira vez que venho numa Starbucks. A primeira vez eu vim com a Sheila pouco tempo depois de assistirmos O Diabo Veste Prada (o copo de café da Starbucks é coadjuvante no filme); pedi uma bebida com café, chocolate e sei lá mais o que, pensando que era uma bebida quente e era gelada; mas não era ruim, e ficamos esparramados num sofá desses, também trocando beijinhos e risadinhas lascivas. A She, que tem uma bolsa fake da Prada, passou a freqüentar com suas amigas e amigos, mas eu nunca mais havia voltado. (O carinha que estava dormindo acordou, e está lendo a apostila do Objetivo de marca textos na mão).

Eu poderia fazer dezenas de reflexões acerca desses jovens desocupados, dos exageros americanos, dos carros passando lá fora... Mas resolvi escrever só para acompanhar o café, que já esfriou.