23 março 2007

Crônica de um Estresse Absoluto

Se “depressão é meramente raiva sem entusiasmo”, como disse Steven Wright, o estresse é uma raiva entusiasmada, um ódio “majestoso... santo, puro e benfazejo”, como no poema de Cruz e Souza.
No ápice de meu estresse, sinto ímpetos homicidas e adquiro a certeza que sou absolutamente capaz de espancar um motorista de lotação até a morte, seja ele do tamanho que for; motoboys, meu patrão, clientes, colegas de trabalho, o prefeito, vereadores, caminhoneiros... todos que atrapalhem minha vida são vítimas de um ódio profundo.
A raiva às vezes é tanta que minha boca seca, meu coração acelera e meus punhos fecham. Olho para os lados em busca de qualquer coisa que possa servir de arma, caso a vítima seja maior que eu, ou mais de uma pessoa.
Mas os motoristas de lotação têm monopolizado meu ódio. Essa corja de filhos da puta deveria ser espancada diariamente, em avenidas públicas. Quando ouço “vamo aê, pessoal... um passinho pra trás” sinto minhas veias pulsarem, meus músculos se retesarem... Pais de família? Trabalhadores? O caralho!!!
Dominado o ódio inicial, a atenção se volta à administração pública: por que diabos não são utilizados ônibus em vez lotação? Por que em bairros mais pobres são utilizados micro ônibus?
Eu fico puto!!!
Sinto falta de uma buzina, mesmo quando não estou dirigindo. Odeio aquelas pessoas andando devagar, pessoas que ficam paradas na escada rolante (escada rolante também é feita para andar! Quer ficar parado, fica na direita; deixe a bosta da esquerda livre!!!). E aquele povinho entregando papel?
Daí eu chego na faculdade absolutamente casmurro, e verdadeiras sirigaitas e bugios fazem da classe um zoológico em horário de alimentação (observação: eu mandaria empalar uma daquelas patricinhas que deixam o estojo de metal cair no chão quando está silêncio). Um bando de filhinhos de papai, vagabundos ontem, hoje e sempre. Nunca trabalharam, nunca vão trabalhar. No máximo, o papai vai arrumar um emprego qualquer onde eles serão odiados em função da incompetência que lhes gerará apelidos carinhosos. Advogados? Duvido... (óbvio que há exceções, e não são poucas; só que prevalece o som dos imbecis). Fico inconformado com essa gentinha que o pai obriga a estudar. Se me perguntassem o que eu queria fazer da minha vida hoje, era estudar: chegar na faculdade mais cedo, poder ficar até a última aula, estudar em casa durante o dia, escrever mais, ler mais. E esses idiotas...

(passo as duas mãos na cara esticando-a para baixo, me deixando parecido com o quadro “o Grito”, do E. Munch. Torço o pescoço para um lado e para o outro, o que faz o barulho de bambu sendo dobrado.)

Passo a semana pensando em coisas legais para escrever. Terminei de ler "As Teorias das Formas de Governo", e adoraria viajar nas idéias de Norberto Bobbio. Fui para Brasília quarta, vi várias coisas interessantes sobre as quais poderia escrever.
Acontece que é sexta-feira, 5 e tantas da tarde, já discuti com meio mundo, estou prestes a jogar tudo pro alto e começar do zero. Se eu não escrevesse, precisaria brigar com alguém ou encher a cara até esquecer quem sou. Achei melhor escrever. Para concluir, alto e bom som:

FODA-SE O MUNDO!!!

Hoje vou encontrar minha princesa, vamos conversar besteiras, amanhã não vou em treinamento algum (pois é, não bastasse essa loucura, meu diretor quer que eu vá num evento em pleno sábado).

Certo, mas onde é mesmo o freio dessa porra?

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