26 março 2007

Crônica de um Amor Absoluto

Acontece que ela me dá uma paz tão inexplicável, tão absoluta, que meus desassossegos ficam pra trás assim que nos abraçamos. Não há estresse que permaneça diante daqueles olhinhos pequenos, de um brilho que ilumina meu caminho, minha vida.
Nossos fins de semana são um sonho. Discutimos filosoficamente os problemas da semana (inclusive os que surgem entre eu e ela, pois durante a semana acaba respingando em nós um pouco de baba da ‘raiva com empolgação’ do texto anterior), trocamos carinhos, olhares apaixonados que quem vê pensa que começamos a namorar há um mês.
É quase um vício. Preciso sentir o cheiro dela, ouvir a voz... Tudo me encanta. Às vezes fico olhando como se acabasse de ter descoberto algo novo nela; que percebe, dá risada da minha cara de bobo, e pergunta:
- O que foi?
- Nada!
- Você ta rindo!
- Eu?!
Então se dá mais uma cena que deixa as formigas loucas.

É difícil entender o que nos tornou assim, tão próximos, tão amigos, tão amantes. Pode se falar em almas gêmeas, desejos, vontades, carma, coisas que talvez Freud explique... sei lá. A história é longa, tem mais de 3 anos (o namoro mesmo tem só 10 meses). Aquele negócio: eu, o último romântico, me apaixonei, escrevi cartas apaixonadas, mandei flores, chorei nos braços dela sem ganhar sequer um beijo, andei bêbado por Moema chorando por ela, que não estava nem aí. O ápice de nossa pré-história se deu quando ela ficou doente (http://minhascismas.blogspot.com/2006/03/crnica-de-um-desespero.html), e a partir daí foi a história de O Pequeno Príncipe que nos uniu. “Minha rosa, sem dúvida um transeunte qualquer pensaria que se parece convosco. Ela sozinha é, porém, mais importante que vós todas, pois foi a ela que eu reguei. Foi a ela que pus sob a redoma. Foi a ela que abriguei com o pára-vento. Foi dela que eu matei as larvas (exceto duas ou três por causa das borboletas). Foi a ela que eu escutei queixar-se ou gabar-se, ou mesmo calar-se algumas vezes. É a minha rosa".
Num belo dia (2 anos e tanto de flerte, cartas de amor, flores!), eu falando alto e gesticulando como sempre – afinal eu já havia desistido e éramos amigos - ela vira pra mim e diz "Fabricio, me beija", como quem me mandasse calar a boca. Eu nem sabia o que fazer. Foi um beijo horrível, confesso. A gente não sabia se pegar, sei lá...
Durante uma ou duas semanas, éramos péssimos. Beijos sem gosto, abraços esquisitos, um distanciamento inexplicável. Estávamos sem graça. Mas com o tempo fomos virando o que somos hoje – quase uma coisa só.
Foi e é difícil convivermos com o fato de que éramos amigos, e que essa amizade gerou muitas conversas sobre os affairs de então. Ela chorava “dores de outro amor”, acabava comigo, eu precisava e dizia que a amava, ela fingia que não sabia, não ouvia; então eu me entregava à boêmia - o estereótipo dum romântico do século XIX - e depois narrava as peripécias pra ela.

Já tivemos algumas brigas, descobrimos defeitos um do outro, aparamos arestas, sentimos medos, mas continuamos seguindo adiante. A única coisa que temos em comum é o amor um pelo outro; o resto é feito cão e gato. Talvez isso até justifique a tese de que “os opostos se atraem”, mas seria simples demais.
Não há explicação. Eram 0:30 de segunda-feira, o fim de semana praticamente já havia acabado, mas estávamos vis-à-vis, se olhando no fundo dos olhos como quem procura ainda mais o outro. Então choramos por alguns minutos, como se as lágrimas purificassem nosso amor.
Um amor absoluto.

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