19 junho 2008

Fernanda Gardenal, (http://cabarepsicodelico.blogspot.com/)

"Um dia, comecei a escrever, sem saber que me acorrentara por toda vida a um senhor nobre porém implacável. Quando Deus lhe dá um dom, ele também lhe dá um chicote; e o chicote se destina apenas à auto-flagelação… Estou aqui sozinho na escuridão de minha loucura, sozinho com meu baralho - e, é claro, o chicote que Deus me deu". Truman Capote


Nos dias seguintes ao sábado em que assistimos “Aos Ossos Que Tanto Doem no Inverno”, fiquei tentando escrever alguma coisa sobre a peça, sobre os momentos que passei dentro do teatro, as sensações, emoções, devaneios, saudades. Perdi algumas horas diante da tela do computador e só consegui escrever o texto anterior (de 17/03/08), sem título, sem razão (ando com dificuldades para escrever). Os personagens da peça são um pouco do que escrevi; mas na verdade o texto fala de você, Fernanda.
Fazia muito tempo que não nos víamos. Quando nos reencontramos, eu ao lado de meu Amor Indelével, vi o quanto você continuava aquela pessoa especial, mágica, e o quanto eu havia apagado, me perdido. Senti certa inveja de você – uma inveja boa, entenda. Você não desistiu, não se abalou com as desilusões, não se rendeu aos ditames de nossa sociedade hipócrita, ao desvario da paulicéia, ao “fabulário geral do delírio cotidiano”. Você está maior sem precisar ter crescido daquela forma chata que nos torna casmurros, que nos envelhece.

Então hoje me deparei com “UM POUCO DE HISTÓRIA ROMÂNTICA...” do seu blog. Qualquer elogio que eu faça, qualquer adjetivo que eu use é pouco. Um palavrão do tipo PUTA QUE PARIU, escrito com letras garrafais expressa um pouco da surpresa, do deslumbre... mas o que quer que se diga será pouco. É mais do que maravilhoso...
Tudo o que você disse de forma tão pura, tão bela, reflete a angústia de muitas pessoas – e a grande maioria desiste; eu, inclusive. Na verdade, sequer sabemos o que falta. Desistimos ainda durante a busca e morremos sem saber qual era nosso dom. Talvez em algum momento da vida sentimos um arrepio inexplicável diante de uma situação aparente banal – ir ao teatro, por exemplo. Hamlet, para ter certeza de que o pai dele fora morto pelo irmão, fez com que se encenasse no teatro a morte relatada pelo fantasma do pai; ao ver de novo aquela cena o tio acabaria se entregando de alguma maneira. Você deve saber o que acontece em seguida... Pois a vida vive fazendo passar na nossa frente situações que eram para nós vivermos! Foi assim que você encontrou o teatro... o arrepio que você sentiu no SESI, e que se repetiu diversas outras vezes é esse arrepio que vem “de onde se produz a palavra eu”, fruto do fato de que era você quem devia estar ali (no caso do tio do Hamlet, porque ele já tinha vivido aquilo – e quem sabe se em outras vidas, caso existam, você não foi atriz?). No entanto, deixamos pra lá e voltamos para nossa vida estável, segura.
Você não voltou!!!
Dê graças a Deus por ter descoberto aos 22 anos. Tem gente que nunca descobre ou descobre aos 50, 60, 70 anos...
Ver tanta paixão, tanta empolgação ilumina as pessoas ao redor, faz com que continuemos buscando.

Elogiar um texto tão belo é pouco. É melhor agradecer: obrigado.

1 comentário:

Fernanda Bello disse...

Tudo o que posso dizer adorado amigo é que não consigo dizer nada, simplesmente porque as lágrimas que você arrancou de mim não me deixam.
AMOTE.
Bjo!