06 março 2007

Aulas à Revelia

É absolutamente inaceitável a forma como o Ensino a Distância vem sendo tratado na Unicsul. As únicas coisas definidas são as datas e a ferramenta que será utilizada: o malfadado Blackboard – BB para os íntimos. "O resto é mar..."; um mar de descaso, dúvidas e displicência.
De início, vale pensar: será que nós, alunos, ganharemos alguma coisa com a redução de 20% das aulas presenciais? Qual a opinião dos professores? Qual a opinião da OAB, no caso específico do curso de Direito? Ironicamente, penso: será que as aulas semi-presenciais são um meio de entrar na lista de faculdades recomendadas pela elitista OAB? (Confiram: http://www.oab.org.br/noticia.asp?id=8766). Creio que não.
De qualquer forma, pulemos a apresentação do projeto de Ensino a Distância (que é legítimo, e consta lá a possibilidade de 20% de aulas semi-presenciais para instituições de Ensino Superior), e vamos direto aos "Referenciais de Qualidade Para Cursos a Distância"[1], de abril de 2003. A epígrafe, à luz do que está acontecendo na Unicsul, é no mínimo irônica: "Qualidade não é obra do acaso. Resulta de intenção, esforço e competência. George Herbert.”
O documento diz que são “dez os itens básicos que devem merecer a atenção das instituições que preparam seus cursos e programas a distância:
1. compromisso dos gestores;
2. desenho do projeto;
3. equipe profissional multidisciplinar;
4. comunicação/interação entre os agentes;
5. recursos educacionais;
6. infra-estrutura de apoio;
7. avaliação contínua e abrangente;
8. convênios e parcerias;
9. transparência nas informações;
10. sustentabilidade financeira.”
Comentários:
- No caso da Unicsul, o papel dos gestores no processo de apresentação do blackboard fez pensar que o BB de www.unicsul.br/bb se referia na verdade ao Big Brother – não ao patético programa global, mas à figura soberana do livro 1984, de George Orwell. O livro trata de uma sociedade comunista, onde, dentre tantas ironias, o soberano é o Grande Irmão, que monitora a vida de todos inclusive pela TV. Nosso gestor seria o Big Brother?
- O item 2 começa assim: “Para começo de conversa, educação a distância não é sinônimo de redução de tempo de integralização de currículos, cursos e programas”. É preciso falar mais alguma coisa?
- A equipe profissional multidisciplinar exigida no item 03 se resume ao comentário de alguns professores: “mas eu nem tenho senha do blackboard!”
- A comunicação/interação entre os agentes veio por meio de um recado colado no mural da classe, onde constam as datas das tais aulas semi-presenciais.
- Recursos educacionais... seria o “Digital Dropbox” ou o “Electric Blackboard” e outros nomes pomposos no www.unicsul.br/bb?
- Com muita boa vontade podemos descobrir a infra-estrutura de apoio, cujo telefone é 61370066 e o site é www.unicsul.br/nead. Vale constar que nem uma nem outra informação estavam no ‘aviso’ com as datas de aulas semi-presenciais.
- Avaliação contínua e abrangente? Reticências.
- Convênios e parcerias? Reticências.
- Transparência nas informações? Reticências.
- Sustentabilidade financeira? Ah... o investimento em equipamentos e software deve ser considerável, mas a redução de 20% nas horas-aula garante uma boa quantia em dinheiro aos cofres da Unicsul. Aliás, é impossível não pensar na imposição das atividades semi-presenciais como uma forma ridícula de economia. E a coisa é tão mal feita que se houvessem duas atividades semi-presenciais no mesmo dia, caberia o argumento: “assim os alunos não teriam que vir a faculdade, teriam mais tempo para estudar em casa, não pegariam trânsito, não estariam sujeitos à violência da paulicéia desvairada etc”. Mas nem isso. De qualquer forma os alunos precisam estar na faculdade, já que antes ou depois haverá aula presencial, enquanto os professores não. Os alunos estão pagando e os professores não estão recebendo. Esse Big Brother é bem esperto.
Assim como a opção por mestres (que recebem menos) em vez de doutores (que recebem mais) é feita sobretudo por medidas de economia e baseada na conjunção alternativa ‘ou’ de não sei qual lei – que estabelece um percentual de “mestres ou doutores” para as universidades – a utilização do limite de 20% de aulas semi-presenciais não tem outra explicação além de economia, e foi tomada à revelia dos alunos e professores (deduzo a partir da falta de programa de grande parte deles).
Mais uma vez os interesses da iniciativa privada se sobrepõem ao interesse comum – o de alunos que estão sendo lesados em 20% do que pagam mensalmente por uma coisa que deveria ser gratuita para todos – o Ensino Superior - , dada a quantidade de impostos que pagamos. Clamar pela extinção das atividades on-line ou do blackboard seria burrice, afinal vivemos numa era digital, e o blackboard parece ser uma excelente ferramenta. Mas deixar as coisas acontecerem da forma como estão acontecendo seria mais burrice ainda. Precisamos nos organizar.
[1] http://portal.mec.gov.br/sesu/arquivos/pdf/ReferenciaisQualidadeEAD.pdf

1 comentário:

Anónimo disse...

Fabrício sou do campus liberdade, e não concordo com essa implantação, será q vc pode me contatar pelo e-mail debora.zanchin@uol.com.br
Estamos marcando algo, que na net precisa ficar em "off" pq temos pessoas cuidando de nossas conversas. Aguardo seu contato.