13 março 2007

Fantasmas

Se imagine sozinho num castelo frio, sem poder sair... De repente, surge um fantasma. O assombro com o fantasma é natural – afinal é um fantasma. Mas o que fazer? Gritar? Correr? Fingir que ele não está ali? Conversar com ele?
É mais ou menos assim que algumas poesias surgem na minha mente – como fantasmas me assombrando em momentos de solidão e frio. A poesia, assim como o fantasma, não é algo natural, não faz parte desse mundo. O que fazer com ela? Fingir que não está ali? Conversar? Correr?
Quando escrevemos é ‘menos pior’ que isso. Escrever é como falar sozinho dentro desse castelo frio. Ameniza, acalma... mas a poesia alheia incomoda, por que é também um certo fracasso: ela não é sua. Foi assim, hoje, que lembrei duns versos de Álvaro de Campos, heterônimo do Pessoa. “O que há em mim é sobretudo cansaço...”


O que há em mim é sobretudo cansaço
Não disto nem daquilo,
Nem sequer de tudo ou de nada:
Cansaço assim mesmo, ele mesmo,
Cansaço.

(...)

Há sem dúvida quem ame o infinito,
Há sem dúvida quem deseje o impossível,
Há sem dúvida quem não queira nada -
Três tipos de idealistas, e eu nenhum deles:
Porque eu amo infinitamente o finito,
Porque eu desejo impossivelmente o possível,
Porque eu quero tudo, ou um pouco mais, se puder ser,
Ou até se não puder ser...

E o resultado?
Para eles a vida vivida ou sonhada,
Para eles o sonho sonhado ou vivido,
Para eles a média entre tudo e nada, isto é, isto...
Para mim só um grande, um profundo,
E, ah com que felicidade infecundo, cansaço,
Um supremíssimo cansaço.
Íssimo, íssimo. íssimo,
Cansaço...

obs.: lembrava de muitos versos, mas o que está aqui acima é fruto do Google: copiei e colei de algum site.

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