28 fevereiro 2006

Uma carta!

Tava fuçando os itens enviados do meu hotmail (estou no trabalho mas definitivamente não trabalhei nesse carnaval), e achei essa carta com data de 22/07/2005. Achei interessantíssima. Mas havia esquecido totalmente dela... lembro do contexto bastante tumultuado em que ela foi escrita, mas não sei das minhas intenções com ela. Há um quê de mágoa...
Bom, de qualquer forma, serve de continuidade aos textos "Teatro Noturno"


Assunto: Pense Dalí, pense surrealista. Essa coisa de imagens distorcidas. Mas não pense impressionista que é outra onda...

Vem sentar-te comigo,
(...) à beira do rio.
Sossegadamente fitemos o seu curso e aprendamos
Que a vida passa, e não estamos de mãos enlaçadas.
(Enlacemos as mãos).

Depois pensemos, crianças adultas, que a vida
Passa e não fica, nada deixa e nunca regressa,
Vai para um mar muito longe, para o pé do Fado,
Mais longe que os deuses.

Desenlacemos as mãos, porque não vale a pena cansarmo-nos.
Quer gozemos, quer não gozemos, passamos como o rio.
Mais vale saber passar silenciosamente.
E sem desassossegos grandes.

(Ricardo Reis, heterônimo do Fernando Pessoa)

(olhando pro nada, lembrando de uma dúzia de poemas que falam sobre a vida, a morte, o amor. Lembrando da frase “você só escreve quando está com muito amor ou muita raiva”, dita por uma pessoa que parece me conhecer muito bem, e reclama de meu súbito silêncio. Andando com as mãos nos bolsos, pensando em nada com muitas imagens e muitas palavras. Perguntando, respondendo... O coração acelera e pára como sob o efeito de drogas. Só há eu e o mundo todo, mas no mundo não há outras pessoas. Tudo se apaga e quando acende ofusca como uma súbita luz na escuridão. Luzes ou escuridão demais, nada vejo. Sinto algo? Talvez... uma angústia que não vem da liberdade, um medo que não é da morte, um amor que não é da vida.
As coisas todas possuem várias cores, tudo tem cheiro, gosto, tudo é asperamente liso, amargamente doce, invisivelmente claro. Não há duas coisas iguais. Tudo é antítese de tudo. De repente, tudo vira de cabeça pra baixo, e o que era vida, morre; o que era amor, odeia; o que era amizade, vazio; e o que era eu... ué?
Luzes se acendem, começa a tocar “Another Brick in The Wall”. Entram os palhaços que não riem nem fazem rir, o mágico invisível, o acrobata se rastejando, o leão dando chicotadas no domador, e o homem bala cai do alto da tenda com uma metralhadora de verdades e atira em toda platéia.
Desespero.
O circo começa a pegar fogo, e pétalas caem do céu. Pássaros azuis voam por toda parte dizendo “never more”...
De repente, Bum! Tudo some e eu volto a caminhar olhando pro nada, lembrando de uma dúzia de poemas...)


Todos.

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