16 fevereiro 2006

Nós, os românticos, e a paixão...

Aprender com erros é uma virtude. Só um idiota faz uma besteira e continua fazendo, mesmo sabendo que não vai dar certo. Persistência não é sinônimo de tolice. É preciso, sim, certa teimosia e cometermos erros para saber como é, ignorando a experiência de outros (Wilde dizia que experiência é o nome que os outros dão aos próprios erros). Mas não é preciso repetir.
Só há uma exceção: a paixão. E é inegável que a paixão é um erro.
Quem nasce romântico, por mais que se pinte de malandro e frio, morre romântico. Pode ter pequenos intervalos de não-romantismo gerados por desilusões e enganos. Mas ele se apaixona de novo, não adianta. Quando menos espera, lamenta a vida e as injustiças desse deus terrível que controla os corações alheios. Esquece a frase dita com a cara no travesseiro já todo babado e molhado de lágrimas: "não vou mais me apaixonar. Nunca".

Estar apaixonado é querer estar com o outro sempre. Amar é querer ser o outro. E os românticos têm um amor indelével, mesmo quando se apaixonam por outras pessoas (daí, toda paixão posterior a esse amor é uma referência, um padrão. Um eterno retorno). Quem já viu o Don Juan interpretado pelo Johnnie Depp entende o que quero dizer. Don Juan, como todos sabem, era aquele conquistador inveterado, amante de mais de mil mulheres. No filme interpretado por J. D., ele ama perdidamente uma mulher que não o quer, mas vai se apaixonando por muitas; a paixão acaba e ele sempre retoma a figura indelével daquele amor impossível. Ele sofre por paixão, sofre por amor.
Paixão será sempre sinônimo de sofrimento. Por querermos estar sempre com o outro, a ausência nos causa náuseas terríveis. Já o amor, que quer ser o outro, se satisfaz por trazê-lo em si; sente saudades, lógico, mas a idéia de 'unidade de dois seres' alivia. Isso, lógico, quando esse amor é correspondido. Amor não correspondido se torna paixão, paixão é sofrimento... mas quando vem daí a paixão é um pouco mais amena. Aleatória.

Paixão correspondida se torna amor com o tempo. Amor nem sempre vira paixão. Há pessoas casadas que se amam absolutamente, mas não são apaixonadas. Às vezes uma pessoa ama, outra se apaixona. Essa é a fórmula de felicidade (fórmula hipotética que ainda não provei).

A paixão é contagiosa pela mão, pela boca. A gente beija, olha, subentende promessas de eternidade... o problema dos românticos enquanto seres apaixonados é esse: a gente pensa que tem a pessoa nas mãos, aí ela vai embora como se nada tivesse acontecido. E nós, que queremos estar sempre com o outro!

Conseguimos, tal qual Fernando Pessoa, fingir que é dor uma dor que realmente sentimos. As pessoas se assustam com paixão, então fingimos que aquilo é só um affair... tudo para estar sempre ao lado daquela pessoa. Isso é a mais clássica paixão!

Ah! Perdi o fôlego só de escrever esse texto. Escrever também é paixão... outra forma de paixão que também envolve sofrimento. Ouvi no filme "Tudo Sobre Minha Mãe", do Almodóvar, mas a citação é de um autor americano: "quando deus dá um dom pra uma pessoa, junto ele dá um chicote. E esse chicote destina-se somente a autoflagelação".
Quando a gente se apaixona também ganhamos um chicote, com a mesma função.

2 comentários:

Anónimo disse...

eu concordo tanto com vc q n sei o qnto cocordo... eu sofro dos msmos males!! ciclotimia, paixão... esses seres q somos e n entndmos nd deles!
há uma frase q sempre digo a mim msma: eis q resurgimos, de nosso próprio cunho toda vz q escrevmos no ar e d nossa própria mentira sobre a gnt e o outro toda vez q nos apaixonamos...

vc é mtu bom!!
t+

Pjora disse...

Comecei a ler o post com TV ligada, som alto.. meio que à toa. Depois do primeiro parágrafo fui obrigado a desligar tudo e me ver entre suspiros_ por vezes até de alívio por não ser o único a encarar a vida assim, a não ser o único a sofrer "abertamente" por paixão_ e percebi que me ajudou a entender algo que nunca antes conseguira: aqueles que nos deixam como se nada fossemos, não nos deixam simplesmente, fogem de um sentimento que não entendem e por isso temem. Abriu meus olhos. Obrigado.