28 fevereiro 2006

Divagações Prosaicas Sobre meus Versos

Acordei poético hoje, viu só? Não sou de esquentar a cabeça com rimas, quantidade de versos, blábláblá. Inicialmente por achar ridículas as poesias que escrevo. Porém, não ridículas como as cartas de amor do Fernando Pessoa (Todas as cartas de amor são ridículas / Não seriam cartas de amor se não fossem / Ridículas). Ridículas por serem uma forma de profanação sem sentido, como vestir um santo com camisas da Cavallera.
Deu pra entender?
Quando escrevo, a única preocupação que tenho é com relação às vírgulas, criaturinhas que adoro. As vírgulas são num texto como os lactobacilos do Yakult: estão vivas! De resto, escrevo exatamente da forma como penso e equivalente ao meu jeito de falar. As vírgulas são importantes como ter um bom hálito numa tentativa de seduzir: por melhores que sejam as palavras, mais sinceros os sentimentos, de nada adianta se o hálito for insuportável. Pontos também dão certo charme. Uma espécie de sedução. Um Sorriso. Um perfume.
De forma alguma isso quer dizer que sempre tenha certeza de como usar vírgulas. Me perco sempre com relação ao ‘e’. Tem hora que o texto precisa de uma pausa além do e. Aí fica ao meu gosto, nem sempre seguindo as regras da inculta e bela língua portuguesa.
Porém, escrever poesia não é como pensar. Nem é somente sentir. Precisa de um esforço intelectual além do pensar e do sentir, mas mais atrelado ao sentir que ao pensar. Isso pra mim é muito difícil.
O que adoro fazer quando tento escrever poesias são aliterações como em “sol no céu azul sem nuvens”, “alice no espelho ali se via...”, “o que dá vida ao David?”. Esses joguinhos de palavras me seduzem! Quando consegui fazer um palíndromo pra uma menina (amá-la é a lama), fiquei muito feliz! Palíndromo, pra quem não sabe, são frases que podemos ler de trás pra frente e vice-versa. Minhas tentativas de fazer poesia são frutos dessa sedução por jogos de palavras. Não lembro quando, mas escrevi uma vez “o riso faz-se fácil face ao jogo de palavras”.
A questão da profanação se dá quando lembro de poetas como Augusto dos Anjos e Vinicius de Moraes. Aqueles versos soam naturais como minha prosa. Não consigo imaginar se exigiu esforço, ou o tamanho do esforço necessário para escrever:
"Este ambiente me causa repugnância...
Sobe-me à boca uma ânsia análoga à ânsia"
Rima perfeita e 12 sílabas poéticas! Como pode?
Por isso me resigno à minhas divagações prosaicas em todos os sentidos possíveis.

OBS.: E pensar que quase agora eu estava melancólico rimando mundo e fundo. De repente, não mais que de repente, viajo escrevendo esse monte de coisas...

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