07 fevereiro 2006

Eu não sei parar de pensar

não há sol a sós
Arnaldo Antunes

Todo prazer, por maior que seja, se esvai quando esbarra na solidão.
Estar na Bahia é lindo. Beijar outras bocas, com outros sotaques, é maravilhoso. Comidas diferentes, sensações, descobertas... tudo é delicioso. Não posso reclamar jamais desses dias que estão sendo os melhores de minha vida. Seria egoísta de minha parte.
Só que não sei parar de pensar.
Tinha prometido a mim mesmo que não ficaria filosofando demais sobre minhas angústias, minhas cismas. Ia manter distância da internet, do teclado.
Só que não sei parar de pensar.
Em algum momento é preciso olhar para o lado e dizer: “olha como isso é lindo!”. Mas não. O fato de não haver alguém dissipa em mim venenos de filosofia e poesia que deveriam ser absurdos sob um sol assim, frente a maravilhas assim.
Só que não sei parar de pensar.
Andar de mãos dadas na beira da praia, ouvindo palavras deliciosas como ‘procê’ deveria ser um fim em si mesmo, curando com um beijo todo o veneno herdado de qualquer outra pessoa, qualquer outra coisa. Só que a efemeridade recende à solidão e...
... eu não sei parar de pensar...

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