27 fevereiro 2006

A boemia é... vazia

(da série: retratos quando entediado, rsrsrrs)

Há um quê, assim, de masoquismo em mim.
Sou pirracento, me apaixono diariamente por pessoas erradas. Tenho um amor indelével que dita regras para as outras possibilidades de amor.Sou romântico, metido à poeta e boêmio no sentido lato tirado do dicionário Houaiss: "que ou quem leva uma vida HEDONISTA, ALEGRE e LIVRE".
HEDONISMO aqui no sentido de busca do prazer através dos sentidos. Algo como o conselho de Lorde Henry ao Dorian: curar a alma através dos sentidos; os sentidos através da alma. Ou seja: a busca do prazer como forma de apaziguar a angústia cotidiana.
ALEGRIA não é felicidade, entendam. E também não é bichice como na tradução para o português da palavra gay. Alegria são aquelas conversas de boteco entremeadas por olhares semi-apaixonados para alguma menina, risos altos, saídas estratégicas, mentiras sinceras.
LIBERDADE... esse problema. Sempre Sartre: "A angústia é o modo de ser da liberdade enquanto consciência do ser". A culpa de tudo é da liberdade. Estamos condenados a liberdade... o que fazer?
Ou seja: a boemia é... vazia (disse isso só pela rima). A boemia é uma forma agradável de lidar com a liberdade. Para não carregarmos o peso da angústia 24 horas por dia, nos entregamos a essa insustentável leveza. A boemia é isso: uma insustentável leveza.Não bastasse a ressaca das bebidas, há um vazio enooooorme nas manhãs após noites de cerveja, abraços e beijinhos (quando damos a sorte de arranjar alguém pra beijar).
Em seguida vem a Literatura e a busca contínua de respostas. Então escrevo. Leio.Minha vida é isso: boemia em noites insustentavelmente leves; Literatura, seja no gesto de escrever ou ler, como um peso, tal qual o fardo de Atlas, condenado a carregar o mundo nas costas.

E não me canso nunca de escrever sobre mim. É um pouco de egoísmo, confesso. É que escrevendo vou me entendendo. Por exemplo: em momento algum na minha vida havia pensado na diferença entre felicidade e alegria. Tive a idéia enquanto escrevi... isso que é o bacana de estar nessa busca contínua de si mesmo. Às vezes me decifrando, às vezes me devorando. Assim sou eu... ou quase isso.
Outra coisa: a busca por si mesmo se confunde com a busca dessa figura clássica de amor perfeito. Alguém que me entenda, acompanhe algumas loucuras minhas e me tire de outras. Alguém pra quem se possa cantar a música do filme Orfeu: “Sou mais eu porque sou você”.
Mas até agora não disse nada de diferente das outras pessoas. A diferença somente está na forma de lidar com essa busca. Mas, no fundo, o que todo mundo quer é isso: alguém pra dizer “sou mais eu porque sou você”.
Só que eu, no momento, disfarço através de uma boemia... vazia.

Portanto, matem o cantor e chamem o garçom!

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