14 fevereiro 2006

Amor-Balão

Lorde Henry, apaixonante personagem de Wilde, dizia que é possível ser feliz ao lado de qualquer mulher, contanto que não a amemos. Amor e paixão por outra pessoa é sempre algo confuso. Paixões ‘impossíveis e rudes’ são deliciosas.
Mesmo que o tempo torne aquele amor inicial algo desbotado, é impossível não sentir algo por alguém que te beijou na boca, deu a mão, olhou nos olhos. O instante anterior ao encontro parece algo insignificante, como se nada de importante fosse acontecer; ainda mais quando esse ‘affair’ não é algo positivamente constituído. É, literalmente, um caso. Só que o imediato vazio deixado por aquela pessoa nos deixa perturbados, sendo ela quem for. Quando ela tem um quê de especial, sendo esse quê vindo de uma dificuldade independente de nós dois, as coisas ficam ainda mais complicadas.

Um amor com sabor de fruta mordida... matando a sede na saliva... quem não quer?

Mas o que é exatamente isso?
Ainda sentado ao lado dessa pessoa, beijos intermitentes e carinhos sem ter fim, me veio à cabeça aquela música do Lulu que diz “acho tão bonito isso de ser abstrato...”. Essa coisa do relacionamento entre duas pessoas ser abstrato é gostoso, não posso negar. Dá uma sensação de liberdade.
A liberdade nos torna leves. A leveza nos tira qualquer possibilidade de previsão do futuro. Eu mesmo, numa dessas frases de impacto geradas pela cerveja, disse que a ausência de planos nos torna mais livres. Foi assim que fui pra Bahia, sem rumo, sem destino certo, sem companhia, sem horário, mas exercendo plenamente minha liberdade. Liberdade essa que em São Paulo, onde há hora pra acordar, trabalhar, almoçar e jantar, me era retirada.
O que incomoda é o mesmo vazio comentado num outro texto. É aquele vácuo deixado pela liberdade.
Um amor, uma paixão, um caso, exercido com as mesmas regras dessa liberdade ‘keep walking’ é um pouco incômodo, mas gostoso. Não saber o que vai acontecer amanhã...
Há coisa mais assustadoramente excitante?
Tive uma idéia! Stendhal fez definições bacanas de amor, mas acrescento mais uma: amor-balão.
É aquele amor que fica flutuando no ar, sem destino, sobe, desce, é jogado pra lá e pra cá... de repente, bum! Ele pode estourar!!!
Aflige um pouco esse estouro, como aquela agonia das crianças quando brincam assim. Mas o que fazer?

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