15 outubro 2005

A poesia e eu

Mas bem que nós fomos muito felizes
Só durante o prelúdio
Gargalhadas e lágrimas
Até irmos pro estúdio
Mas na hora da cama nada pintou direito
É minha cara falar
Não sou proveito
Sou pura fama

Não me queixo
Eu não soube te amar
Mas não deixo
De querer conquistar
Uma coisa qualquer em você
O que será?
(Caetano)
Comecei esse negócio de Blog (ops, espirrou no meu olho) faz dois dias, e começo a refletir um pouco mais sobre o ato de escrever.
No maravilhoso, doce, afável, delicioso filme do Almodóvar chamado "Tudo Sobre Minha Mãe", há uma citação de Truman Capote, que depois busquei no google e achei: "Um dia, comecei a escrever, sem saber que me acorrentara por toda vida a um senhor nobre porém implacável. Quando Deus lhe dá um dom, ele também lhe dá um chicote; e o chicote se destina apenas à auto-flagelação... Estou aqui sozinho na escuridão de minha loucura, sozinho com meu baralho - e, é claro, o chicote que Deus me deu".
Eu confesso que muitas vezes acredito num possível dom que eu tenha para escrever. Mas se o Rilke perguntasse pra mim se minha vida depende disso, eu talvez dissesse que não. Na verdade eu não escrevo, penso e vou colocando no papel exatamente como 'falo' dentro de minha cabeça. Não há criação. Lógico que fico corrigindo, e ao reler acabo mudando algumas frases por capricho literário. Mas me irrita o fato de eu não estar criando. Sei lá...
Gostaria muito de escrever poesia. Sinto falta disso. Penso tudo poeticamente, com poesias alheias. Mas não me esforço... acho que me entrego muito facilmente. Também não tenho tempo! Ultimamente mal consigo me concentrar em livros um pouco mais complexos como "O Mundo Como Vontade e Como Representação", do Schopenhauer. Se meu corpo anda a 120 km/h, minha cabeça está a 900 km/h! O trabalho me exaure, me acaba. Quando estou em casa, deito, pego um livro e começo a ler; quando dou por mim não entendi nada, e minha cabeça pensava nos problemas de amanhã. Ontem mesmo eu comecei a ler "O Mundo...", e não consegui. Em seguida pulei para "Teorias da Revolução", e também não consegui. Então voltei para a Literatura com Sartre, O Muro. Li o primeiro conto, e resolvi dormir.
Minha vida é assim.
Gosto de fazer teorias com minha vida, meus sentimentos. Dia desses pensava nisso de 'querer fazer poesia', e imaginava a poesia como aquela namorada que te deixa louco, deixa você passar a mão, ela também dá uma escorregada... aqueles 'pegas' nervosos que deixa o saco doendo por uma meia hora. Vocês não transam por que ela fica fazendo drama, quer ouvir 'eu te amo' todos os dias, espontaneamente, mesmo que você esteja uma pilha de nervos. Mas você sabe que mais dia menos você vai comer, não adianta. Às vezes aparece uma outra oportunidade de sexo, e é até capaz de você não resistir (afinal, como diz Wilde, fidelidade é para a vida sentimental o que a coerência é para a vida intelectual: uma confissão de fracasso). Só que você ama sua 'namorada' e quer transar, mas a tonta não entende.
Eu e a poesia somos assim. Nos ‘amassamos’ todos os dias, e fazemos todos os tipos de sacanagem possível. Só que não transamos... ela quer ouvir ‘eu te amo’ todos os dias, e quer mais tempo para ela. Praticamente uma relação masturbatória: ela chega a se despir na minha frente...
Ah, poesia... eu te amo, mas não sei voar.

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