06 novembro 2005

No que consiste o fascínio?

A visão mais clara de fascínio que me vem à mente é a do homem que descobriu o mel após ser picado por dezenas de abelhas. O que o levou a enfrentá-las, sem saber o que ganharia com isso? O fascínio pela colméia era nada perto da doçura do mel, e torna-se então mera curiosidade estúpida, pois nada é mais fascinante que o mel.
Só que essa é uma experiência de sucesso. Imaginem o homem que resolveu... sei lá, pôr a mão no fogo?
Deduz-se daí que o fascínio pelas coisas é pai dos costumes e da ciência.
O homem moderno surge do fascínio que tinha pelos mais fortes, e cria artifícios para que ele seja forte também. Surgem noções de status, poder, fama etc. Dessa relação de fascínio pelo outro surge a sociedade moderna.
Agora vem a parte complicada: é até aceitável que do fascínio pelo outro nasça o Estado moderno, mas no que consiste o fascínio que muitas vezes precede o amor? Quais características fazem com que eu diga: “Sou fascinado por determinada pessoa”? Qual a relação entre mistério e fascínio?
Vamos por partes; primeira coisa: o que é amor?
O Amor não pode estar simplesmente relacionado a noções abstratas de desejo e reprodução. Desde sempre houve a reprodução, e desde sempre existiram conceitos próximos ao que hoje chamamos de beleza: o macho mais forte era melhor reprodutor, e determinadas características das fêmeas faziam com que tivessem melhores crias.
O Amor como concebemos hoje é um conjunto de características comuns entre duas pessoas, agora constituintes de um grupo de pessoas cada vez maior. A escolha do ser amado se dá pelo maior número que ele possui de características que desejamos ou precisamos; agora, a diferença entre desejo e necessidade é um impasse no qual não desejo nem necessito entrar.
O fascínio aplicado ao amor vem da quantidade ou de quais características encontramos em determinadas pessoas. Numa concepção bastante freudiana dessas idéias, o fascínio pode vir também do quanto a pessoa se parece com nossa mãe.
Quando me vejo fascinado por uma pessoa, é por que encontro nela determinadas características que venho esperando encontrar, ou que me são totalmente novas. Ora esse fascínio pode ser a beleza, ora pode ser a inteligência, ora a semelhança com determinada pessoa (uma ex-namorada, por exemplo). Essas idéias aplicadas à primeira pergunta (no que consiste o fascínio que muitas vezes precede o amor?), creio, são bastante claras: o fascínio que precede o amor é o mesmo do homem que descobriu o mel; a curiosidade muitas vezes leva a dulcíssimas descobertas, o que também responde a segunda pergunta (Quais características fazem com que eu diga: “Sou fascinado por determinada pessoa”?). A descoberta de coisas novas por meio de antigos fascínios faz com que sejamos ainda mais fascinados por determinada pessoa, o que torna o fascínio combustível de qualquer relacionamento.
A relação entre mistério e fascínio faz surgir muitas coisas, dentre elas a religião, amores sublimes, amizades subliminares etc. Nem sempre somos capazes de alcançar a colméia, e muitas vezes o medo das abelhas nos impede; por isso jamais saberemos o que tem lá. Mas isso não faz com que eu perca o fascínio. A grande força que as mulheres fazem para criar mistérios em torno de si mesmas (como no conto “A Esfinge sem Segredo” do Oscar Wilde), é justamente isso: manter o mistério faz com que fiquemos sempre próximos do objeto fascinante. Mal sabem elas que além da doçura do mel, existem ainda diversas coisas a se fazer com ele.
Então por que os homens não se esforçam para criar mistérios em torno de si mesmos? Simples: a natureza do homem é inventiva e errante. A cada dia fazemos surgir coisas novas, inventamos, criamos acrobacias. Quando essas já não chamam a atenção ou não causam aplausos, pedimos desculpas e caímos. Se mesmo assim não há reação, armamos o palco em outro lugar.
Para concluir, resta ressaltar as diferenças entre amor e fascínio, pois como se viu, o fascínio pode preceder o amor e dar continuidade a um relacionamento, mas um não é sinônimo do outro.
O fascínio nada mais é que um empurrão ou um combustível do amor. Enquanto o fascínio pode acabar quando acaba o mistério (quem com mais de 10 anos é fascinado pelo papai Noel?), o amor cria para si motivos pra dar continuidade ao mistério.
O fascínio pergunta; o amor responde.

Sem comentários: