18 abril 2006

A necessidade de estar junto

Mais comentários meus no tópico que criei na comunidade "Closer", no orkut:


Até onde a necessidade de estar junto é amor?

Ontem, no Café Filosófico da TV Cultura, Ivan Capelatto proferiu uma palestra cujo título era "O Amor na Era da Sobrecarga". Após explicar a evolução do amor desde a infância, ele chega a três pontos chaves da possível classificação psicanalítica do amor: neurose, psicose e psicopatia.

A neurose, origem da "afetividade neurótica" vinda da necessidade de cuidar do outro, é tida por ele como sendo uma forma de amor perfeita, ao menos até onde isso não extravasa. A psicose é a idealização platônica da figura amada. Idealização que chega a ponto de a presença da pessoa se tornar insuportável.
A psicopatia é síndrome do "amor na era da sobrecarga", tema da palestra. Aqui, o amor só existe quando a pessoa está perto. Na ausência dela, o amor acaba.

Em Closer, toda forma de amor é um tanto psicopática, partindo desses princípios. Há formas estranhas de amor, mas não há esse amor que quer cuidar do outro. Há, muito, a noção e idéia de posse do outro.
Por mais que essa psicopatia seja síndrome dos dias de hoje, a estranheza que Closer causa é ao nos mostrar sem pudor essa nossa tendência, bastante universal. É mais uma frase do Wilde: “a aversão do século XIX ao Realismo é a cólera de Caliban por ver seu rosto no espelho, a. aversão do século XIX ao Romantismo é a cólera de Caliban por não ver seu rosto no espelho”. Estranhamos ao nos depararmos com nossa própria feiúra.

Todos queremos um amor pra cuidar, mas nos fundo temos medo. Somos medrosos e indiferentes. O ápice de nossa época é citado por Capelatto como sendo o caso de uma pessoa que fica com alguém que quase despreza, e mantém idealizada a figura que se tornou platônica por nossa covardia. Temos medo de conquistá-la e perdê-la dali um tempo. Sou bom o suficiente? Será que se aparecer alguém com uma Ferrari ela vai preferi-lo?

Somos inseguros, esse é o problema. Nos entregamos a esses amores que não temos medo de perder. Fazemos nossos dramas, mas no fundo é indiferente. Mantemos idealizada uma figura que nunca vamos buscar por medo.

Talvez seja esse o motivo da angústia no olhar de Julia Roberts no final do filme.

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