13 março 2006

Aos que não me entendem

"Todo mundo é saudavelmente pretensioso a ponto de pensar na posteridade de seus próprios escritos. Ninguém escreve para si mesmo. A necessidade é egoísta, como se fosse preciso escrever para continuar a viver menos amargamente, mas a intenção é que os outros leiam".
Essa é a primeira frase do primeiro texto que publiquei nesse blog, no dia 12/10/2005, mais de 16 mil palavras atrás (o word me ajudou a contar). Faço algumas outras considerações:
As pessoas carregam em si convicções e sentimentos particulares que algumas vezes coincidem com o de outras pessoas. Na maior parte das vezes, o encontro de idéias e convicções se dá de forma superficial; a esse encontro dá-se o nome de sociedade: agrupamento de gente superficial com sentimentos e convicções superficiais. Dentro de uma sociedade existem subagrupamentos de sentimentos e convicções: partidos políticos, igrejas, times de futebol etc. Nesses agrupamentos, em grande parte, as convicções e sentimentos são manifestados através de um símbolo ou totem: sigla do partido, jeito de se vestir, camisa do clube etc.
O gesto de escrever naturalmente nos limita a um grupo de pessoas que, se não compartilha dos mesmos sentimentos e convicções, os respeita. Nunca quis que ninguém me entendesse. Escrevo para não me sentir sozinho. Quando digo que a idéia é que os outros leiam, digo a verdade: qualquer um pode ler. A internet assim o permite.
Mas querer monitorar minha vida através de minhas cismas é um gesto tacanho. Embora vejamos muito do estado psíquico de uma pessoa através do que ela escreve, minhas cismas não são o resultado de um exame de sangue para saberem como está minha saúde. Minhas cismas não são o prelúdio de nada.
Um dos grandes prazeres de escrever é ouvir: "putz, eu entendo..." ou "é exatamente da mesma forma comigo". Se a limitada sensibilidade de algumas pessoas não lhes permite entender o que são minhas cismas, infelizmente o caminho é buscar na sociedade - agrupamento de gente superficial com sentimentos e convicções superficiais - um símbolo ou totem qualquer.

Quando eu achar que é interessante alguém saber, eu digo quem é S. ou pra quem escrevi o texto "Não". Se limitem a possibilidade de sentir algo como eu sinto, não em saber por que ou por quem eu sinto.
E quando me fizerem perguntas e as respostas forem diferentes das coisas aqui escritas, entendam: é reflexo da sociedade em que vivemos. E se eu disser que meu celular molhou em vez de dizer que o joguei na parede, não pensem "ó meu deus, ele está mentindo porque amanhã ele vai se matar". Não. Pense naqueles momentos de revolta pelo qual, aposto, todos passaram, mas não tiveram coragem de fazer o que queriam. Tão pouco de escrever com certa naturalidade sobre isso e todas as paixões frustradas, os amores impossíveis, as revoltas contidas, as indiferenças e a falta de vontade.

Eu ia desistir da idéia de ter um blog por esse desconforto causado por perguntas inoportunas. Mas não. Quem não conseguir conviver com as minhas cismas e a minha pessoa (pessoa - do grego persona: máscara), abandone ao menos as minhas cismas.

P.S.
Quase agora eu estava cagando. Sim, sim... fazendo cocô. Pensei: escrever é como cagar; é botar pra fora coisas às vezes sujas. Há um acordo tácito entre todo ser humano de que ninguém caga. Eu não vou me levantar de uma mesa e falar: vou cagar. Todos ali já sabem e raramente comentarão isso. Os teólogos de antigamente discutiam a possibilidade de os santos cagarem ou não... imaginem só: Jesus cagou!

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