21 janeiro 2006

Retrato quando entediado

Sou original em todas as minhas personalidades.
Não sei se a dor manifestada poucas vezes – grande parte em textos - é mais ‘verdadeira’ que a euforia boêmia, se o silêncio contemplativo é mais ‘sério’ que as frases cínicas, se o amor à primeira vista é mais ‘intenso’ que aquelas paixões tímidas que duram dias, semanas, meses, anos, vidas.
Aos que dizem que quase tudo em mim é totalmente mentira, responderia que é parcialmente verdade.
Tenho uma mania horrível de querer decifrar-me. Se não me decifro, me devoro.
Faço de tudo uma arte cênica e cínica. Do amor, uma crucificação. De uma noite regada à cerveja e whisky, uma apresentação de circo onde sou o mágico, o palhaço, o acrobata. Do fim da noite, um apocalipse. Transformo a ressaca numa inquisição.

Bebo sim, tô vivendo, tem gente que não bebe tanto e cai mais que eu e fica mais chata. Fumo quando dá na telha ou mesmo quando nasce no chão. Pago tudo com dinheiro ganho da minha escravidão voluntária que chamam trabalho.
Quando vi um filme em que Modigliani, bêbado, dançava sozinho em volta da estátua de Balzac com uma garrafa de vinho na mão (cena, no filme, testemunhada por Renoir), achei aquilo de uma poesia além de tudo... Fiz da minha vida exageros desse tipo. Provo com a própria pele a idéia do Wilde de que a Vida imita a Arte.Saio de casa recitando Leminski: “Um homem com uma dor, é muito mais elegante. Caminha assim de lado, como se chegando atrasado, andasse mais adiante”. Vomito cantando Cazuza: “Da privada eu vou dar com a minha cara de panaca pintada no espelho, e me lembrar, sorrindo, que o banheiro é a igreja de todos os bêbados. Eu ando tão down”. Acordo sussurrando Bukowski: “quatro e meia da manhã... os trabalhadores vão se levantar, e eles vão procurar por mim no estaleiro e dirão: "ele tá bêbado de novo", mas eu estarei adormecido, finalmente, no meio das garrafas e da luz do sol, toda a escuridão acabada, os braços abertos como uma cruz, os passarinhos vermelhos voando...”.
A grande maioria das pessoas pinta a própria mediocridade como sendo ‘originalidade’, ‘autenticidade’. Eu não! Confesso que sou mistura das coisas que imagino com as que li, vi, ouvi, senti, as pessoas com quem vivi, dancei, transei, bebi, dormi, acordei.
Sou as coisas porque me apaixonei.
Sou as coisas por que me apaixonei. Sou neo-surreal/impressionista/romântico samba/bossa/rock. Me apaixono com minhas 117 bocas, 313 mãos, 411 orgasmos, centenas de livros lidos, milhares de músicas ouvidas, meu bilhão de palavras, minha fazenda de rosas e orquídeas roubadas, castelos de cartas marcadas, garrafas quebradas, histórias de bar, cortinas de fumaça, amigos loucos, bêbados, geniais, Van Goghs pendurados no teto, girassóis plantados em garrafas de Red Label (keep walking!!!), cães adestrados trazendo bandejas com drinks fluorescentes, gatos voando assoviando a 9º de Bethoven...

E quem não gosta, sai de perto que sou espaçoso.

Assinado, gritado e manifesto,

FEBRIO EBRÍCIO

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